5.4.08

FC Porto 07/08, o Campeão Inteligente

ver comentários...
4-3-3 o sistema manteve-se no papel mas houve algumas dinâmicas que se alteraram, sobretudo no que respeita à mobilidade do trio ofensivo.
Princípios de jogo Também sem alteração em relação a 06/07, com Jesualdo a reproduzir o essencial do modelo. Uma equipa que faz dos momentos de transição o seu ponto forte. Na transição defensiva, um notável sentido posicional colectivo que permite à equipa encurtar progressivamente as linhas de passe, forçando os adversários ao erro. Na transição ofensiva a ordem é tirar a bola da zona de pressão, normalmente com uma mudança de flanco que proporciona a um dos elementos da frente condições para criar desequilíbrios. Ainda neste momento, destaca-se a preparação da equipa para surpreender no momento da conquista da bola, mantendo um dos extremos aberto sobre a ala.
A novidade táctica – Colectivamente a novidade face a 06/07 esteve na introdução de uma frente mais móvel. Foi a forma de Jesualdo responder à dificuldade de encontrar um 9 que se enquadrasse no perfil desejado e os benefícios foram enormes. À excepção de Quaresma todos os elementos se deram bem com esta maior mobilidade do trio ofensivo, destacando-se, claro, a integração de Tarik e ainda a maior possibilidade oferecida para as integrações ofensivas de Bosingwa sobre a direita.
A equipa inteligente – Quem acompanhou o campeonato perguntar-se-á por que motivo as equipas erram mais passes contra o FC Porto? A explicação está na forma inteligente como a equipa ocupa os espaços, reduzindo as linhas passe até ao erro do adversário. Esta notável capacidade explica, entre outras coisas, o porquê de não se ter sentido a ausência de Pepe. Se outras equipas portistas tinham na raça e na entrega pontos determinantes para a conquista de campeonatos, o Porto 07/08 quase não precisou de sujar os calções para levar a melhor sobre os adversários.
O treinador Este título não
pode ser descontextualizado da figura do seu treinador. O futebol do Porto é o futebol idealizado por Jesualdo Ferreira e ele é o principal responsável pelos méritos colectivos que se verificaram a cada jogo.
A figura (Lucho) Se o Porto foi elegância, inteligência e classe, Lucho é a personificação dessas características. Fantástica a forma como antecipa os destinos da bola no meio campo, percebendo depois, mais rápido do que ninguém, para onde ela deve seguir. Não gosta do contacto (nem precisa, na maioria das vezes), mas deve ser dos jogadores mais inteligentes do futebol moderno.
O goleador (Lisandro) Tirou enorme partido das funções a que foi destinado em 07/08 e tornou-se num goleador temível. Lisandro gosta de ataques rápidos e posicionamentos pouco fixos, seja como extremo ou ponta de lança e isso foi-lhe dado, mais do que nunca, em 07/08. Outro aspecto muitas vezes destacado em Lisandro e bastante determinante no processo defensivo é a forma agressiva e incansável com que exerce a pressão sobre o portador da bola. Fundamental para que o tal jogo posicional possa depois definir-se melhor.
O homem invisível (Paulo Assunção) Não é novidade, até porque já foi referido por vários elementos, Paulo Assunção é um dos elementos mais importantes no equilíbrio táctico da equipa. A sua função dentro do modelo de Jesualdo é definir o ponto de união entre a o meio campo e a linha mais recuada, ora acrescentando um homem à zona de pressão, ora mantendo o equilíbrio numérico na zona mais recuada.
As reticências (Quaresma) Se os anos anteriores mostraram um Porto quase “Quaresmodependente”, o 07/08 viu o Harry Potter perder peso no colectivo. O Porto de extremos bem abertos recorria-se em especial da inspiração individual de Quaresma, mas com a maior mobilidade introduzida pedia-se ao 7 mais capacidade para se envolver nos movimentos colectivos e, também, mais maturidade na gestão da sua posse de bola. Quaresma não deixou de ser um elemento altamente desequilibrador mas o seu jogo falhou na resposta a esta adaptação, mantendo-se fiel a um perfil mais individualista e, por consequência, mais errático. Um aspecto que definirá a que nível futebolístico poderá chegar a carreira de Quaresma.
A falsa questão Paralelamente à época brilhante no plano interno, 07/08 fica marcado pela desilusão que representou a eliminação na Champions. Os Dragões foram primeiros do grupo (é verdade, muito à custa dos deslizes do Liverpool) mas esse feito não teve seguimento nos oitavos de final. A frieza do desfecho frente ao Schalke precipitou uma série de conclusões fatalistas sobre uma suposta falta de estaleca europeia do FC Porto. Chamo-lhe “falsa questão” por considerar que essas conclusões não podem ser tiradas de 210 minutos em que ficou patente uma evidente superioridade do futebol portista. Para ombrear de igual para igual com os “tubarões” do futebol europeu, ao FC Porto falta ainda um patamar que se compreende pela disparidade de condições e que, em boa verdade, dificilmente poderá ser atingido de forma sustentada (o exemplo foi o que aconteceu à equipa portista na sequência da conquista de 2004). Se é verdade que a equipa tem denotado incapacidade para lidar com os momentos em que a força dos adversários obriga a baixar o seu bloco, também me parece evidente que o caminho passará sempre por uma evolução dentro do modelo já existente e não por uma obrigatória alteração táctica que, aliás, já foi tentada sem sucesso em jogos de maior importância.

AddThis