- O primeiro ponto tem de servir para dizer que me equivoquei. Esta meia final não tem a importância que lhe quiseram atribuir mas, ao contrário do que projectei, demorará muito tempo até que se possa confundir entre tantos outros dérbis. Será muito difícil que se apague da memória de quem a viu, nem que seja porque os sportinguistas farão questão que isso aconteça. Aliás, não sei se houve algum dérbi com 6 golos em 25 minutos de jogo!
- Nos “onzes” algumas novidades. Do lado do Benfica, Di Maria foi a surpresa ao lado de Nuno Gomes, não significando isto que Chalana alterasse o sistema. Outra especificidade foi a fixação de Rodriguez a interior esquerdo, com Rui Costa declaradamente a 10, ao contrário do que vinha acontecendo. No Sporting, fica a questão do porquê do recuo de Veloso para central. Gladstone não estava apto para 90 minutos? Corria risco de agravar a lesão? Ou mera opção? Assim, “saltou” Adrien para o vértice inferior do losango. De resto, não fiquei minimamente surpreendido com a presença de Djaló, Romagnoli e Vukcevic nas opções iniciais. Em termos físicos eram aqueles que acusavam (teoricamente) menor desgaste.
- O jogo começou equilibrado, com algum ascendente territorial do Sporting, sobretudo quando as jogadas eram disputadas no “miolo”, mas sem brilhantismos de parte a parte, quer no que respeita à posse de bola, quer no que respeita ao controlo do meio campo adversário. As equipas pareceram, aliás, pouco confiantes para arriscar um jogo mais trabalhado em posse, recorrendo a solicitações mais directas sempre que eram pressionadas.
- Nesse período inicial, apareceram 2 aspectos fundamentais para a definição do primeiro tempo. A dificuldade da transição defensiva do Sporting em controlar a mobilidade e inspiração de Di Maria (enorme primeira parte) e as dificuldades do Sporting em resolver adequadamente os batimentos longos de Quim. Adrien não se impôs nesta tarefa e a bola era muitas vezes disputada nas suas costas, expondo assim a zona mais recuada do Sporting.
- O primeiro golo surgiu aos 19’, precisamente de um batimento longo de Quim que Veloso, não só perdeu para Nuno Gomes, como permitiu (por ter escorregado) que o avançado se virasse. Adrien, não esteve mais uma vez bem na cobertura daquela zona neste tipo de lances, mas o golo tem muito de mérito de Rui Costa e Di Maria e também alguma culpa para a desconcentração de Abel que, focado em Nuno Gomes, mas não na jogada, desfez a linha de fora de jogo.
- A reacção ao golo viu-se em 2 aspectos. Maior recuo do bloco encarnado e desequilíbrio dos níveis de confiança, com o Sporting a acumular mais erros individuais. O Sporting começou por pressionar mais, mas depressa sentiu a ameaça do espaço que concedia atrás, sempre com Di Maria em foco.
- De uma jogada de insistência surge o segundo golo do Benfica, com o corte de Veloso a fazer aquilo que o meio campo do Sporting menos gosta – uma viragem de flanco. A categoria de Léo e Rui Costa construíram sem problemas o golo que Nuno Gomes confirmaria, perante a evidência de que as debilidades de Veloso no jogo aéreo dificilmente poderiam fazer dele um central ao nível com que actua no meio campo.
- Dos 30’ aos 40’ o Benfica dominou, perante um Sporting atordoado e já com Izmailov no lugar de Adrien, recuando Moutinho para a posição de “pivot” defensivo – o Sporting passou a ter, de novo, uma referência para a posse de bola e, também, mais largura e agressividade no flanco. Os “leões” acordaram com um lance de perigo nos últimos 5 minutos do primeiro tempo e iniciaram um período de domínio que se iria estender ao segundo tempo, onde, apesar do ascendente, até aos 60’ não conseguiu ser verdadeiramente ameaçador.
- O momento (ou a sucessão de momentos) do jogo surge aos 60’. Moutinho envia a bola à trave e faz a equipa e o estádio perceber que o Benfica deixara de ter uma postura activa no jogo. A equipa encarnada perdia sucessivamente a bola, ora porque a aliviava, ora por apatia da sua posse de bola, ora porque os batimentos longos de Quim se direccionavam agora para uma zona francamente pouco povoada por camisolas encarnadas, vencendo o Sporting, senão as primeiras, pelo menos as segundas bolas, saindo a jogar. Outro aspecto era a pressão do bloco, quase nula. Permitindo assim que a bola chegasse rapidamente às imediações da sua área. O Sporting percebeu aí que se acelerasse o Benfica tremeria e foi isso que aconteceu. Pelo meio, 2 substituições importantes. A saída do desinspiradissimo (fisicamente muito em baixo, tal como contra o Rangers) Romagnoli para a entrada do “vulcão” Derlei – uma injecção de crença. E, no Benfica, o eclipsado Di Maria foi rendido por Sepsi, que trocou com Rodriguez, para tentar, em vão, fechar pela esquerda.
- O momento psicológico inverteu-se totalmente aos 67’ com o 1-2. Mais uma vez a bola a chegar facilmente à ala e o trabalho de Vukcevic aproveitou depois um lapso posicional proibitivo da defesa do Benfica que não cobriu a linha de passe mais importante. O Benfica tentou reagir, ser mais pressionante e subir um pouco mais, mas aquele não era, em termos psicológicos, o momento mais fácil para o fazer. O Sporting estava mais agressivo e mais confiante, voltando a pressionar uma defesa numerosa mas pouco organizada colectivamente. O segundo e terceiro golos foram intervalados apenas por séries de 8 e 3 minutos, numa incapacidade total do Benfica para controlar fosse o que fosse.
- Não se pode dizer que o Benfica fosse infeliz. Na jogada seguinte recolocou-se em igualdade num momento de loucura do jogo que teria seguimento na baliza contrária, com o pontapé de Djaló.
- À segunda Paulo Bento não facilitou, introduziu Gladstone, e o Sporting passou a jogar com o relógio e o jogo tornou-se, em vez de louco, controlado, terminando com mais uma inspiração de Vukcevic, numa fase de compreensível descompensação encarnada.
- Nota final para o Sporting. Justamente conseguiu uma vitória épica, pela atitude e qualidade ofensiva dos últimos 30 minutos. Não escondeu as debilidades do seu jogo (as mesmas dos últimos jogos) que pode e deve melhorar se quiser ter alguma hipótese na final, mas soube tirar partido da incapacidade do adversário quando ela surgiu. Um detalhe importantissimo e que não esteve presente noutros momentos da temporada foi a força que Paulo Bento pode introduzir desde o banco.
- Nota final para o Benfica. Não se pode queixar da sorte. O jogo correu bem, chegando à vantagem com mérito mas na primeira ocasião e quando o jogo estava equilibrado. Teve qualidade para aumentar a vantagem e depois... uma enorme falta dela para a segurar. Uma equipa minimamente bem organizada, nos dias de hoje, não sofre 4 golos em 16 minutos sem ter necessidade de se expor defensivamente. O que assistimos foi a confirmação de uma equipa que não sabe reagir colectivamente aos momentos do jogo e com grandes problemas de concentração defensiva.
Não quero tornar-me repetitivo, mas não me parece (para não dizer que estou certo) que com Camacho o Benfica perdesse os 2 últimos jogos da forma que os perdeu, nem que consentisse 8 golos. Com Chalana a equipa passou a arriscar mais em posse de bola e a ser mais criativa, mas perdeu a concentração defensiva e o valor pelos detalhes, revelando agora igualmente não saber reagir a um momento de sofrimento no jogo. Foi, repito, uma saída altamente prejudicial para o Benfica... e, atenção, a época ainda não terminou!
Volto a reafirmar o que referi após o jogo com a Académica: se fazer um onze e escolher um sistema melhorasse, por si só, uma equipa (por muito acertadas que possam ser essas opções), não era muito difícil ser treinador...