- Começo pela estratégia da Briosa, ou melhor, do discurso do seu treinador que, tal como havia feito antes do embate com o FC Porto, se desfez em elogios ao seu adversário. Fico na dúvida se se tratou de um manhoso “amaciar de pêlo” ou de uma espécie de desculpa em antecipação. Ele saberá.
- Discurso à parte, Domingos montou uma estratégia que se distinguia pela compacidade do bloco e, sobretudo, pela linha defensiva muito subida. Uma opção que perante um adversário como o Benfica faz todo o sentido e explico porquê... É que apesar de terem um elemento excepcional do último passe – Rui Costa – os avançados do Benfica têm muitas dificuldades no aproveitamento dos espaços nas costas dos adversários. É uma questão de perfil, tanto Nuno Gomes e Cardozo são mais fortes a movimentarem-se no espaço interior. Aqui, não posso deixar de recordar Miccoli, um avançado que o Benfica teve recentemente e que era exímio neste aspecto.
- Na exibição do Benfica é, sem surpresa, possível apontar várias lacunas. Começando pela concentração individual que esteve em plano particularmente negativo e passando por uma sucessão de erros de abordagem aos lances. Depois o Benfica teve uma incompreensível incapacidade em ficar com a bola após pontapés longos de Pedro Roma, sendo por diversas vezes apanhado com a bola nas costas do seu meio campo. Outra lacuna importante e que já vinha sido evidenciada frente ao Paços (com o Boavista, o bloco demasiado recuado terá forçado a que houvesse outra movimentação) foi a ausência de movimentos que incluíssem a participação dos avançados na criação das jogadas ofensivas. Assim, torna-se mais fácil para quem defende, com referências fixas e sem permutas posicionais na zona central. Entre as opções de Chalana, nota negativa, evidentemente, para o equívoco do posicionamento de Binya sobre a direita.
- É óbvio que o desfecho trágico (para o Benfica) do jogo não era uma inevitabilidade e que a Académica usufruiu dos estímulos anímicos que o jogo lhe foi dando, mas não deixa de ser sintomática a forma como o este decorreu. O Benfica foi altamente ineficaz ofensivamente, é verdade, mas não teve momentos de verdadeiro domínio no jogo. Aliás, a Académica não só usufrui de oportunidades em todos as fases do jogo como o acabou a pressionar mais alto do que começara... o que faz a confiança aos jogadores!
- Entenda-se, esta derrocada não era, de forma nenhuma previsível, mas há aspectos que se podiam ler no que ficou do pós Camacho. Primeiro o grande mérito do Benfica sob o comando do Espanhol – a eficácia, nomeadamente nos lances de bola parada. Será que seria fácil ao Benfica manter essa característica com Chalana? Depois, a fase defensiva – também muito valorizada por Camacho – o Benfica preparava muito mais cuidadosamente as suas transições e essa diferença viu-se desde o primeiro jogo de Chalana com o Getafe. Chalana tenta dar outra dinâmica à fase ofensiva, mas mudar tanta coisa é muito difícil com tão pouco tempo de treino. Camacho era, na minha opinião, o principal responsável pela falta de imaginação ofensiva da equipa, mas, como o disse também na altura, parece-me que o timing da sua saída foi o maior prejuízo que o treinador terá dado à época encarnada.
- Finalmente, não posso evitar comentar o excessivo entusiasmo causado pela exibição frente ao Boavista. Que isso se verifique nos adeptos, compreendo, agora que se estenda a quem tem responsabilidade de analisar o jogo, já acho menos normal. É verdade que o Benfica fez um bom jogo com o Boavista e que só por mera infelicidade não venceu, mas isso não faz do Benfica, de repente, uma equipa com grande qualidade. Aliás, dificilmente isso se comprova num só jogo (se não fosse outro, bastaria lembrar que este Benfica, venceu os axadrezados por 6-1 e nem por isso foi brilhante no que se seguiu). Por muito que concorde com o maior ajuste do sistema actual, o futebol não é uma ciência táctica, onde mudar de sistema faz, por si só, toda a diferença. Se fosse, qualquer um era um treinador de sucesso e todos sabemos bem como isso não é fácil...