Começo pelo inicio, pelo que se disse antes do jogo. Scolari arriscou tudo mesmo antes do jogo começar, afirmando que não valia estar com meias palavras, o jogos de preparação são para vencer. Uma imprudência? Talvez, tendo em conta o momento recente da Selecção e os jogos de preparação do passado – o sucesso ímpar de Scolari na Selecção deve-se à forma como as suas equipas responderam nos momentos chave, fazendo esquecer alguns jogos de preparação verdadeiramente lastimáveis – Lembram-se do pré Euro 2004?
Itália
Portugal defrontou uma Itália diferente daquela que venceu o mundial. Diferente nas unidades e diferente na estrutura. Sem um 10 e com 2 alas, a Selecção transalpina manteve a característica que sempre a caracterizou: perante um adversário que gosta de ter a bola, não teve problemas em baixar o bloco, à espera do momento para lançar as transições venenosas. Uma equipa comandada, mais do que nunca, pela influência de Pirlo na primeira fase de construção e, jogando tal como Portugal em 4-3-3, revelou a curiosa diferença na característica dos seus extremos. Que grande jogo fez Di Natale, partindo sobre a esquerda! O jogador da Udinese mostrou ao “país dos extremos” que há mais do que o drible, o cruzamento e a linha para quem joga como extremo. A inteligência das suas diagonais, a espontneidade dos seus remates, combinando com a precisão das solicitações de Pirlo puseram a cabeça em água à Selecção, que nunca encontrou forma de o parar – pela primeira vez em muito tempo Bosingwa viu-se à toa para parar um jogador que surgia (ou melhor, jogo de preparação – mas fica o sinal da importância de o fazer com muita seriedade em jogos a valer.
Portugal
Do lado de Portugal, o 4-3-3 do costume, mas com a pequena diferença de ter Ronaldo mais vezes a surgir pelo centro, abrindo o corredor ao ofensivo Bosingwa. De resto, o destaque vai para a experiência de Makukula na frente. Portugal não entrou bem no jogo, com uma pressão por vezes “cega” a ser aproveitada pelos italianos para alargar o seu campo de ataque. Mas depressa voltou ao seu estilo forte em posse de bola, empurrando os italianos para zonas mais recuadas. As suas movimentações ofensivas não funcionaram devido a alguma notória falta de entrosamento e rotina, mas a qualidade individual de alguns jogadores – particularmente Quaresma – acabou por ser suficiente para criar mais dificuldades do que os italianos desejariam. No final do primeiro tempo surgiram dois lances que marcaram o jogo. Primeiro, uma transição desperdiçada lamentavelmente pelo passe desastrado de Quaresma que Ricardo a dar a vantagem aos italianos. No segundo tempo tudo foi diferente. A saída de Deco provou mais uma vez que só em último caso se poderá substituir o “mágico” por jogadores como Ronaldo ou Simão. O resultado é um buraco no meio campo e a perda total de controlo sobre o jogo. Moutinho ou Tiago serão talvez as opções mais indicadas para essa tão problemática substituição. De resto, a sucessão de substituições tirou interesse ao jogo e a Itália justificou plenamente o avolumar do resultado, sendo sempre um conjunto colectivamente mais esclarecido durante o segundo tempo.
O Ponta de lança
Para mim, digo-o com toda a frontalidade, é um erro de casting. Makukula é forte fisicamente, rápido e finaliza bem quer com os pés, quer com a cabeça, mas não chega. Falta-lhe o principal, inteligência de movimentos. Num esquema como o da Selecção, penso que o 9 precisa de ter um perfil totalmente diferente, mais móvel, fugindo das zonas de finalização para que apareçam as diagonais de Ronaldo . Makukula pode ter um papel de recurso, numa fase em que seja preciso presença física na área, mas nada mais – qualquer das opções, Postiga, Nuno Gomes ou Hugo Almeida se enquadra, na minha opinião, melhor no perfil de jogo.
Quaresma
É um jogador desconcertante como se viu. Quaresma não pode ter, no entanto, na Selecção um papel idêntico àquele que tem no FC Porto. Não pode ser um jogador “à parte”, colado a uma das linhas e com pouca vocação defensiva. Scolari necessita de criar estratégias e prioridades de jogo que integrem e tirem partido das características do jogador que, por sua vez, tem de perceber o seu papel.
Lateral esquerdo
Jogaram Caneira, Paulo Ferreira e Jorge Ribeiro. É, já se sabe, um caso difícil de resolver para Scolari, mas a opção terá de ser enquadrada na forma de jogar da equipa. Portugal poderá adaptar alguns princípios às características da opção principal, mas terá de ser Scolari a criar essas rotinas porque elas não surgem de forma espontânea.