No lançamento da partida Jesualdo fez duas referências importantes. Uma ao carácter “guerreiro” que era necessário acrescentar à inteligência colectiva que é imagem de marca da equipa e, outra, à necessidade de não estar demasiado focado em defender e de ser também capaz de dar outra expressão ofensiva à sua performance. As palavras foram em meu entender sábias e revelam alguma reflexão sobre os males que afectaram a equipa em confrontos anteriores. Nelas há também uma espécie de “mea culpa” implícita no que respeita ao recorrente reforço do “miolo” por parte do treinador em jogos de maior grau de dificuldade.
Aspectos tácticos
A ausência de Bosingwa abria um dilema. Por um lado o Porto não tem outra opção que dê a mesma profundidade ao flanco direito, por outro o Schalke actua com 2 jogadores muito poderosos que caem preferencialmente sobre as alas. A opção de João Paulo, apesar de ser um improviso, parece-me fazer todo o sentido. Outro ponto táctico e que eu já tinha antecipado face ao que tinha acontecido nos Barreiros, foi o facto de Meireles ter actuado preferencialmente sobre a direita e Lucho sobre a esquerda. Confesso não ter percebido exactamente o propósito desta opção estratégica (Talvez aproveitar o espaço entre Rafinha e os centrais através dos movimentos de rotura de Lucho?), mas a verdade é que não resultou neste caso especificico, sobretudo em termos defensivos, mas não, como muito se disse, por causa de Rafinha. Rafinha desequilibrou e apareceu em 2/3 lances em todo o jogo, de resto ficou preso, tal como Quaresma, a um duelo individual um pouco à margem do próprio jogo. Finalmente aquele que me parece ser o principal erro de Jesualdo. Farias não me parece ter ainda mostrado suficiente (apesar de ter marcado com frequência em jogos de baixo grau de dificuldade) para que possa ser considerado uma mais valia clara do ataque portista. Particularmente neste jogo, parece-me que a equipa ganharia muito mais com a mobilidade de Tarik, Quaresma e Lisandro do que estar refém da característica de um avançado mais fixo como Farias, prendendo Quaresma à esquerda e colocando Lisandro sobre o centro-direita. É um “se” mas já tinha dado a minha opinião anteriormente e estou convicto que o Porto terá ficado a perder.
O jogo
Ao contrário do que se costuma fazer em jogos desta importância, não creio que a justificação da entrada errática do Porto no jogo esteja em qualquer nuance táctica. O jogo às vezes explica-se pelo simples facto de haver menor concentração de alguns jogadores e foi isso que aconteceu no inicio da partida. Fucile será neste aspecto o maior réu. Um erro na saída de jogo portista permitiu a transição alemã que aproveitou a desorganização momentânea do flanco esquerdo portista para fazer um desequilíbrio que resultou em golo. Os efeitos psicológicos deste momento eram quase inevitáveis e o Porto voltou a errar em posse de bola à saída do seu meio campo, permitindo mais uma ou outra transição alemã que poderiam ter resultado em novo golo. Nesta fase sentiu-se falta de concentração competitiva para um jogo a este nível e, ainda, alguma ausência do carácter “guerreiro” a que Jesualdo se havia referido. É que por vezes tem de haver maior agressividade e dimensão física nos duelos, recorrendo se necessário à falta em caso de haver um desequilíbrio eminente. O Porto não está habituado a essa exigência em Portugal onde a qualidade do seu jogo posicional é suficiente para o domínio a que assistimos, mas na Europa é diferente. Outro aspecto muito notado foi o facto dos desequilíbrios terem surgido preferencialmente sobre o lado esquerdo. Aqui Fucile voltou a estar mal, denotando dificuldade em lidar com as características de Kuranyi. Quer em termos físicos, quer pelos seus movimentos interiores. Foi curioso ver Kuranyi acompanhar Fucile até à direita, quando Jesualdo trocou os laterais. De resto, os desequilíbrios sobre este flanco parecem-me ter acontecido por alguma coincidência episódica das transições feitas pelos alemães, já que, como referi, Rafinha não criou muitos mais desequilibrios para além do lance do golo.
Aquilo a que estavamos a assistir era, ainda assim, um contra-senso tendo em conta a maior qualidade do futebol portista e o Schalke foi recuperando o respeito à medida que o Porto se conseguiu aproximar da sua área. Assim decorreu a tendência do jogo até ao intervalo. Com um 1-0 valioso, o Schalke optou por baixar o bloco e dar a iniciativa ao Porto que comandou o jogo durante todos os segundos 45 minutos, não criando, é verdade, muitas ocasiões, mas também não sendo eficaz nas poucas que teve. Por outro lado, o Schalke foi incapaz de ser perigoso em transição, talvez um bom sinal para aquele que será o tónico do jogo do Dragão.
Nota Final
Não tenho dúvidas sobre a superioridade qualitativa do futebol portista sobre o Schalke. Lembro-me no entanto de uma expressão de Mourinho no ano passado quando defrontou o FC Porto: “isto é Champions League!”. Ora o que isto quer dizer é que estamos a falar do futebol de topo ao nível de clubes. As diferenças são ténuas e o que define 180 minutos são, muitas vezes, os pormenores de cada momento. Nesse sentido, o Porto não pode cometer o desleixo de não entrar totalmente concentrado num jogo deste nível. O momento de baixa concentração competitiva que marcou os primeiros minutos do jogo pode ser ainda reparado, mas deve servir de exemplo porque... “isto é Champions League!"