Em Inglaterra vai um aceso debate sobre a proposta inédita de acrescentar uma jornada ao calendário, que seria jogada em 5 cidades diferentes espalhadas pelo mundo. A ideia da 39ªjornada tem como objectivo a extensão da competição a todo mundo, aproximando-se fisicamente do seu mercado real e, naturalmente, garantindo um volume de receitas fantástico – fala-se em 7,5 milhões de Euros por clube.
Obviamente esta proposta gera grande controvérsia. Por um lado os puristas, defensores dos valores tradicionais do futebol. Por outro estão aqueles que reconhecem os méritos da evolução da competição nos últimos anos, aumentando significativamente a qualidade do futebol do país e fazendo dele o melhor produto desportivo do mundo.
Pessoalmente não posso ser mais a favor das emoções que se vivem no estádio e da preservação de algumas das raízes do jogo. No entanto, é preciso que o futebol seja hoje visto e encarado como um espectáculo global, que interessa a todos, fazendo dele não só um jogo mas um negócio milionário. Negar esta realidade é o maior dos erros e quem insistir em fazê-lo vai continuamente sofrer as consequências de querer manter um jogo global preso a realidades e dimensões locais. O negócio do futebol global de hoje é decdido corporativamente, não individualmente, e esse foi o grande triunfo da Premier League sobre as demais competições domésticas da Europa. Foram as estratégias globais, com todos os clubes a perceberem que fora do campo os seus interesses são mais comuns do que opostos, que dinamizaram a competição desde a sua criação no inicio dos anos 90. O que se passa hoje é que a Premier League consegue a maior fatia de receitas do futebol mundial, fazendo com que os seus clubes consigam progressivamente investir mais e mais no futebol, aumentando inevitavelmente a sua qualidade. Se hoje ainda é possível comparar a dimensão futebolística do futebol inglês com outros campeonatos, a tendência é para que esta liga se torne na liga de elite do futebol mundial, com prejuizo para todos os clubes que não estão lá inseridos.
E Portugal?
Não posso deixar de fazer um paralelismo com a realidade Portuguesa onde os dirigentes permanecem mais concentrados nos objectivos desportivos de curto prazo do que em inverter a tendência de perda de competitividade em relação às principais ligas europeias. A cada pergunta sobre esta situação assistimos a um repetitivo encolher de ombros dos principais responsáveis dos clubes, apelando ao eterno lamento da dimensão reduzida do nosso mercado. Se esse é um facto inegável, porque não ajustam de uma vez por todas o modelo competitivo à dimensão do mercado?