Entre os confrontos dos oitavos de final havia a coincidência dos mais empolgantes duelos envolverem equipas Italianas. Neste aspecto o destaque vai naturalmente para o resultado entre Liverpool e Inter, já que foi o único que leva para a segunda mão uma diferença significativa para embates tão equilibrados. Um jogo marcado pela expulsão de Materazzi e pela ponta final dos ‘Reds’ e que poderá ter traçado mais um episódio de duas equipas com trajectos diferentes nos últimos anos. Um Liverpool em dificuldades nas competições domésticas mas com uma capacidade surpreendente no que respeita à Champions. Um cenário contrastante com o Inter que, após finalmente se ter tornado na potência dominadora do Calcio, não consegue traduzir esse estatuto ao nível Europeu.
De resto, e para além do inevitável Schalke – Porto, tive a oportunidade de acompanhar na integra dois jogos:
De resto, e para além do inevitável Schalke – Porto, tive a oportunidade de acompanhar na integra dois jogos:
Lyon – Man Utd
A estratégia das duas equipas parecia apontar para o empate a zero, já que este era um resultado que satisfazia ambos os treinadores. De um lado, um Lyon longe do explendor de um passado recente onde conseguia verdadeiramente ombrear com os colossos do futebol Europeu. A verdade é que a última revolução no plantel “Lyonnais” enfraqueceu de forma significativa a equipa, que hoje, não deixando de ser bem organizada está em termos ofensivos demasiado dependente do prodígio de Bezema (um grande e promissor jogador) ou dos livres do genial mais já bastante veterano Juninho. A estratégia do Lyon passou por cometer o menor número de erros possíveis, sem problemas em entregar a posse de bola ao United para depois esperar por um lance de inspiração de um dos seus jogadores. Do outro lado um United com meio campo reforçado com Anderson, Scholes e Hargreaves, deixando as responsabilidades ofensivas para o trio Ronaldo, Rooney e Giggs, denotando que Ferguson esperaria um jogo onde pudesse actuar em transição, o que não aconteceu.
O resultado de tudo isto foi um jogo muito parado e com poucos riscos durante muito tempo. Apenas no segundo período, e numa fase em que o United começava a dominar, surgiu o golpe que mudaria o cariz do jogo – o golo do Lyon, vindo de um lance de inspiração de Benzema. O United foi obrigado a reagir perante o resultado adverso. Ferguson lançou Tevez e Nani e, aí, viu-se o verdadeiro potencial da equipa. Mesmo contra uma equipa toda atrás da linha da bola o Manchester conseguiu criar lances de suficiente embaraço que justificassem o empate. Nota para os substitutos Tevez e Nani. Tevez é um vagabundo combativo de extrema utilidade e que dá outra dimensão ao jogo ofensivo do United. Recua para combinar, atacando depois a zona de finalização onde também se sente muito confortável. Nani, com poucas intervenções, revelou-se um jogador que desequilibra muito facilmente sobre a ala. Começo a perguntar-me se Scolari não deve repensar um modelo que tire melhor partido das nossas melhores individualidades onde, não tenho dúvidas, Nani se inclui.
Arsenal – Milan
Ao contrário do Lyon – Man Utd o nulo, que acabou por ser o resultado do jogo, não servirá muito a nenhum dos dois.Por um lado o Arsenal quereria, naturalmente, levar para San Siro uma vantagem que lhe permitisse respirar melhor. Por outro o Milan tem muito por onde desconfiar de si e deste resultado. Esta tem sido uma época de empates para os “rossoneri” e se esse for o caso, mais uma vez, na segunda mão, então o Milan provavelmente ficará desde já afastado da revalidação do título.
Tacticamente é quase redundante falar das opções, de tão previsiveis que eram. O 4-4-2 “à Arsenal” e o “Christmas tree” de Ancelotti, com Pato na frente. Quanto ao Milan já se sabe, bloco defensivo pressionante com a influencia da combatividade de Ambrosini e Gattuso e da qualidade de Pirlo e Seedorf, mas num jogo destas características, as esperanças ofensivas foram depositadas exclusivamente na qualidade que Kaka e Pato poderiam dar às transições que o Arsenal proporcionasse.
Mas é do Arsenal que apetece falar. É uma equipa de facto empolgante que consegue ser forte em todos os momentos do jogo e que, na minha opinião, mais passa a ideia de um “futebol total”. Todos os jogadores atacam e defendem, não só de uma forma reactiva mas de uma forma pró activa. A equipa joga em 4-4-2 no papel mas é quase uma ofensa falar de posições fixas numa equipa que impõe tanta dinâmica. Um dos pormenores mais interessantes está nos movimentos dos laterais sempre prontos a criar desequilíbrios sobre os flancos, mesmo quando assistimos às constantes mudanças de flanco – naturalmente aqui há que destacar também a rapidez com que é desempenhado o papel inverso pelo lateral responsável por manter o equilíbrio defensivo. De resto o jogo dos “Gunners” oferece-nos constantes permuntações de posições entre avançados, alas e médios sendo até difícil perceber como conseguem manter a organização com tanta dinâmica. Colectivamente, um espectáculo!
Enfim, o Milan lá terá escapado a um jogo que não foi desequilibrado mas que o Arsenal fez o suficiente por merecer ganhar. Faltará aos “Gunners” algumas alternativas individuais de melhor qualidade para dar outra expressão à sua qualidade colectiva. Não sei como será a segunda mão, mas por favor não digam que o resultado foi controlado pelo italianos, porque não foi.