8.2.08

Crises e crises

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“Crise” – parece, mais do que nunca, uma palavra de relevo no léxico do “futebolês”. Benfica e Sporting são motivos de atenção dos “media” durante todo o ano e, em tempo de maré baixa não cessam as análises e especulações sobre tudo o que possa estar mal no futebol destes clubes. Como é habitual, também, nestas alturas, as quatro linhas tornam-se pouco interessantes e, por isso, os dedos apontam sobretudo para fora delas.

A verdade é que se a “crise” de que tanto se fala tem génese comum –os resultados desportivos – aos dois vizinhos de Lisboa, a essência dos problemas de fundo do seu futebol é bastante diferente. Meia dúzia de vitórias em jogos importantes encarregar-se-iam de retirar (ou pelo menos aligeirar significativamente) o peso da “crise” dos respectivos clubes, mas os problemas reais continuarão por lá até que novamente o futebol se encarregue de os realçar. Mas vamos às diferenças que vejo entre as “crises” reais – porque, como digo, o resto é essencialmente futebol.

Benfica
Desde a entrada de LF Vieira no Benfica que o clube passou a viver tempos de muito maior saúde económica e financeira. Este é o principal – e muito importante – mérito da gestão do presidente. Entre campanhas e acções de mobilização – com alguns episódios menos felizes pelo meio – o Benfica conseguiu voltar a tirar partido da sua dimensão, sendo hoje capaz de gerar receitas que lhe permitem uma grande capacidade de investimento no futebol – como fica patente pela facilidade com que se gastam milhões em contratações. O problema vem a seguir. Época após época há uma ausência de rumo com as decisões a não seguirem uma orientação da estratégia definida. Aspectos fundamentais das temporadas a serem decididos em cima da hora, mudanças de treinador à 2ªjornada e aquisições descontextualizadas com um modelo de jogo têm sido exemplo daquele que me parece o principal problema do Benfica – a gestão do futebol.

Sporting
Ao contrário do Benfica, os problemas do Sporting não me parecem estar na política do futebol. Com meios bem mais reduzidos, os leões têm conseguido competir a um nível elevado e, nos últimos 3 anos esta é a primeira temporada em que no campo desportivo existe uma diferença realmente acentuada para um dos seus competidores. O problema do Sporting é bem mais grave do que o do Benfica, na medida em que não pode ser resolvido de um ano para outro ou pela simples troca de personalidades. Em Alvalade geram-se menos receitas do que na Luz ou no Dragão e o Sporting não soube, nos últimos anos, dinamizar a sua actividade ao ponto de tirar maior e melhor partido das potencialidades oferecidas pela dimensão da sua massa adepta. Juntando este problema à famosa questão do passivo – que retira possibilidade de investimento – os recursos disponíveis para contratar ou sustentar jogadores são manifestamente inferiores a FC Porto e Benfica. Restam a Academia e a capacidade – que este ano tem faltado – do corpo técnico para tirar o melhor partido dos recursos existentes.

Nota final para o outro grande, o FC Porto. É o principal responsável pela “crise” de que todos falam. Não querendo retirar qualquer mediocridade ao campeonato de Benfica e Sporting, imagine-se um Porto menos dominador este ano. Em vez de “crise” teríamos um campeonato “competitivo”, bem ao estilo do que aconteceu em 04/05. É a volatilidade do futebol!

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