9.3.11

Estatística ofensiva na Liga: uma outra visão

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Um dos motivos - provavelmente o principal - pelo qual a estatística é tão ignorada no futebol, é porque é mal utilizada. Usam-se indicadores errados para explicar tendências e, como estes obviamente falham nesse objectivo, cria-se o mito de que a "estatística não se aplica ao futebol". Como se o futebol fosse diferente de tudo o resto que se passa na Terra. Um perfeito disparate, claro.

Desequilíbrios ofensivos: um indicador explicativo
Em relação aos aspectos ofensivos, normalmente o erro habitual é recorrer às finalizações como métrica fundamental. O problema é que esse é um indicador pouco explicativo, estando demasiado dependente do estilo de jogo de cada e equipa e não tanto da proximidade real com o golo. Nesse aspecto, não há nenhum indicador "standard", utilizado de forma comum, que explique as tendências dos jogos.

Pessoalmente, e nas centenas de jogos que tenho analisado, utilizo aquilo que chamo de "desequilíbrios ofensivos", tentando distinguir o número de vezes em que as equipas se aproximam com o golo.

Comparando a evolução dos 3 "grandes" na liga, é possível identificar as diferenças de rendimento entre as equipas, nomeadamente as fases de maior fulgor de cada um deles. Note-se, porém, que este indicador apenas nos dá a parte ofensiva das equipas.

Eficácia: os sofismas de Benfica e Sporting
Uma das lapsos mais sistemáticos tem a ver com a forma como é percepcionada a eficácia das equipas, tanto pela critica, como pelos próprio intervenientes do jogo. E, nesse campo, deixo 2 exemplos desta temporada:

- Sporting e as bolas ao poste: Foi a primeira desculpa da "era Paulo Sérgio". Que o Sporting enviava muitas bolas ao poste, e que isso explicava a diferença para a concorrência. Ora, como se pode ver, o número de desequilíbrios ofensivos do Sporting foi sempre inferior aos de Benfica e Porto, pelo que a equipa andou sempre mais longe do golo do que os seus rivais. Talvez o Sporting tivesse, sim, uma eficácia invulgar de acerto nos postes, mas isso não quer dizer que tivesse criado mais oportunidades do que os outros.

- Benfica e a eficácia: é uma estatística recente. "O Benfica é a equipa mais eficaz"! Não é. Aliás, o Porto arrancou na liga com uma eficácia tremenda de aproveitamento em relação às ocasiões criadas, e se há aspecto em que ofensivamente a equipa de Villas Boas é marcadamente superior à concorrência, é na eficácia.

Porque se concluiu então que o Benfica é mais eficaz? Não foi nenhum erro de cálculo, mas, de novo, a sobrevalorização das finalizações. O que se passa é que o Benfica finaliza menos de fora e, por isso, tem menos finalizações tentadas do que Porto e Sporting, fazendo subir a sua eficácia em relação às finalizações. Se contarmos a eficácia em relação aos desequilíbrios criados, aí sim, compreendemos melhor a história deste campeonato.

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