21.6.10

Diário de 'Soccer City' (#11)

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Mais um dia com motivos de sobra para reflectir. O “climax”, claro, teve lugar em Joanesburgo no jogo que culminou numa pequena prenda dos brasileiros para a Selecção portuguesa. No entanto, creio, não menos interessante é olhar para o que aconteceu algumas horas antes, entre Itália e Nova Zelândia. Será difícil alguém ainda se surpreender com o que quer que seja nesta prova, mas será interessante entender o porquê de tantos problemas dos campeões do mundo para bater uma formação tão fraca como os “All Whites”. Nem que seja porque deve servir de exemplo para o que Portugal terá pela frente, é por aí que quero começar.

Se ninguém duvida das diferenças de qualidade entre os jogadores de uns e outros, como se pode então explicar as dificuldades por que passaram os italianos? Bom, seguramente que há vários aspectos a abordar, mas há um que me parece especialmente importante para o sucesso neste tipo de embates: o pressing. Pode parecer estranho escolher concentrar-me no que a equipa faz sem bola, quando não pode haver tipo de jogo mais fácil para se ter a bola. O que acontece, porém, é que perante adversários dispostos a esperar lá atrás, o mero facto de se atacar apenas em organização já é uma importante vitória para quem defende. O caso da Nova Zelândia, aliás, é paradigmático. Uma equipa que defende mal, cometendo vários erros de abordagem individual e colectiva, e que ainda para mais nem tem uma estratégia especialmente conseguida em termos defensivos, “afundando-se” quase que instantaneamente na sua grande área. Ainda assim, atacar sempre contra tanta gente atrás da bola pode ser um sarilho.

É por isso que neste tipo de embates é fundamental forçar outro tipo de jogo e criar desconforto no adversário. Adiantar linhas e pressionar toda e qualquer saída de bola. Afinal, se a diferença está na qualidade técnica, é bom que seja por aí mesmo que se acentue as diferenças. Se o pressing for bem conseguido – como tem a obrigação de ser - provocará um dilema permanente do lado contrário. Ou arriscar pouco, jogando mal e entregando a bola, ou tentar fazê-lo em apoio mas assumindo o risco de uma perda comprometedora. Em qualquer dos casos, o perigo do erro estará sempre presente e o sufoco acontecerá desde o primeiro minuto. Isto foi (entre outras coisas, é certo) o que a Itália não fez frente à Nova Zelândia, e o que Portugal tem de fazer desde a primeira hora frente aos Coreanos. Mesmo que isso implique algum risco posicional. Isto é, também, o que as melhores equipas do mundo fazem perante os adversários mais modestos. Porque esperar para atacar, hoje, já pode não bastar.

Finalmente, o Brasil - Costa do Marfim. Sem surpresas, a Costa do Marfim voltou a repetir a receita e, sem surpresas também, o Brasil sentiu dificuldades idênticas a Portugal até o jogo se abrir. A diferença, é claro, esteve no detalhe e na qualidade com que individualmente os brasileiros se desembaraçaram do problema.

Acho curiosa a forma como Dunga “desenrascou” o seu modelo táctico. Quase que diria que ao não conseguir optimizar a equipa como um só bloco, resolveu decompo-la em 2. Definiu 6 jogadores defensivos e libertou 4 para o ataque. Quando dá para fazer tudo em conjunto, muito bem, mas quando não dá é preferível que a equipa se parta desta forma, do que arrisque tentar fazer tudo num só conjunto. Por um lado, os 6 de trás são suficientes para garantir equilíbrio defensivo em qualquer situação. Por outro, os 4 da frente têm talento de sobra para resolver um jogo em qualquer jogada, sobretudo se for em transição, que é como a equipa mais gosta de jogar. Em termos tácticos, não há nada de brilhante nisto, e só é possível ter sucesso com a qualidade dos recursos em causa e, já agora, com a natureza da própria competição. A verdade, tudo somado, é que não vejo equipa que possa estar tão perto da Espanha na lista de favoritos.

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