13.10.08

Suécia - Portugal - Entre o bom e o mau

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Razoável– Bom ou mau são apreciações relativas que dependem das circunstâncias. É verdade que empatar na Suécia, ou melhor em casa a um adversário directo para o apuramento, é, à partida, um bom resultado, mas, neste caso, “bom” parece-me uma classificação excessiva. Primeiro, porque o empate apenas dá boas condições a Portugal para vencer no confronto directo com a Suécia, mas não representa forçosamente a recuperação do terreno perdido para a Dinamarca. Depois porque, muito objectivamente, Portugal é superior a esta Suécia. É claro que o factor casa tem um peso relevante, sobretudo em confrontos internacionais, e que a diferença de valores não é tão grande ao ponto de se tornar “obrigatória” a vitória. A apreciação que faço, no entanto, leva-me a concluir que Portugal apenas poderia ter trazido um resultado realmente “bom” da Suécia se tivesse feito também um “bom” jogo para as suas potencialidades. O que aconteceu foi apenas “razoável” e essa é também a classificação que deve ser dada a este resultado.

As estratégias – Em relação às antevisões que havia feito, houve apenas 1 diferença nas duas equipas. A presença de Hugo Almeida. A Suécia confirmou a mudança de sistema, com o regresso ao 4-4-2, mas a manutenção dos princípios, particularmente a anunciada intenção de ter sempre os avançados como referência prioritária para o seu jogo ofensivo, recorrendo muitas vezes mesmo a uma abordagem directa. Portugal, por seu lado, apresentou-se com Meira estrategicamente utilizado à frente da defesa, mas com Hugo Almeida a fazer de 9. Se no caso de Meira, julgo tratar-se de uma leitura inteligente de Queiroz que teve efeitos positivos na partida, a presença de Hugo Almeida não me parece ter sido tão benéfica. Este era um jogo em que Portugal poderia – como se verificou – usar a transição como principal arma ofensiva. Portugal utilizou Ronaldo muitas vezes como referência para esse momento, sobretudo sobre o corredor central, e creio que um jogador como Hugo Almeida, pelas suas características, não terá sido a melhor solução para este jogo. Um elemento com a mobilidade de Danny teria sido, parece-me, mais útil e teria dado outra imprevisibilidade ao ataque. São leituras que já havia aqui deixado antes do jogo e que saem reforçadas depois deste.

O bom – Deste jogo, na sua globalidade, destacaria dois aspectos em que Portugal esteve particularmente bem. O primeiro deriva da tal leitura correctamente feita por Queiroz ao colocar Meira à frente da defesa. Portugal não “secou” o ataque sueco mas conseguiu neutralizar a tal intenção de fazer dos avançados uma referência para a construção. Apenas no final, com o remate de Ibrahimovic, os suecos tiraram partido dessa sua solução ofensiva, tendo Meira (juntamente com os centrais) tido um papel preponderante nesse aspecto. Este tipo de solução é usualmente sujeita a algum preconceito por parte de adeptos e critica (se tivesse perdido, sei bem o que se diria...), mas este é um bom exemplo de como a sua utilização em certas circunstâncias pode ser benéfica.
O outro aspecto são as bolas paradas. Depois de ter sido eliminada do Euro e punida pela Dinamarca em lances de bola parada, Portugal passou num teste dificílimo nesta matéria. Os suecos usufruíram de diversos cantos, livres e mesmo lançamentos, onde são particularmente fortes. Portugal respondeu, finalmente, ao nível da qualidade que se lhe reconhece noutros aspectos do jogo. Aqui creio que a inclusão de Meira e Almeida terá sido importante (embora me pareça excessivo optar por avançado por este motivo em particular). Um bom sinal para podermos finalmente exorcizar este fantasma que vem assombrando a Selecção.

O mau – Controlando a zona que os suecos privilegiam para as suas acções ofensivas, Portugal tinha tudo para arrancar uma grande exibição. Mas não fez, sobretudo no primeiro tempo. Aponto, essencialmente 2 aspectos para o sucedido.
O primeiro, em termos defensivos. Portugal não fez uma boa pressão durante grande parte do jogo, nomeadamente na primeira parte. Os suecos saíam invariavelmente a jogar pelos centrais que iam trocando bolas entre si, num movimento previsível e que dava todas as condições para ser mais apertado. Não o foi e muitas vezes os suecos foram conseguindo ter a bola demasiado tempo, empurrando Portugal para zonas demasiado apertadas. Com Portugal a proteger bem o corredor central, foi pelas alas que se construíram as melhores ocasiões suecas, algo que facilmente poderia ter sido evitado porque não é esse o ponto forte do jogo sueco.
O segundo aspecto diz respeito à posse de bola. No primeiro tempo chegou a ser constrangedora a lentidão com que Portugal organizava o seu jogo, demorando muito a soltar a bola e dando oportunidade a que os suecos – sem fazer um pressing muito agressivo – conseguissem reduzir progressivamente as linhas de passe. A esta lentidão acresce ainda alguma desinspiração de alguns jogadores ao nível do passe, cometendo erros que permitiam à Suécia recuperar precocemente a bola. Este foi um problema que condicionou muito a exibição da primeira parte e que melhorou substancialmente na segunda onde, também, houve uma crescente perda de qualidade e concentração da Suécia, resultando nuns segundos 45 minutos bem mais conseguidos por parte dos portugueses.

Individualidades – Faço 4 destaques para além da já referenciada importância de Meira. Quim teve uma exibição positiva num jogo muito complicado para as suas características. Pepe foi, mais uma vez, excelente (terá ganho praticamente todos os duelos com Ibrahimovic). Meireles fez, provavelmente, o pior jogo que me lembro nele, com um número de passes errados anormal em si. Ronaldo regressou com uma exibição muito boa (pareceu mais maduro), embora em termos defensivos tenha sido muitas vezes um dos responsáveis pela tal menor capacidade do pressing.

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