30.1.08

Cardozo, Makukula e a gestão dos ponta de lança

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O ponta de lança é para o adepto português uma espécie de jogador à parte. Quase como se fosse um elemento distinto da restante equipa, exigem-se sempre golos ao 9 das equipas e são raras as vezes em que essa posição não é enumerada entre as principais lacunas da equipa nos momentos maus. As características que se exigem a um jogador que jogue nesta posição são rapidez, força, altura, técnica, sentido de oportunidade e capacidade para finalizar, seja com os 2 pés, seja de cabeça. Em suma, o jogador perfeito. Vem tudo isto a propósito da contratação de Makukula pelo Benfica.

Em Junho passado o Benfica fez uma das aquisições mais caras da sua história. Cardozo, jogador paraguaio e uma das maiores revelações da temporada na Argentina, veio para a Luz por vários milhões de euros e com um estatuto que, como é normal nestas alturas, fez as delicias dos adeptos que elevaram as suas expectativas em torno do jogador. Como Cardozo era um jogador ainda inadaptado à nova realidade (jogava num campeonato diferente e numa equipa que lutava para fugir à cauda da tabela), como o futebol português é um habitat complicado para os ponta de lança e, naturalmente, como Cardozo não é o jogador perfeito, as criticas depressa se direccionaram para o jogador, criando-se uma sequência de reacções contrastantes na própria imprensa. Ora era preciso encontrar uma alternativa a Cardozo, ora o “Tacuara” estava a ser seguido por vários clubes de top europeu, preparados para investir fortunas no jogador. Que tudo isto seja normal nos adeptos (e até na própria imprensa), eu compreendo, o que tenho mais dificuldade em compreender é como é que esta emotividade passa tão facilmente para as decisões de quem gere o clube.

Cardozo é um ponta de lança com características específicas, mais forte a jogar como pivot ofensivo do que a explorar os erros que os defesas cometem – nomeadamente para jogar nas costas destes. Dentro do perfil há muita qualidade e tendo em conta o tempo de adaptação que estas contratações requerem, exigia-se que um jogador que custa tantos milhões fosse escolhido para interpretar determinados princípios de jogo, adaptados às suas características. No Benfica isso não aconteceu e apesar do jogador até ter marcado um número considerável de golos, aparece agora uma contratação – 6 meses depois – que tem como objectivo ser alternativa a Cardozo.

Makukula é um portento físico. As suas características, no entanto, dificilmente poderão ser integradas de forma regular em simultâneo com Cardozo – a não ser que Camacho altere muito o “jogar” do seu Benfica. O que isto quer dizer, sucintamente, é que entre Cardozo e Makukula, um deles dificilmente se afirmará em pleno nos próximos tempos do Benfica.

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