21.11.13

Suécia - Portugal (II) - Análise individual

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Rui Patrício - Teve uma intervenção decisiva e sofreu dois golos, o que juntando a uma outra defesa importante na primeira mão, perfazendo uma eficácia de 50% nas ocasiões claras de golo que foram à baliza durante o playoff. Um aproveitamento positivo e dentro do que vem realizando no campeonato. A crítica, no entanto, surge no lance do segundo golo sueco, o livre de Ibrahimovic. Pessoalmente, parece-me que apesar de ser um remate violento e a uma curta distância, o guarda-redes poderia de facto ter feito melhor. Primeiro, porque reage mal, tentando chegar com a mão a uma bola baixa. Depois, porque se a barreira terá tido uma influência negativa, quem faz a barreira é precisamente o guarda-redes, sendo pouco perceptível o porquê do posicionamento de Moutinho uma vez que não há na sua zona qualquer adversário. Aliás, este é o terceiro golo sofrido de livre directo por Rui Patrício num espaço de tempo muito curto, e se esta estatística dificilmente se pode prolongará, também é verdade que justifica alguma reflexão. Por exemplo, no caso do golo sofrido no livre Cardozo, também me parece que o facto da barreira ter saltado foi uma má decisão, pouco ajustada ao perfil do marcador, que raramente opta por bater em jeito. Enfim, situações a corrigir...

João Pereira - Fez, a meu ver, o seu melhor jogo ao serviço da Selecção, e terá sido provavelmente a exibição mais subestimada em termos de mediáticos. Defensivamente, quase sempre bem posicionado, tal como no primeiro jogo aliás, o que lhe valeu algumas intercepções importantes já dentro da área. Aliás, só foi batido por Pepe no número de intercepções/duelos ganhos, o que é notável para um jogador com as suas características e num jogo onde o plano físico era tão relevante. Depois, em posse, foi "apenas" o segundo jogador mais influente, apenas superado por Moutinho. Realce, aqui, para a sua importância no inicio da transição, tendo completado 10 passes nesse momento táctico do jogo (mais uma vez, só Moutinho o superou, com 14). Finalmente, esteve envolvido nas 2 principais ocasiões da equipa na primeira parte, cruzando para uma finalização de Ronaldo e lançando ainda o mesmo Ronaldo no lance que seria mal concluído por Hugo Almeida.

Fábio Coentrão - Não dá para dizer que fez um mau jogo, mas se na primeira mão havia estado mais discreto do que é hábito, desta vez ter-se-ão notado ainda mais as suas limitações físicas. Alguma dificuldade nos duelos e mesmo no envolvimento em posse, raramente projectando-se na profundidade, abdicando de um espaço e de um movimento que normalmente faz dele uma arma ofensiva importante.

Pepe - Foi o jogador mais interventivo em termos defensivos, sendo dominador como é normalmente em todos os capítulos do jogo. No entanto, e sem que lhe possam ser apontados reparos de maior, também não foi um jogo onde tivesse conseguido um protagonismo excepcional, tendo em conta aquilo que normalmente consegue, que é quase sempre muito.

Bruno Alves - A sua exibição fica naturalmente marcada pela forma como abordou o lance do primeiro golo. Deixou-se envolver no confronto físico com Ibrahimovic e esqueceu a trajectória da bola, acabando por ficar no chão a ver o seu adversário cabecear. De resto, teve uma prestação positiva, sem que tivesse sido tão dominadora como no primeiro jogo, ganhando uns duelos e perdendo também outros. Foi dele o primeiro aviso, num lance onde era praticamente impossível fazer melhor.

Veloso - A meu ver, a avaliação dos médios defensivos é geralmente pouco rigorosa em muitos aspectos e parece-me que Veloso poderá estar a ganhar com isso, porque vem tendo prestações pouco conseguidas em diversas áreas. Se no primeiro jogo havia conseguido alguma eficácia na missão específica de auxiliar os centrais na neutralização de Ibrahimovic, desta vez isso não foi minimamente repetido. Teve dificuldades sempre que Ibra baixou e cometeu ainda um erro potencialmente decisivo no inicio da segunda parte. No total, conseguiu apenas 9 acções defensivas, o que é quase ridículo para quem joga na sua posição e num jogo deste tipo. Depois, a sua presença em posse voltou a ser também muito escassa, completando por exemplo menos de metade dos passes de Moutinho. É verdade que está normalmente bem posicionado e que tem reconhecidamente uma notável capacidade técnica, mas isso por si só parece-me de todo insuficiente, sendo preciso muito mais eficácia nas acções defensivas e também muito mais capacidade de envolvimento em posse. De que adianta estar bem posicionado se não se neutralizam as jogadas que entram na sua zona? De que adianta ter boa capacidade de passe, se não é capaz de se envolver no jogo?

Meireles - Não será um caso tão flagrante como o de Veloso, embora em termos mediáticos seja sempre mais destacado, mas é mais um jogador com grandes dificuldades em se impor no jogo. Tem boas aparições, claro, porque tem muita qualidade, mas a sua influência é muito descontinuada, sobretudo por não se conseguir envolver mais em posse. É um dos casos - com Coentrão, Veloso e Nani - cuja recuperação do momento ideal de forma me parece decisivo para que Portugal possa realisticamente sonhar com um Mundial ao nível do Europeu que fez.

Moutinho - A disparidade exibicional é de tal ordem que fica a dúvida se é ele que é tão extraordinário ou se são os outros dois médios que estão mesmo num momento tão mau. O seu nível de envolvimento e capacidade de intervenção defensiva não têm nada a ver com as de Veloso e Meireles. É verdade que Moutinho tem uma posição diferente - e que não é nova, assinale-se - nomeadamente sem bola, começando a defender em zonas mais adiantadas, mas isso até devia ser uma limitação, porque é muito mais difícil ser-se interventivo defensivamente jogando aí do que em zonas mais baixas e densas, onde estiveram Meireles e sobretudo Veloso. O facto é que Moutinho, sozinho, completou mais passes do que os outros dois médios, juntos, e praticamente conseguiu a mesmo protagonismo ao nível das intervenções defensivas, comparando com o somatório de Veloso e Meireles. Não é normal. Depois, claro, o que todos vimos, com dois passes decisivos. Ambos são bons, mas penso que o do terceiro golo é especialmente bem conseguido. Enfim, tudo somado, lavou a face do meio campo português, com uma grande exibição, também uma das melhores de sempre ao serviço da Selecção.

Nani - Defensivamente teve um papel meritório, conseguindo também ele uma boa capacidade de intervenção defensiva, embora não isenta de erros em algumas abordagens. Não dá, igualmente, para dizer que tivesse comprometido a equipa com bola, mesmo se se identificaram alguns lances onde a sua decisão não terá sido a melhor. Mas... Nani não é só isto! Nani é - e esperemos que o volte a ser - um jogador criativo, com uma grande capacidade de desequilíbrio e que normalmente quando lhe dão espaço torna-se num protagonista quase inevitável dos jogos. É esse jogador que faz hoje muita falta a esta equipa e que acentua ainda mais a dependência de Ronaldo na capacidade de desequilíbrio da Selecção. Não foi capaz de se envolver numa única ocasião clara de golo da equipa nestes dois jogos, o que é preocupante.

Ronaldo - Todos viram, todos estão fartos de falar, e por isso é redundante escrever seja o que for sobre o mérito, importância e excelência da sua exibição. A sua melhor de sempre pela Selecção? É possível, sobrando-me apenas a dúvida perante o jogo frente à Holanda, no Euro'2012. Uma nota apenas sobre Ronaldo: diz-se que tem muitas dificuldades quando não tem espaço. É verdade que Ronaldo se torna praticamente imbatível quando tem espaço, mas isso é uma característica comum a todos os desequilibradores. Conhecem algum desequilibrador que não sinta mais dificuldades quando não tem espaço? Eu não. Passar desta trivialidade à conclusão de que Ronaldo não rende quando não tem espaço é, normalmente, um instante. Um instante e um sofisma facilmente desmontável. Porque nem Ronaldo, nem nenhum desequilibrador sobrevive em equipas "grandes" se só render com espaço. Porque as equipas "grandes" passam a esmagadora maioria do tempo a jogar perante equipas fechadas, cujo objectivo principal é precisamente reduzir o espaço, e não a actuar em transição ou contra-ataque, como tantas vezes é sugerido. Portanto, Ronaldo não é um grande jogador por ser bom quando lhe dão espaço. É um grande jogador porque é bom - invulgarmente bom! - em todas as circunstâncias de jogo, sendo que - trivialmente, repito - quando tem espaço torna-se ainda mais fácil para ele desequilibrar. E isto é tanto válido para Ronaldo, como para Messi, Neymar, Bale, Ribery, Robben, Hazard, etc etc. Todos eles são muito mais perigosos com espaço, mas todos eles só são o que são, e estão onde estão, por serem extraordinários em todos os momentos tácticos do jogo. Por isso, esta conversa do espaço e do rendimento de Ronaldo não me parece mais do que uma "lapalissada", afinal algo comum em muitas conversas sobre futebol.

Hugo Almeida - Começo por falar da sua inclusão. Parece-me acertada a escolha, porque me parece que este seria um jogo onde Postiga previsivelmente não encaixaria (recordo, por exemplo, as dificuldade que teve em Copenhaga, no apuramento para o Euro'2012). Já tinha abordado isto na última análise, mas o posicionamento de Hugo Almeida não é normalmente idêntico ao de Postiga, havendo uma relação mais directa com Ronaldo, com Hugo Almeida a apresentar-se várias vezes sobre a esquerda, onde tem uma presença defensiva inclusivamente mais intensa do que o capitão da Selecção. Penso que foi nisso que Paulo Bento pensou e, também, na circunstância de Portugal ir previsivelmente construir de forma longa em caso de pressing sueco, sendo que o desempenho de Hugo Almeida e Postiga é obviamente muito diferente na resposta a este recurso. As bolas paradas, que é normalmente o aspecto mais comentado, é na minha leitura apenas um terceiro factor para esta opção.
No que respeita à sua exibição, digamos que assistência lhe salvou a face, porque se a aposta me parece acertada do ponto de vista estratégico, o desempenho de Hugo Almeida esteve longe de ser o melhor. Sentiu dificuldades no desempenho técnico (sobretudo nos primeiros minutos, tornando-se mais regular no decorrer do jogo), mas é noutros aspectos que mais merece reparo. Primeiro, claro, o trauma da baliza, com mais um golo incrível desperdiçado e que provavelmente (digo eu...) não o falharia com a camisola do Besiktas. Depois, os fora-de-jogo. Já escrevi que tem uma relação quase autista com esta regra do jogo, e parece-me absurdo que não corrija alguns dos seus comportamentos, tão flagrantes neste particular. Para fazer golos, reconheço, pode não ser tão fácil recuperar a confiança, mas para evitar ser apanhado em tantas situações de fora-de-jogo basta estar um pouco mais concentrado.

Antunes - Não entrou, de facto, numa altura fácil. Acabou por cumprir com regularidade e eficácia o seu papel, e no fim ainda lançou aquilo que foi o "quase-poker" de Ronaldo.

William - Entrou bem, para uma missão muito posicional, e conseguiu em pouco tempo fazer bem melhor do que Veloso. Aliás, se Veloso mantiver o andamento, é mais do que natural que acabe por justificar a titularidade. Agora, isto não serve também para que saltemos logo para o extremo oposto e concluirmos que teve uma acção extraordinária no jogo. Era lhe pedida uma função especifica e ele cumpriu-a bem, sendo que é importante também notar que do ponto de vista do posicionamento táctico colectivo não houve alterações relevantes com a sua entrada.

Ricardo Costa - A sua entrada fez bem à equipa, oferecendo-lhe melhor equilíbrio táctico perante a natureza do jogo e do adversário. Talvez tenha a ver também com o esvaziar do balão de esperança sueco, após o 2-3, mas a verdade é que me pareceu resultar. E aqui, até nem atribuo grande mérito individual ao jogador, sem tempo suficiente para grandes feitos.

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