25.11.13

Guimarães - Sporting: Opinião e Estatística

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Candidato? Não digas porque dá azar! - A discussão já tem meses, e durará enquanto o Sporting se mantiver próximo do primeiro lugar. Já escrevi sobre o tema nas primeiras jornadas e não tenho muito a acrescentar sobre as possibilidades reais do Sporting ser campeão - que são maiores nesta altura - e da relação entre o seu estatuto de 'grande' e a ambição pelo título. No entanto, confesso que este tema me entretém bastante, sobretudo pela importância que as pessoas dão ao que se diz, ou nãom à frente dos microfones. Isto é, é óbvio para todos que o Sporting ambiciona ser campeão. Independentemente de não ter o mesmo investimento e qualidade dos seus rivais, é com o título que todos sonham, porque 1) todos percebem que esse objectivo não é de todo uma impossibilidade e 2) porque é essa a ambição natural de um clube e de uma massa adepta como a do Sporting. Admite-se, portanto, que o Sporting assuma internamente essa ambição, mas por outro lado - e é este o ponto interessante de tudo isto - entende-se como proibitivo que se assuma publicamente o que todos pensam, porque supostamente isso irá ter efeitos directamente negativos nas possibilidades desportivas da equipa. Ora, talvez seja uma limitação minha, mas confesso que tenho alguma dificuldade em ver com tanta clareza a lógica deste raciocínio. Reconheço que a envolvente influencia o jogo, mas daí até se dar este tipo de importância ao que se diz à frente ou atrás dos microfones, vai uma grande - enorme! - distância . É, no fundo, um pouco como fazer uma fé plena na ideia de que "somos candidatos, mas não digas porque dá azar!"

Entretanto, e passando para o que se viu no jogo, no campo o Sporting vai dando todos os indícios de sonhar de facto com o título. Durante todo o jogo, o Sporting fez subir 5 unidades à área contrária para a disputa dos pontapés de canto. Nos últimos 5 minutos, e por duas vezes, aumentou essa presença para 6 elementos. 1 ponto em Guimarães só não é bom para quem luta por algo mais do que a Europa, e se o Sporting arriscou perder esse ponto numa deslocação tão complicada como é o Afonso Henriques, não foi certamente por ter o 3º lugar em mente.

Jogo tacticamente complicado - O Sporting resgatou - com muita felicidade, diga-se - os 3 pontos, mas este foi notoriamente um jogo complicado onde a equipa teve sempre muitas dificuldades em aproximar-se do golo e da vitória. Tacticamente, e olhando às características das equipas, era previsível que o Sporting encontrasse no Vitória um adversário difícil de ultrapassar. É que a formação de Guimarães tem no corredor central e no espaço entrelinhas a sua principal fragilidade, e sucede que o Sporting - tal como se viu em várias ocasiões no jogo - tem uma falta de afinidade quase genética com essa zona do terreno, preferindo invariavelmente entrar pelos corredores laterais. Assim, o Vitória abria um buraco à frente dos centrais, enquanto que o Sporting insistia em entrar pelos flancos. Depois, no outro sentido do jogo, o Vitória também encaixava pouco na estratégia de Jardim, porque à intenção de pressionar alto do Sporting, os vimaranenses respondiam com uma forte presença sobre a última linha defensiva do Sporting (com os extremos sempre muito projectados), e com os dois médios (André Santos e André André) a aparecer nas costas da linha média do Sporting. Assim, enquanto o Sporting tentava subir para pressionar, rapidamente via a bola ser colocada sobre a sua linha defensiva, havendo uma presença numérica várias vezes favorável ao Vitória, valendo ao Sporting o bom controlo sobre a acção de Maazou, que se apresentava aqui como elemento chave na ligação do jogo ofensivo da equipa de Rui Vitória. O Sporting sentiu algumas dificuldades também neste plano, mas foi conseguindo um melhor controlo do adversário com o decorrer do jogo, o que tem muito a ver com a forma como Maurício se foi sentindo cada vez mais confortável no duelo com Maazou.

Individualidades (Sporting) 
Rui Patrício - Um guarda-redes só pode actuar reactivamente, e Patrício respondeu sempre bem ao que lhe foi exigido. Sem reparos.

Cedric -  O Sporting forçou muito a entrada pelo seu corredor, sobretudo na primeira parte, o que explica a sua elevada presença no jogo ofensivo da equipa. Sem que a equipa tivesse tirado grande partido prático disso, deu sempre boa resposta individual ao seu envolvimento. Defensivamente, foi um jogo algo atípico, sendo menos chamado a intervir em duelos de 1x1, mas mais solicitado no controlo do jogo aéreo e a fechar em zonas interiores. Também nesse capítulo deu uma boa resposta. Tudo somado, foi o jogador com mais passes completados, com maior % de sequência em posse e também o protagonista da melhor situação do Sporting até ao golo. Sem ser uma exibição excepcional, terá sido provavelmente a unidade de maior rendimento da equipa neste jogo.

Jefferson - Não teve a mesma envolvência de Cedric, nem tão pouco a mesma eficácia nas suas acções. Acabou por ser o protagonista do canto que dá origem ao golo, o que disfarça uma exibição não muito conseguida.

E.Dier - Começou por ter, a meu ver, algumas responsabilidades na forma como se posicionou no lance que termina com a finalização de Maazou ao poste. Depois, e em termos defensivos, conseguiu um bom jogo, sendo uma presença útil na área e tirando partido da sua estatura num jogo de muitos duelos aéreos e trajectórias largas. Com bola, não foi um jogo onde se exigisse grande presença, mas mesmo assim voltou pontualmente a dar sinais de um critério muito questionável em posse, assumindo um risco pouco ajustado às suas características, nomeadamente tentando forçar o seu envolvimento ofensivo sem que apresente depois uma eficácia/qualidade que compense o risco que essas acções trazem para a equipa.

Maurício - Foi uma peça chave da equipa pela importância que tinha Maazou para o jogo ofensivo do Vitória, e pela presença dominadora que Maurício conseguiu nesse duelo. Com bola, teve um envolvimento reduzido para o que é normal (tem a ver com o tipo de jogo e não tanto com o jogador), embora mantendo uma boa eficácia e repetindo um critério lúcido e ajustado ao seu perfil.

William - Na primeira parte foi, diria, irreconhecível no seu envolvimento com bola, nomeadamente com uma (in)eficácia que não lhe é comum. Na segunda, e também porque a equipa se impôs mais colectivamente, conseguiu finalmente entrar num registo mais habitual, fazendo a equipa jogar e conseguindo também um melhor desempenho defensivo, tirando partido sobretudo da sua presença em termos posicionais para ganhar várias segundas bolas. Repito a ideia: o fundamental para William é que consiga manter o tipo de presença com bola, fazendo a equipa jogar e assumindo um critério ajustado à sua posição, ou seja privilegiando a segurança na circulação. Os holofotes trarão a tentação de tentar assumir maior protagonismo individual, introduzindo mais risco ao seu jogo. É bom, para seu bem e sobretudo da equipa, que saiba resistir.

Adrien - Com bola, jogou numa linha mais perto de William relativamente ao que é habitual, oferecendo uma presença mais útil para fazer a bola circular por fora do bloco do Vitória, do que propriamente por dentro deste. De resto, mais uma vez teve dificuldades em se impor com bola num jogo de maior dimensão física, acabando por registar um envolvimento em posse algo reduzido, e não conseguindo também fazer a diferença pela via criativa. É uma limitação que se repete. É a sua acção sem bola, porém, que justifica maiores elogios. Novamente com uma entrega notável, e também com uma capacidade de intervenção assinalável, destacando-se o número de duelos/intercepções que realizou, 17, sendo apenas superado por Maurício.

André Martins - É discutível que se diga que foi "médio". Jogou sempre a partir de um posicionamento profundo e descaído para a direita, tentando oferecer uma presença extra a esse corredor, quase como um avançado móvel, numa dinâmica que o Sporting forçou muito sobretudo na primeira parte. Repito o mesmo tipo de crítica que escrevi sobre a exibição de Adrien - e que nele também é recorrente - sendo que no caso de André Martins seja mais natural que a sua presença em posse seja mais reduzida e menos eficaz tendo em conta que se reservou mais para fases adiantadas do jogo ofensivo. Também é no capítulo defensivo onde mais elogios me parece justificar. Pela entrega e presença, ganhando inclusivamente alguns duelos aéreos. Também aqui, note-se, a sua presença posicional é mais próxima de um avançado do que de um médio, mas esse é um comportamento que não constitui novidade no modelo de Leonardo Jardim.

Carrillo - Assumiu grande protagonismo na primeira parte, conseguindo um bom envolvimento no corredor direito, apesar de uma ou outra decisão mais questionável. É verdade que não foi suficiente para aproximar verdadeiramente a equipa do golo, mas se alguém foi capaz de causar problemas ao extremo reduto do Vitória, na primeira parte, essa alguém foi Carrillo. Na segunda parte, começou à esquerda, depois voltou à direita e estava a perder eficácia e discernimento quando foi substituído.

Capel - Jogando à esquerda e com o jogo muito balanceado para a direita, acabou por ser um protagonista menor na primeira parte. Como não teve um grande envolvimento, restava-lhe ser capaz de acrescentar capacidade de desequilíbrio nas suas aparições no último terço, algo que também não conseguiu - nem ele, nem ninguém, diga-se.

Montero - Nestes jogos em que o Sporting tem mais dificuldade em assumir um domínio territorial do jogo, fazia falta uma presença mais forte no jogo aéreo, nomeadamente para oferecer outro potencial à construção longa. Montero não é esse jogador, como se viu agora, no Dragão ou na Luz. O seu envolvimento é muito bom, mas para isso é preciso que a bola lhe chegue no pé, e a sua dificuldade em aparecer tem a ver com os problemas da própria equipa no jogo. Apesar disso, ainda foi a tempo de ser protagonista no melhor lance de ataque da equipa, antes do golo.

Mané - Não conseguiu o protagonismo do jogo da Luz, e continua a não ser tempo suficiente para que se retirem grandes conclusões.

Salomão - É uma solução diferente dentro dos extremos do Sporting, que até me parece poder ser utilizado como elemento mais interior. Teve maior presença do que Mané, mas igualmente sem conseguir grande protagonismo.

Slimani - O futebol por vezes reserva-nos estes casos difíceis de explicar. Se noutras ocasiões até se pode destacar o mérito do seu jogo aéreo, desta vez trata-se de mera "fezada". Podia ter sido qualquer um dos outros 5/6 jogadores na área do Guimarães a beneficiar de um ressalto decisivo, mas foi Slimani, precisamente aquele que mais acreditava que isso lhe pudesse acontecer. É curioso, sem dúvida, mas será um erro retirar daqui ensinamentos ou conclusões. Noutro ponto, desta vez a sua entrada parecia-me fazer mais sentido do que noutras ocasiões. Não tanto por ele, mas pela implicação de libertar Montero no espaço entrelinhas, o que poderia ajudar a equipa a aproveitar mais o tal espaço que o Vitória tinha tendência a oferecer e que o Sporting nunca aproveitou. Também é verdade que essa seria sempre uma jogada de risco porque por outro lado o Sporting perderia presença numérica no meio-campo, e talvez por isso Jardim tenha tardado em tentar essa variante. Foi a minha leitura, mas o facto do Sporting ter chegado ao golo dentro desta estrutura não é suficiente para que se conclua sobre a sua validade em termos práticos. Tenho para mim que, no futebol, a cada golo sucede um sofisma. Um mau hábito que eu me esforçarei por não alimentar.

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