17.11.13
Portugal - Suécia (II): Análise individual
Rui Patrício - Não se pode dizer que tenha sido uma grande exibição perante tão pouco trabalho, mas não é preciso fazer um grande exercício de memória para ter exemplos de como pode ser importante ser o papel do guarda-redes mesmo em jogos deste tipo. Depois do deslize frente a Israel (cujas implicações nunca saberemos quantificar), respondeu de forma competente, inclusivamente com uma defesa importante.
João Pereira - Portugal encontrou nele, e na facilidade com que o conseguia fazer entrar em jogo, uma solução evidente e muito solicitada no seu jogo ofensivo. João Pereira esteve bem até ao momento da definição, com uma série de cruzamentos perdidos, o que não é novidade porque não é um jogador especialmente eficaz na exploração desse recurso. Aqui, a principal critica vai para o critério de decisão no último terço, porque Portugal ganhou normalmente mais quando a sua opção passou por tentar o envolvimento interior em vez do cruzamento. E ele é bastante mais forte no envolvimento interior. Defensivamente, muito bem em termos posicionais, mantendo-se próximo dos centrais de forma a garantir maior presença na resposta às segundas bolas.
Coentrão - Com um envolvimento menos continuado do que João Pereira, relativamente à influência no último terço. Acabou, por outro lado, por ter maior participação na fase de construção, onde foi regular na resposta que deu. Defensivamente também não foi tão interventivo quanto o lateral do lado oposto. Normalmente imprime maior intensidade ao corredor, mas provavelmente por limitações físicas, esse protagonismo foi desta vez mais intermitente.
Bruno Alves - É possível que tenha festejado o sorteio, porque é frente a estes adversários que invariavelmente melhor se dá. Jogo aéreo, trajectórias longas e sem o incómodo de ter de controlar jogador mais ágeis e rápidos do que ele. O resultado foi, outra vez, um grande jogo, onde para além dos inúmeros duelos que venceu ainda acrescentou a sua competência na execução técnica, com uma boa presença na primeira fase de construção e um cruzamento que por pouco não deu em golo.
Pepe - Não fez um jogo tão bom como Bruno Alves, mas não andou longe. Aliás, se para o seu companheiro de defesa é decisivo o tipo de adversário que encontra, para Pepe é mais ou menos indiferente. Consegue impor-se perante qualquer estilo, provavelmente como poucos centrais do futebol actual, e mais uma vez o mostrou.
Veloso - Acabou por ser decisivo ofensivamente, com o cruzamento para o golo de Ronaldo. No entanto, não foi no capítulo ofensivo que mais se evidenciou ao longo do jogo. Pelo contrário. Sem bola, teve um papel importante, quer no mais tradicional equilíbrio posicional em posse, quer - e sobretudo - na missão mais específica de se aproximar dos centrais de forma a ajudar a controlar o jogo directo dos suecos. Um posicionamento que normalmente não é o seu, mas que o foi desta vez por motivos estratégicos e que produziu grandes resultados colectivos. Com bola, por outro lado, deixou-se eclipsar por Elmander (como mostram os seus números de participação em posse, de resto), cujo objectivo era neutralizar a acção do pivot português. Não é a primeira vez que isto acontece, e se Veloso pode acrescentar bastante ao jogo em termos de desempenho técnico, também é verdade que se torna muito fácil neutralizá-lo.
Meireles - Também não foi das suas melhores exibições, apesar do contributo positivo em vários aspectos. Não apareceu muito no jogo, cedendo maior protagonismo para Moutinho, o que não é incomum. Talvez a maior critica vá para a ausência de envolvimento nos corredores laterais, particularmente à esquerda onde se espera que abra mais vezes, dando apoio a Coentrão e permitindo que Ronaldo se integre em zonas interiores. Não aconteceu. Por outro lado, tem sempre um excelente instinto relativamente aos passes de rotura, sendo célere a perceber a oportunidade de explorar a profundidade a partir do corredor central, quando a linha defensiva contrária está a subir. Foi assim, por exemplo, que isolou Moutinho para a primeira oportunidade do jogo.
Moutinho - Começou por ser o protagonista da primeira ocasião portuguesa, num papel de finalizador que foi sempre o seu ponto mais débil. Depois assumiu o protagonismo habitual, sendo o médio mais influente no jogo e estando competente em praticamente todos os domínios do jogo. Ainda assim, há que destacar o seu constante envolvimento sobre o corredor direito, onde também ele deixou a desejar em termos de decisão no último terço, optando demasiadas vezes por forçar o cruzamento perante uma defensiva sueca invariavelmente preparada para responder a essa alternativa.
Nani - É um jogador irreconhecível, parecendo não ser capaz de extrair o potencial que se escondeu na sombra de um horrível momento de confiança - provavelmente o pior da carreira. O melhor, a meu ver, seria simplificar o mais possível e deixar que a confiança se fosse instalando aos poucos, mas estará provavelmente demasiado ansioso em fazer bem para que tenha essa paciência. Possivelmente também não terá ajudado uma presença posicional errática, demasiado tempo escondido do jogo e demasiado tempo fora do seu corredor habitual, do lado direito. É preocupante porque não há alternativa para a qualidade que pode acrescentar.
Ronaldo - Foi o herói do jogo e por pouco não foi mesmo suficiente para deixar tudo muito próximo de estar resolvido. Mas não foi um grande jogo para o seu patamar exibicional. Pareceu ansioso em intervir no jogo, e a própria equipa em solicitá-lo. Não é um bom sinal, até porque raramente algo forçado produz os mesmos resultados do que quando acontece naturalmente. A sua mobilidade é uma mais valia e deve ser potenciada, mas não ao ponto de se abdicar da ordem colectiva ou de o retirar da zona de definição, como por vezes aconteceu. Mas, lá está, há jogadores e jogadores, e para Ronaldo um dia menos bom não deixa de ser um dia onde consegue ser decisivo.
Postiga - Com Paulo Bento encontrou constância na sua utilidade na Selecção. Curiosamente, não dentro do perfil que durante tanto tempo lhe atribuíram, mas fundamentalmente como elemento de finalização, já que a sua participação nas restantes fases do jogo é invariavelmente escassa. Como é um bom executante, tem conseguido um bom aproveitamento das ocasiões de que vem desfrutando. O problema é que nem sempre lhe é fácil encontrar ocasiões e desta vez teve apenas uma, na sequência de um pontapé de canto.
Hugo Almeida - Tem um perfil normalmente diferente do de Postiga, oferecendo maior dinâmica ao jogo ofensivo da equipa, nomeadamente por trocar várias vezes de lugar com Ronaldo. Algo que acabou por ser decisivo neste caso, já que foi com ele à esquerda e Ronaldo ao meio que Portugal construiu as suas melhores ocasiões. Paradoxalmente, o grande problema de Hugo Almeida tem sido a resposta na sua zona natural, onde para além de ter uma eficiência significativamente inferior à de Postiga revela alguma relação quase autista com a regra do fora-de-jogo.
Josué - Entrou para o lugar de Meireles e assumiu uma presença mais constante na primeira fase de construção, envolvendo-se menos nas dinâmicas em fases mais ofensivas do jogo. Algo que se pode considerar normal face ao pouco tempo que tem na equipa. Surge como mais uma solução para uma posição onde a meu ver não abundam alternativas de grande qualidade no futebol português actual. Estará nele a resposta? Até é possível que assim venha a ser, mas não sou da opinião de que já o seja.