12.11.13

7 lances decisivos do derbi

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10' - Ao primeiro lance de algum desequilíbrio no jogo corresponde a jogada que antecede o livre que dá origem ao 1º golo. O lance é interessante porque aproveita o espaço criado pela presença interior de Markovic, muito próximo de Cardozo, o que atrai Jefferson para junto da última linha. Este comportamento cria um espaço no corredor direito e sabia-se de antemão que seria importante para o Sporting controlar a acção de André Almeida neste tipo de situação. O que sucede é que Capel arrisca uma intercepção interior e acaba por desguarnecer o tal espaço criado pela dinâmica da estrutura do Benfica. De notar, finalmente, que este foi um caso excepcional porque enquanto o Benfica manteve Markovic com este comportamento, o jogo raramente se disputou no corredor direito.

14' - Já em vantagem, o Benfica cria uma boa situação de finalização onde se realçam três pontos: 1) a capacidade de Cardozo nos duelos com os centrais; 2) a boa presença de Enzo Perez no aproveitamento dos espaços; 3) a excepcional qualidade do pé esquerdo de Cardozo. 3 pontos que não foram apenas importantes neste lance, mas também decisivos na definição do jogo.

37' - No lance do 1º golo do Sporting sobressai o movimento interior de Montero. A indefinição de Luisão é decisiva porque permite ao avançado virar-se, o que seria desde logo indesejável para quem defende. Esta hesitação tem a ver sobretudo com o facto de Garay estar também fora da sua posição, o que abriria um buraco importante na zona central (provavelmente, Sílvio deveria ter fechado mais por dentro perante a saída de Garay). Depois, há uma grande indefinição na linha média do Benfica, o que resulta numa passividade perante a acção de Montero. Finalmente, e mais uma vez, não há preocupação da linha média em compensar a saída de Luisão, o que acaba por condicionar a resposta ao cruzamento. Isto, mesmo sendo complicado afirmar que se essa compensação tivesse existido, o lance seria posteriormente controlado, porque o cruzamento sai para uma zona muito perto da baliza, sendo inclusivamente finalizado já dentro da pequena área, por Capel. E, desta última constatação surge a dúvida se Artur não poderia ter interceptado o cruzamento?

41' - O lance do 2º golo do Benfica também me parece ser interessante, porque mostra um pouco daquilo que foi o jogo, sobretudo na primeira parte. Boa presença pressionante do Sporting, a dificultar muito a capacidade do Benfica em ter bola e construir o seu jogo através da circulação. A bola acaba por ser recuada para Artur que recorre depois ao pontapé longo, sempre em busca de Cardozo. E aqui começa a fragilidade da estratégia do Sporting. Markovic junta-se a Cardozo, criando uma boa presença junto dos centrais e com alguma distância para os dois médios mais defensivos do Sporting (Adrien e William), "encaixados" no meio campo do Benfica. Depois, o já várias vezes destacado mérito de Cardozo neste tipo de duelos e, finalmente, também a antecipação de Enzo sobre Adrien no ataque à 2ª bola. Quando Enzo ganha a bola, o desequilíbrio já está praticamente criado, porque o Sporting fica com a sua linha defensiva muito exposta. No entanto, ainda seria possível controlar o cruzamento, o que não acontece porque toda a gente se esqueceu de Cardozo, que fica para trás por ter caído no inicio do lance. Maurício tem de sair sobre Enzo, num primeiro momento, e fica fora da zona central, com Rojo e Jefferson a preencher esse espaço. Jefferson é atraído pela presença de Markovic, e como este ataca o primeiro poste, onde está Rojo, o lateral acaba praticamente encostado ao central. Nas suas costas, entretanto, sobra Cardozo, que passou em claro quer a Jefferson, quer a Adrien. E aqui, novamente um caso em que perante a saída de um elemento da última linha, os médios se revelam completamente indiferentes ao equilíbrio na zona fundamental da sua defesa. O Sporting aborda o cruzamento com 2 unidades na primeira linha à frente de Patrício, e nem William nem Adrien revelam em algum momento qualquer preocupação com o que se passa no sector mais atrasado. Uma insensibilidade intersectorial dos médios que não é exclusiva do Sporting e que já tem sido comentada em vários casos aqui abordados.

44' - O 3º golo do Benfica resulta da exploração do momento de transição. A origem do desequilíbrio é óbvia e não tem tanto a ver com o primeiro passe perdido por William, que acontece numa zona já adiantada do terreno e sendo inclusivamente interceptada pela última linha do Benfica. O que sucede, em primeiro lugar, é que o Sporting se encontra demasiado exposto em termos posicionais para reagir a uma eventual perda. O lateral (Piris) está envolvido ofensivamente, assim como os dois médios interiores (Adrien e A.Martins), ambos à frente da linha da bola. Sobrando apenas William e os dois centrais, já que o próprio Jefferson está muito aberto. Normalmente, com a posse nesta zona do terreno, as equipas devem ter a preocupação de manter no mínimo 4 a 5 jogadores em condições de recuperar em caso de perda, até para que se possam garantir também linhas de passe na zona da bola e não obrigar o portador da bola a verticalizar o jogo, que é o que sucede. Ainda assim, o erro de William surge na sua incapacidade de interceptar o passe vertical para Gaitan, o que estava ao seu alcance. A partir desse momento, e mesmo com tanta distância para a baliza, esta seria sempre uma situação difícil de controlar, face à exposição numérica do Sporting. Sobra ainda sublinhar 3 aspectos decisivos no desfecho da jogada: 1) A dificuldade de recuperação de William, que parte na mesma linha de Amorim (que nem é um jogador particularmente rápido), mas não consegue ser útil no remedeio da situação; 2) o bom movimento ofensivo do Benfica, especialmente de Ruben Amorim, que imediatamente abre a sua trajectória de forma a potenciar a exposição de uma linha defensiva já reduzida a apenas 2 unidades, mas também de Gaitan, a conduzir de forma a obrigar que um dos elementos da linha defensiva saísse sobre si para depois soltar a bola; 3) mais uma vez, a finalização de Cardozo, que sendo em boa posição está longe de ser um lance evidente, já que a progressão da jogada foi bem condicionada pela última linha do Sporting, que aguentou até ao limite da área e não caiu em tentação de sair precipitadamente em contenção.

84' - Uma soberana oportunidade para o Sporting empatar, já na recta final do período regulamentar. O que sobressai deste lance é alguma desorganização na linha média do Benfica, em termos de ajuste posicional. A equipa é atraída para o lado direito, revelando depois alguma dificuldade em ajustar o posicionamento à circulação lateral do Sporting e verificando-se também alguma falta de coerência no comportamento dos diferentes jogadores. Por exemplo, Gaitan faz um acompanhamento individual a Piris, enquanto que o outro extremo, Ivan Cavaleiro, acaba no corredor central, inclusivamente atrás dos restantes médios. Algo que terá muito de circunstancial, mas que terá também a ver com alguma ausência de coordenação da equipa dentro de uma estrutura de 3 médios. O que resulta é que apesar do Sporting ter nesta altura desvantagem teórica no meio campo, William fica livre para receber, virar e solicitar a boa presença numérica da equipa junto dos centrais contrários, com Montero e Slimani nesta altura em simultâneo. Depois, mérito para Montero, sobretudo, e também para Mané no movimento interior. Demérito, novamente, para a linha média do Benfica que depois de perder controlo sobre William, também não chega a tempo de auxiliar os centrais no controlo da jogada.

112' - Provavelmente a ocasião mais flagrante dos 120' de jogo. O lance tem origem num lançamento lateral, ainda muito distante da baliza de Patrício, mas que vai ser muito mal abordado pelo Sporting. Primeiro, a acção de Cardozo, que tira partido da diferença de estatura com Jefferson (provavelmente, o Sporting deveria ter feito uma troca com Rojo para a abordagem a este lance). Depois, o mérito de Lima e o demérito de Rojo. Começando pelo central do Sporting, que se deixa antecipar num primeiro momento e que depois aborda mal o lance, acabando por ver a sua equipa exposta. Quanto a Lima, toda a sua acção é muito bem conseguida, saindo da marcação a Rojo e fazendo depois um passe também ele excelente para a entrada de Ivan Cavaleiro. Vale ao Sporting a igualmente notável reacção de Patrício e o desacerto posterior de André Gomes.

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