20.11.13

Suécia - Portugal (I): Aspectos tácticos

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O declive táctico da 2ª parte - Não me entendam mal! O que se passou na 2ªparte do jogo de Estocolmo foi algo épico, que certamente ficará gravado na memória de quem o viu, e assim o é pela emoção que o jogo transmitiu nesse período. O campo emocional, repito, é o ponto dominante deste desporto, aquele que explica a sua dimensão de fenómeno social e também grande parte do que se passa dentro do campo. Porque não é esse o foco deste espaço, "salto" um pouco esse avassalador lado emocional do jogo, mas não quer isso dizer que o ignore. Porque não é possível perceber verdadeiramente o jogo sem primeiro o sentir.

Enfim, cometendo então a afronta de "saltar" o lado emocional do jogo, parece-me também de grande interesse perceber, do ponto de vista táctico, o que esteve por detrás de tanta agitação num período tão curto e que paradoxalmente surgiu na sequência de 135 minutos de grande conservadorismo táctico. Para quem gosta de analisar o lado táctico do jogo, não há nada melhor do que estas roturas com o que é convencional, e que nos oferecem a possibilidade de observar, ainda que por alguns minutos, cenários várias vezes teorizados mas que raramente há coragem para os experimentar.

Comecemos pelo lado sueco, que foi quem teve a iniciativa. Na 2ªparte a Suécia passou a fixar praticamente os extremos sobre a linha defensiva portuguesa, o que juntando aos dois avançados (Elmander mais fixo e Zlatan mais móvel) obrigou Portugal a fixar praticamente 5 unidades sem capacidade de intervenção interior. A primeira implicação disto foi o jogo partido e, muito importante, a criação de mais espaço para jogar nas primeiras fases do jogo ofensivo sueco. Depois, a Suécia projectou os laterais ofensivamente, tentando dar largura a um jogo que visava sempre fazer chegar a bola à zona de finalização através de cruzamentos largos. Ou seja, para se aventurar no resgate da qualificação, a Suécia passou a ter apenas 3-4 jogadores em condição de reagir à perda de bola, sendo que assumiu sempre apenas 2 elementos na última linha desta estrutura de equilíbrio.

Não menos interessante é ver o que fez Portugal. A equipa portuguesa não alterou praticamente nada relativamente à sua intenção inicial. É verdade que foi empurrada para junto da sua área e também que com bola deixou de ser capaz de circular perante a pressão impulsiva dos suecos (um aspecto a merecer critica, mas que não vou abordar aqui), mas isso aconteceu sobretudo por imposição do seu adversário e não por uma cedência deliberada. É que Portugal manteve a intenção de pressionar a primeira fase de construção sueca praticamente a todo o campo, o que contribuiu para o espaço criado na zona intermédia, e manteve também a sua estratégia defensiva com Ronaldo à esquerda, mais ou menos a fazer de conta que defendia o lateral sueco mas verdadeiramente à espera pela oportunidade da transição.

Tenho dúvidas que esta tivesse sido a melhor forma de reagir ao novo cenário no jogo, sobretudo depois do 0-1. Do ponto de vista defensivo, talvez fosse mais recomendável utilizar linhas mais juntas, mesmo que para isso tivesse de assumir um bloco mais baixo, tentando depois sair em contra-ataque, possivelmente deixando Ronaldo sozinho na frente. De resto, Portugal conseguiu um equilíbrio muito melhor em termos defensivos após a entrada de Ricardo Costa, sendo também certo que nunca saberemos exactamente qual o peso que teve o facto de este ter entrado quando o jogo já estava em 2-3 e com o capital de entusiasmo sueco completamente esfumado.

É verdade que a Suécia não criou muitas ocasiões para construir os seus golos e que estes surgiram de bola parada, mas também o é que nesse período Portugal teve muitas dificuldades para controlar o assalto ofensivo adversário, tanto pelo menor ajuste posicional defensivo, como também pelo controlo que não conseguiu fazer do jogo com bola. Por outro lado, é claro, os golos de Portugal surgem todos com Ronaldo a aproveitar as costas do lateral no momento de transição, algo que tem a ver com a qualidade excepcional do extremo mas também com a estratégia que Paulo Bento define ao assumir deliberadamente o risco de manter Ronaldo como falso defensor.

O conservadorismo no onze - Um dos aspectos mais usados para criticar Paulo Bento tem sido a sua repetição do onze inicial, quase como se não existissem mais soluções. Confesso que me parecem absolutamente forçadas essas críticas. Primeiro, porque de facto, e mesmo nas posições de menor rendimento, é bastante discutível se, no campo estritamente individual, haverá melhores soluções disponíveis. Depois, porque não se pode tratar a Selecção como uma espécie de 'fantasy league' ou 'equipa da semana', em que se escolhe o melhor onze do momento. A equipa portuguesa tem - felizmente! - uma ideia de jogo que vem do Euro'2012 e que dificilmente pode ser trabalhada durante o período de qualificação. Parece-me, por isso, lógico que haja alguma relutância em lançar impulsivamente unidades com pouco tempo de trabalho na Selecção. Paulo Bento, na minha leitura, deu a oportunidade a alguns jogadores durante o trajecto da qualificação, como Vieirinha, Micael ou Neto, mas por motivos diferentes todos eles não foram capazes de agarrar esse estatuto. Em parte, isso revela o grande problema por detrás desta discussão que é falta de soluções de qualidade que neste momento existe na Selecção. Seguir-se-á agora um período diferente, em que se poderá trabalhar mais os aspectos colectivos e incluir aí novos protagonistas. Se em Junho, tudo estiver na mesma havendo unidades a justificar outra oportunidade, aí sim, as críticas poderão fazer mais sentido.

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