Melhor a atacar do que a defender - Perante a volumetria do resultado, é quase uma redundância escrever que o Sporting terá estado melhor a atacar do que a defender. "Quase", porque no futebol há excepções mais do que suficientes para que se desfaça a linearidade desse tipo de raciocínio. Aqui, no entanto, não é o caso, com o resultado a parecer-me reflectir o que de melhor e pior o Sporting fez. Melhor a atacar, porque para além dos golos construiu um número muito elevado de ocasiões, alicerçando o seu jogo nas habituais dinâmicas pelos corredores (com muitos cruzamentos), mas desta vez também explorando as dinâmicas interiores, algo que é menos comum na equipa. Pior a defender, não porque me pareça que o Sporting se organize mal, mas antes porque a equipa tem algum défice de capacidade de resposta em algumas das suas individualidades. Uma opinião que já fundamentei noutras ocasiões, mas que neste jogo se pode vincar ainda mais. Seja como for, nem tudo, quer de positivo quer de negativo, tem a ver apenas com o Sporting... há que enquadrar com as características do adversário.
Marítimo a ajudar na tendência - De facto, penso que Sporting e Marítimo contribuíram mutuamente para o tipo de jogo a que assistimos. Provavelmente contra outro opositor, nem o Sporting teria sofrido tanto atrás, nem conseguido tanto à frente. Ofensivamente, o Marítimo apostou sempre numa construção longa (bom aproveitamento de Derley neste plano) por forma a tentar saltar etapas do jogo ofensivo e potenciar mais rapidamente a principal característica do seu ataque, que é a velocidade de unidades como Heldon e Sami. A verdade é que várias vezes esta intenção foi bem sucedida, causando dificuldades de resposta directa em algumas unidades do Sporting. Assim, e juntando alguma dose da sempre indispensável felicidade, se explicam os dois golos ao intervalo. Defensivamente, porém, esta é uma equipa bastante permissiva, e isso foi bem explorado pelo Sporting. Destaque para a forma como a equipa baixa o bloco, mas depois tem dificuldades em fazer um ajustamento posicional ideal, o que juntando a algum défice de capacidade de resposta individual, ajuda a explicar os sucessivos problemas de controlo sobre o jogo ofensivo do Sporting. Em particular, na linha média a equipa procura socorrer-se das referências individuais como bussola posicional, mas fá-lo sem ter atenção ao contexto, inclusivamente quando não existe sequer presença numérica suficiente para garantir o ambicionado "encaixe" nas unidades do Sporting. Mas também existem dificuldades ao nível da linha defensiva, com muitos espaços entre os jogadores, e com dificuldades na definição do posicionamento por parte dos centrais, que sempre que o Sporting expôs o corredor central não revelaram capacidade de reacção, seja saindo em contenção, seja controlando a exposição nas suas costas. Enfim, os sinais não vêm deste jogo, mas há ainda muito trabalho para Pedro Martins.
Destaques individuais
Dier - Se a pré época me trouxe dúvidas sobre a sua capacidade de resposta, os jogos a valer têm servido apenas para agudizar essas reticências. A cada aparição renova sinais de preocupação em relação aos mais variados aspectos do jogo e não foi certamente frente ao Marítimo que essa tendência se inverteu. É verdade que as suas características físicas lhe permitem ter, para a idade, uma capacidade de choque invulgar, mas também o é que lhe conferem muitas dificuldades de mobilidade e de resposta perante adversários mais ágeis. E essa é, a meu ver, a sua principal limitação, e não a velocidade, mais facilmente corrigível pelo lado posicional. Depois, ao nível da presença em posse não revela qualquer mais valia em relação à dupla Maurício-Rojo. Aliás, muito pelo contrário. Não tem a ver apenas com a falta de precisão que tem tido no passe, mas sobretudo com o critério muitas vezes desajustado, assumindo riscos absolutamente desaconselháveis e que expõem muito a equipa. Enfim, é claro que Dier pode melhorar em muitos destes aspectos e tempo não lhe faltará para que o consiga. O ponto aqui tem a ver com a sua capacidade de resposta actual e nesse particular os sinais que vem dando são francamente insuficientes, a meu ver inclusivamente para ser a terceira opção de um clube como o Sporting.
Vitor - Não o conheço suficientemente para ter grandes convicções sobre a sua capacidade de resposta, e por isso esperava por esta oportunidade de o poder ver mais tempo. A exibição não foi exuberante, mas teve a meu ver muitos sinais positivos, comparativamente com o que vinha fazendo André Martins. Mais presença em posse (boa movimentação), com melhor capacidade de sequência, e defensivamente também me pareceu mais próximo dos outros dois médios, quando a bola entrou em zonas mais baixas. Por outro lado, não ofereceu a mesma dinâmica de Martins sobre o corredor lateral, mas também talvez seja cedo para que se exija demasiada especificidade no reconhecimento colectivo dos seus movimentos. Será interessante se tiver a oportunidade de iniciar o derby.
Capel - Terá sido a melhor exibição pelo Sporting? É possível. Foi certamente uma das melhores e também uma das melhores deste campeonato. Em particular, foi muito por ele que o Sporting conseguiu explorar o corredor central, o que até nem é a sua especialidade. Enfim, seria uma excelente novidade para Jardim se Capel pudesse oferecer sempre este rendimento, mas também já o conhecemos o suficiente para saber que o mais provável é que a sua intensidade nem sempre consiga repetir este nível de efectividade.
Montero - Tinha aqui escrito que seria de todo improvável que a sua eficiência se mantivesse, e rapidamente esses índices baixaram. Como tenho repetidamente assinalado, há uma sobrevalorização da eficiência nos avançados, sendo esta tratada como se de uma fatalidade se tratasse. Até aqui, Montero era infalível. Agora, qual Sansão de cabelo rapado, parece que terá perdido irremediavelmente toda a sua força. A verdade, como quase sempre, estará algures no meio e Montero continuará tanto a marcar como a falhar golos, como qualquer outro avançado no mundo. Para já, e entre os golos perdidos, há muitos outros sinais positivos deixados pelo jogador, porque a sua movimentação foi notável em diversas ocasiões e quem se movimenta assim continuará certamente a chamar a si muitas ocasiões e, consequentemente, também muitos golos.
Slimani - Não vou comentar o jogador, porque foi muito pouco tempo para que se justifiquem conclusões. Apenas um sublinhado para o opção de colocar uma "torre" a 30 minutos do final. Deu resultado porque marcou, mas é uma solução que me levanta sempre grandes dúvidas, porque me parece que as equipas tendem a perder fluidez no jogo, e na ânsia de ter mais presença na área, acabam geralmente é por chegar lá menos vezes. A não ser que se tenha grande facilidade nas restantes fases ofensivas - o que até poderia ser o caso - parece-me uma solução que apenas faz sentido para um jogo mais directo e que normalmente apenas surge nos últimos 5-10 minutos.