6.11.13

Benfica - Vitórias morais e sofismas tácticos

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Do 8 ao 80 - Há duas semanas escrevia que o Benfica havia feito possivelmente a sua pior exibição da época. Desta vez, frente ao mesmo adversário e num cenário adverso, parece-me claro que terá saltado para o extremo oposto e realizado a mais bem conseguida performance da temporada. A mim como a praticamente toda a gente. Algo que me surpreende, porque o confronto entre as duas equipas na primeira parte do jogo da Luz, e enquanto o relvado esteve jogável, não havia deixado grandes motivos para optimismo para as aspirações benfiquistas.
Na minha leitura, há bastante mérito do Benfica naquilo que sucedeu. A equipa apresentou-se com uma estrutura diferente - diferente, mas não nova como abordarei mais à frente - que lhe permitiu ter mais presença no corredor central. Aliás, é no corredor central que me parece residir a grande vantagem do Benfica no jogo, porque a equipa colocou sempre aí muita gente, apelando aos movimentos interiores dos extremos, para além da maior presença já oferecida por Perez e Amorim na frente do trio que normalmente dava inicio à construção (Garay, Luisão e Matic). É claro que nada se explica apenas pelo encaixe estrutural das equipas, e há também muito mérito no critério que o Benfica revelou em posse, notando-se aqui uma diferença enorme para aquilo que havíamos visto no jogo da Luz, onde a equipa foi muito penalizada pelas precipitações que repetiu enquanto em posse da bola. Correndo o risco de ser excessivamente critico em relação ao jogador, parece-me que ter diminuído a dependência de Matic terá favorecido a equipa, já que o sérvio continua a revelar algum desprezo pelo risco de perda em zonas fulcrais, algo que Perez e sobretudo Amorim souberam gerir com muito mais qualidade.
Nota, finalmente, para o Olympiakos, que esteve também bastante abaixo das expectativas geradas pela tal primeira parte realizada na Luz. Fundamentalmente pareceu frágil na zona central da sua defesa, sendo várias superada em situações onde tinha presença numérica suficiente para ter resolvido melhor os lances. Ainda assim, surpreenderam-me as suas dificuldades de gestão do jogo com bola, porque o Benfica tem sentido muitas dificuldades nesse particular nos jogos da Champions, nomeadamente pela exposição do corredor central através da atracção dos extremos para zonas mais laterais. Algo que os gregos potenciaram na Luz, mas não desta vez. Enfim, aos gregos valeu apenas Roberto, cuja exibição é de tal forma exuberante que dispensa até grandes comentários.

Vitórias morais - Seria absurdo dizer que, perdendo, é preferível ter jogado mal do que bem. Não vou tão longe, mas parece-me que também não há muito a ganhar com vitórias morais. Basicamente, porque a única coisa positiva que pode existir numa derrota é a oportunidade de melhorar, servindo o sentimento de frustração para enfatizar o que há para melhorar. Perder jogando bem, oferece indicações positivas, mas induz também um sentimento de conformismo perante o insucesso, o que me parece perigoso. É verdade que o Benfica jogou bem, muito bem mesmo, mas não partilho da convicção de que isso possa ser um indicador tão claramente conclusivo em relação ao futuro próximo da equipa. Um jogo de cada vez, e da Grécia sobra apenas uma certeza: a derrota.

Sistema, o eterno sofisma táctico - A vitória moral no Pireu trará um outro efeito secundário característico. A ideia de que na mudança táctica promovida por Jesus se esconde o elixir do sucesso para o futuro equipa. Nomeadamente, claro, a mudança de sistema, utilizando 3 médios. Em primeiro lugar, estamos perante uma situação isolada, um jogo, e cada jogo tem o seu contexto único e irrepetível, sendo sempre muito pouco para que se retirem conclusões absolutas seja do que for. Depois, não foi a primeira vez que o Benfica jogou com 3 médios. Fê-lo, por exemplo, frente ao Marítimo e frente ao PSG, possivelmente duas das menos conseguidas exibições da equipa nesta temporada. Porque é que se haveria de concluir agora sobre as maravilhas de uma alteração estrutural, quando noutras ocasiões os resultados foram tão diversos? Parece-me, no mínimo, uma análise forçada.
Enfim, na minha perspectiva, estabelecer relações causais e simplistas entre sistemas tácticos e performance qualitativa só pode redundar em sofismas. No caso do Benfica, é verdade que a equipa tem uma forma particular de jogar, com bola incluindo pouca gente no corredor central, e sem bola arriscando muito em termos de presença pressionante. Algo que a expõe bastante especialmente perante adversários de maior valia técnica. Mas isso não tem a ver com o sistema, mas sobretudo com a dinâmica idealizada para os processos nas diferentes fases do jogo. E essa é que é verdadeiramente a questão...

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