1.11.13

Chelsea - Man City; Barça - Real

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Chelsea - Man City: Já quase em sobreposição com o próximo fim de semana, deixo as minhas notas sobre dois jogos que animaram as ligas espanhola e inglesa. Desrespeitando a ordem cronológica, começo pelo jogo de Stamford Bridge. Mourinho conseguiu uma vitória importante, provavelmente contra o melhor conjunto de individualidades da Premier League. Não menos importante, para o treinador português, serão alguns sinais de evolução que a equipa vai dando. Com bola, e relativamente aos primeiros jogos, há hoje uma ocupação mais lógica dos espaços, nomeadamente com a largura oferecida por Schurrle, e várias unidades parecem também aparecer num momento mais positivo, como Torres, Willian ou Mata. Ainda assim, e como o jogo bem mostrou, com bola o Chelsea está ainda longe de ser uma equipa especialmente forte. Por outro lado, não tenho dúvidas de que é já uma das equipas mais fortes em termos defensivos, mesmo quando a enquadramos no panorama europeu. Sem assumir grandes riscos em termos de profundidade (ao contrário do Man City), mas preferindo aguentar em zonas baixas, onde consegue uma excelente ocupação dos espaços, devido ao sentido posicional e capacidade de intervenção da sua linha defensiva, mas também à solidariedade das restantes linhas - em particular destaque o papel dos dois médios, que me parecem também melhor do que nos primeiros jogos.

Relativamente aos dois lances que inclui no vídeo, no primeiro caso a nota vai para o efeito da linha limite da área. Muitas equipas - onde se inclui o City - utiliza essa marcação como referência posicional para a sua linha defensiva em situações de jogo mais próximas da sua área. Isto, claro, facilita o correcto alinhamento da equipa, mas também pode facilitar a acção dos avançados se, como fez Torres, também eles usarem a mesma linha para se manterem no limite da legalidade sem ter de se preocupar com a dinâmica circunstancial de cada defensor. E foi assim que Torres conquistou a oportunidade para o clamoroso falhanço que se seguiu. Outro ponto a questionar neste lance é, claro, se a linha defensiva tem condições para oferecer espaço nas suas costas quando quem vai cruzar não tem qualquer condicionamento?
Sobre o lance do golo, também alguns pontos de interesse. Em primeiro lugar, a utilização de Ivanovic (um jogador que pessoalmente aprecio bastante) para a primeira bola ofensiva. Um lateral direito!! O facto é que este movimento é recorrente no Chelsea, tirando partido da extraordinária capacidade aérea do sérvio, mas também do bom posicionamento da equipa para a abordagem da segunda bola (o posicionamento de Torres e Schurrle, nas costas de Ivanovic, também é propositado. Depois, o demérito defensivo do Man City, que se vê batido pela acção de apenas 2 jogadores. Mérito para Torres, na construção do lance, e Schurrle, na abordagem à zona de finalização, mas havia também muito mais a fazer por parte dos defensores. Em especial, a forma como Torres constrói o lance em inferioridade numérica, aproveitando a falta de sintonia entre a acção de quem está em contenção (Clichy) e quem faz a cobertura (Fernandinho). Porque se a cobertura é interior, era para esse lado que a contenção deveria ter orientado a acção de Torres.

Barça - Real - Estou de acordo com a decepção generalizada sobre este jogo. É verdade que continua a não ser possível exigir um confronto que envolva muito mais qualidade do que este e que Barça e Real continuam a oferecer a mais rica colecção de individualidades do futebol mundial. O problema é que para além da excelência dos protagonistas directos, entretanto nos habituamos também a ver duas equipas orientadas por aqueles que são, provavelmente, os dois mais entusiasmantes treinadores do futebol mundial. O problema fundamental, por isso, será estarmos todos mal habituados.
Relativamente a aspectos mais concretos, podemos falar da forma como o Barça gere a sua posse, mantendo obviamente muita qualidade nesse processo, mas perdendo também critério e uma presença colectiva que potencie a posse como aconteceu nos últimos anos. A mim, o que mais me chamou à atenção foi a forma como o Barça geriu a vantagem que cedo conquistou. Não apenas por não ter usado a posse para o fazer, mas também pela forma como pareceu mais confortável ao recuar as suas linhas, algo que no passado raramente se viu.
Quanto ao Real, não pode ser surpresa a linha de 3 de Ancelotti, uma ideia que traz com ele desde os tempos do Milan, e que incidiu muito nas coberturas feitas pelos médios às zonas laterais, tentando condicionar o instinto natural de Neymar e Messi para as diagonais interiores. O problema maior, pareceu-me, foi a forma como a equipa assumiu o risco de exposição da linha defensiva, mesmo que recorrentemente não tenha conseguido manter presença pressionante sobre o portador da bola.
Este comportamento do Real, quer no que respeita à preocupação com a proximidade dos médios aos corredores laterais, quer na forma como a equipa manteve o risco de exposição nas costas da linha defensiva é bem retratado no lance que incluí do vídeo. Modric é quem tenta condicionar o movimento interior de Messi, mas a restante equipa não fecha no corredor lateral, permitindo que Iniesta receba, se vire e fique em condições para tentar o passe de rotura, uma vez que entretanto a defesa do Real se manteve indiferente ao que estava a acontecer. Valeu ao Real a menor inspiração de Messi e, claro, a extraordinária capacidade de reacção de Pepe.

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