22.8.11

Porto - Gil Vicente: opinião

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- Há, na minha leitura, dois focos de preocupação em relação ao momento do Porto. O primeiro, tem a ver com alguns sinais de dificuldade na imposição de um jogo mais forte, a partir do momento de organização. O segundo, está relacionado com o futuro imediato. Quer pela chegada de vários jogadores que trarão implicações na definição do onze base, quer pelo impacto emocional, ao nível da auto estima e confiança, que prometem ter os duelos europeus. Particularmente, claro, a supertaça europeia. É que, para uma equipa habituada a ganhar e que colocou a fasquia em tão alto patamar, qualquer resultado não será irrelevante, no embate frente ao Barcelona.

- Recuperando o jogo frente ao Gil Vicente, devo começar por dizer que foi um jogo anormalmente mal conseguido por parte do Porto. O resultado, e a velocidade com que este foi invertido, serve de atenuante para a percepção geral, mas, com rigor, o Porto fez pouco para justificar o conforto de que usufruiu em toda a segunda parte.

- O principal problema? Não lhe reservando exclusividade, até porque ela raramente existe no futebol, colocaria, ainda assim, todos os focos na organização ofensiva e, em particular, na fase de construção. E, aqui, divido as implicações no sentido das duas balizas. Ou seja, os problemas neste momento tanto deram para potenciar o momento de transição do Gil Vicente, causando problemas atrás, como implicaram uma dificuldade em chegar de forma fluída e continuada ao último terço, impedindo a equipa de ter uma relação mais próxima com o golo. Não admira as implicações desta dificuldade, não apenas pela importância que o Porto atribui a este momento, mas porque qualquer equipa "grande" dele depende, perante o tipo de oposição que invariavelmente é apresentada.

- Entrando no pormenor da construção, continua-se a verificar uma tendência para repetir movimentos de saída, que venho identificando desde o jogo com o Lyon. Bola a sair preferencialmente pelos centrais ou médios, que procuram, normalmente, uma de duas alternativas. Ou exploram as combinações no corredor, entre o lateral e o extremo, com este último a fazer um movimento interior, em direcção ao espaço "entrelinhas". Ou, noutra alternativa em que os laterais permanecem baixos, é tentada uma ligação directa com o extremo. É este último caso, da ligação directa com o extremo, que tem sido tentado com maior frequência, creio, porque os movimentos sem bola alternativos muitas vezes nem chegam a ser feitos, com o desconforto que a equipa parece sentir. O problema da ligação directa com o extremo é que fica, depois, tudo muito dependente da resposta individual que este possa dar. Quando, como neste caso com Varela, a inspiração não é muita, os problemas saltam à vista...

- Há duas situações que gostaria de explorar, ainda neste ponto. O primeiro tem a ver com a situação paradoxal dos médios. Da notória intenção para lhes dar protagonismo na construção, tem resultado uma ausência prática, em termos de relevo ofensivo. Isto, porque não entrando na primeira fase, devido ao condicionalismo do adversário, os médios ficam igualmente ausentes no último terço, com o apelo que tem sido feito à dinâmica dos corredores laterais. Uma situação que, neste jogo, apenas foi interrompida após a entrada de Belluschi, uma solução que talvez mereça mais tempo, já nesta altura. O outro aspecto, tem a ver com o papel do avançado na construção. É um tipo de intervenção mais falada, do que constatada. Ou seja, escreve-se, e fala-se, muito sobre a importância destes movimentos (apoios frontais dos avançados), mas, em organização ou ataque posicional (em transição, ou ataque rápido, é diferente), eles são muito raramente solicitados pelas equipas, sejam elas quais forem. Enfim, "conversas" à parte, o ponto é que Kléber tem-se revelado uma solução muito pouco procurada. Percebe-se a dificuldade, e o risco que representa este tipo de solução em termos de perda e consequente transição, mas, ainda assim, creio que Kléber pode ser mais explorado, porque é muito forte neste plano.

- Sobre o jogo, resta-me falar de 2 jogadores. Hulk, claro, porque é a ele que o Porto deve a facilidade com que resolveu o problema. Aliás, é notável o seu protagonismo, num jogo onde o Gil Vicente conseguiu fazer canalizar o jogo para a esquerda, capitalizando o mau momento de Varela. Tinha escrito que ele (Hulk) estava, de novo, a por-se a jeito para ser a figura da prova e... ele aí está. Sem surpresa, é o que se pode dizer. Do outro lado, Hugo Vieira. O Gil conseguiu excelentes resultados ao nível da recuperação alta, e do potenciamento do erro. Em grande parte, deve-o à extraordinária reactividade de Hugo Vieira.
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