2- Aproveito a introdução para uma primeira referência individual: Gaitan. Se há jogador que merece reparo, no que respeita ao que escrevi anteriormente, é Gaitan. Falhou no golo sofrido, num mau ajustamento posicional nas costas de Maxi, mas essa não é critica que mais lhe cabe. Aliás, revelou, até, boa capacidade de trabalho defensivo ao longo do jogo. Normalmente, tem-na. O problema, como facilmente se percebe, é a atitude. Gaitan tem talento e tem, até, capacidade de trabalho defensivo que pode fazer um jogador de grande intensidade e utilidade em todos os momentos do jogo. Diz-se que pode ser um grande jogador (ainda mais), e pode. Mas não o será, nunca, pelo mero aprimorar da arte dos seus números. Isso dar-lhe-á mais prémios "jogador youtube da semana", mas nunca potenciará a capacidade para jogar em patamares de exigência mais elevados. Se o objectivo é potenciar Gaitan, há que trabalhar a sua intensidade, a sua concentração e o seu critério. Porque, a menos que me tenha escapado alguma coisa sobre este assunto, o futebol ainda não contempla notas artísticas no apuramento do resultado final.
3- Voltando ao inicio do jogo, devo dizer que, apesar do conforto sempre presente no jogo e na eliminatória, estou longe de ter achado ideal a exibição protagonizada. Começando pelo relevante detalhe da organização defensiva, o Benfica apresentou-se, sem supresa, em 4-4-2, com Aimar e Saviola a pressionar numa primeira linha, e um bloco mais baixo do que é habitual. O que se viu, porém, revelou uma organização ainda débil e vulnerável a uma circulação mais capaz que, para fortuna do Benfica, nunca existiu no Trabzonspor. Pela modéstia da posse e circulação adversária se justifica o controlo do jogo por parte do Benfica. Porque, ver jogadores a fazer movimentos de pressão activa enquanto olham, sucessivamente, para trás e gesticulam, não é um bom indício de qualidade organizativa e, sobretudo, de uma assimilação ideal de tudo o que, colectivamente, devem fazer. Há, de facto, trabalho a fazer em termos de organização colectiva, e parece-me claro que Jesus o sabe bem (também ele gesticulou muito sobre este aspecto).
4- Sobre a utilização de uma estrutura mais protegida na zona central, devo dizer que acho prudente que assim aconteça. Aliás, entendo que o Benfica não deveria fazê-lo de forma alternativa, e apenas em jogos de maior grau de dificuldade, mas que pudesse trabalhar uma estrutura em que se apresentasse em todos os jogos, variando apenas na vertente estratégica. O que se passa, é que o 4-1-3-2 actual expõe demasiado o pivot, havendo frequentemente uma grande distância para os outros elementos da linha média. Este não foi o principal (e decisivo, na minha opinião) problema do Benfica da época anterior, esse foi a segurança em posse, mas entende-se a preocupação de Jesus. O ponto que quero vincar é que a equipa ganharia em termos de consistência de processos se encontrasse uma estrutura que fosse omnipresente (mesmo que fosse o 4-1-3-2, mas com outras dinâmicas).
5- Partindo para o capítulo individual, começo por trás. Emerson e Garay foram as novidades, e ambos estiveram bem, ainda que apenas razoavelmente. Abaixo de Maxi e Luisão, por exemplo. Emerson (que já conhecia do Lille) revela-se um jogador mais forte defensivamente. Esteve bem na transição ataque-defesa e apresentou boa capacidade nos duelos e no posicionamento interior. O problema poderá ser a qualidade que dará em termos de dinâmica ofensiva. Era a ideia que tinha sobre ele no Lille, e, se se confirmar essa percepção, haverá uma grande diferença de perfil em relação a Coentrão. Quanto a Garay, compara-lo com Luisão é injusto, porque o central brasileiro foi, outra vez, fantástico defensivamente. Para mim é, de longe, o melhor central do futebol português, e, sem querer entrar em hierarquizações discutíveis, diria apenas que o imagino a jogar sem problemas em qualquer clube do mundo.
6- No meio campo, Javi e Witsel estiveram muito bem, à parte dos tais problemas de rotinas colectivas. Javi, esteve concentrado e com boa presença defensiva, não tendo sido testado no seu ponto mais débil, a segurança em posse. Witsel foi a novidade e, sem surpresa face ao que tinha antevisto, revelou-se um jogador de utilidade plena, como muito poucos jogadores conseguem ser. Não teve um papel absolutamente simétrico a Javi, revelando-se até importante face à ausência de Cardozo, já que foi várias vezes referência para as saídas longas de Artur. Foi utilizado em posições mais avançadas, tal como acontece frequentemente na Selecção, mas, pessoalmente, entendo que pode ser mais útil em zonas mais atrasadas. Isto, porque apesar da sua capacidade de envolvimento ofensivo, tem um perfil de decisão muito mais próprio da fase de construção. Veremos como continua a evoluir, mas, o que tinha projectado sobre ele parece, para já, confirmar-se na plenitude.
7- Nas alas, e já tendo abordado Gaitan, falta falar sobre Nolito. Merecerá, a meu ver, o estatuto de melhor em campo porque, mesmo não se tendo revelado tão consistente como Aimar ou Witsel, foi, claramente, o jogador mais decisivo neste jogo em concreto. Marcou o golo, viu outro ser-lhe negado e isolou Gaitan, noutra ocasião soberana. Nolito é um pouco o inverso do argentino que jogou no outro flanco do terreno. Não tem a sua habilidade, mas quando parte para uma jogada, parte com tudo, capaz de passar por cima dos adversários, se tal for preciso. Não precisa do "souplesse" de Gaitan (porque também não o conseguiria). É essa intensidade e essa agressividade ofensiva que mais o distinguem, porque, e apesar de confirmar o bom critério de decisão no último terço, não tem uma grande variedade de recursos ou movimentos. Diagonais interiores e condução agressiva com o pé direito, são as suas armas. Enquanto for decisivo, deverá manter a titularidade, mas não penso que se possa manter muito tempo nas principais preferências sem essa tal influência decisiva. Enzo Perez, por exemplo, é um jogador bem mais completo.
8- Finalmente, Aimar e Saviola. Costumam ser referidos em conjunto, e essa ligação justifica-se por motivos óbvios. Há, porém, grandes diferenças no que ambos fazem no presente. Particularmente, em termos de intensidade, bem que podiam ser de extremos opostos do planeta. Enquanto Aimar empresta uma disponibilidade e agressividade plenas em todos os momentos do jogo, Saviola parece à margem do que se está a passar em seu redor. Recepções perdidas, maus desempenhos técnicos e, sobretudo, uma passividade tremenda a nível defensivo. Jogou ao lado de Aimar, pressionou nas mesmas zonas, mas o que produziu não tem absolutamente nada a ver. Vale-lhe a sua fantástica capacidade de movimentação, tendo um invulgar instinto para aproveitar os espaços livres no último terço. Vale-lhe, mas, se continuar neste nível de intensidade, poder-lhe-á não ser suficiente para durar muito mais tempo no onze. Digo eu. Quanto a Aimar, é um grande jogador e isso não passará com a idade, mas apenas quando perder rendimento, o que ainda não aconteceu. Pessoalmente, parece-me que se justificaria uma adaptação mais especifica a zonas mais ofensivas. Porque Aimar, e ao contrário do que escrevi sobre Witsel, é um jogador de fase criativa e não tanto de construção, e porque a sua reactividade pode dotar a primeira linha de pressão de um rendimento que Cardozo e Saviola não garantem. Por outro lado, se maior especificidade implicasse maior doseamento de esforço, talvez pudesse durar mais do que os actuais 60 minutos que Jesus lhe dá. É que restringir uma mais valia a 2/3 do jogo é uma perda significativa...
3- Voltando ao inicio do jogo, devo dizer que, apesar do conforto sempre presente no jogo e na eliminatória, estou longe de ter achado ideal a exibição protagonizada. Começando pelo relevante detalhe da organização defensiva, o Benfica apresentou-se, sem supresa, em 4-4-2, com Aimar e Saviola a pressionar numa primeira linha, e um bloco mais baixo do que é habitual. O que se viu, porém, revelou uma organização ainda débil e vulnerável a uma circulação mais capaz que, para fortuna do Benfica, nunca existiu no Trabzonspor. Pela modéstia da posse e circulação adversária se justifica o controlo do jogo por parte do Benfica. Porque, ver jogadores a fazer movimentos de pressão activa enquanto olham, sucessivamente, para trás e gesticulam, não é um bom indício de qualidade organizativa e, sobretudo, de uma assimilação ideal de tudo o que, colectivamente, devem fazer. Há, de facto, trabalho a fazer em termos de organização colectiva, e parece-me claro que Jesus o sabe bem (também ele gesticulou muito sobre este aspecto).
4- Sobre a utilização de uma estrutura mais protegida na zona central, devo dizer que acho prudente que assim aconteça. Aliás, entendo que o Benfica não deveria fazê-lo de forma alternativa, e apenas em jogos de maior grau de dificuldade, mas que pudesse trabalhar uma estrutura em que se apresentasse em todos os jogos, variando apenas na vertente estratégica. O que se passa, é que o 4-1-3-2 actual expõe demasiado o pivot, havendo frequentemente uma grande distância para os outros elementos da linha média. Este não foi o principal (e decisivo, na minha opinião) problema do Benfica da época anterior, esse foi a segurança em posse, mas entende-se a preocupação de Jesus. O ponto que quero vincar é que a equipa ganharia em termos de consistência de processos se encontrasse uma estrutura que fosse omnipresente (mesmo que fosse o 4-1-3-2, mas com outras dinâmicas).
5- Partindo para o capítulo individual, começo por trás. Emerson e Garay foram as novidades, e ambos estiveram bem, ainda que apenas razoavelmente. Abaixo de Maxi e Luisão, por exemplo. Emerson (que já conhecia do Lille) revela-se um jogador mais forte defensivamente. Esteve bem na transição ataque-defesa e apresentou boa capacidade nos duelos e no posicionamento interior. O problema poderá ser a qualidade que dará em termos de dinâmica ofensiva. Era a ideia que tinha sobre ele no Lille, e, se se confirmar essa percepção, haverá uma grande diferença de perfil em relação a Coentrão. Quanto a Garay, compara-lo com Luisão é injusto, porque o central brasileiro foi, outra vez, fantástico defensivamente. Para mim é, de longe, o melhor central do futebol português, e, sem querer entrar em hierarquizações discutíveis, diria apenas que o imagino a jogar sem problemas em qualquer clube do mundo.
6- No meio campo, Javi e Witsel estiveram muito bem, à parte dos tais problemas de rotinas colectivas. Javi, esteve concentrado e com boa presença defensiva, não tendo sido testado no seu ponto mais débil, a segurança em posse. Witsel foi a novidade e, sem surpresa face ao que tinha antevisto, revelou-se um jogador de utilidade plena, como muito poucos jogadores conseguem ser. Não teve um papel absolutamente simétrico a Javi, revelando-se até importante face à ausência de Cardozo, já que foi várias vezes referência para as saídas longas de Artur. Foi utilizado em posições mais avançadas, tal como acontece frequentemente na Selecção, mas, pessoalmente, entendo que pode ser mais útil em zonas mais atrasadas. Isto, porque apesar da sua capacidade de envolvimento ofensivo, tem um perfil de decisão muito mais próprio da fase de construção. Veremos como continua a evoluir, mas, o que tinha projectado sobre ele parece, para já, confirmar-se na plenitude.
7- Nas alas, e já tendo abordado Gaitan, falta falar sobre Nolito. Merecerá, a meu ver, o estatuto de melhor em campo porque, mesmo não se tendo revelado tão consistente como Aimar ou Witsel, foi, claramente, o jogador mais decisivo neste jogo em concreto. Marcou o golo, viu outro ser-lhe negado e isolou Gaitan, noutra ocasião soberana. Nolito é um pouco o inverso do argentino que jogou no outro flanco do terreno. Não tem a sua habilidade, mas quando parte para uma jogada, parte com tudo, capaz de passar por cima dos adversários, se tal for preciso. Não precisa do "souplesse" de Gaitan (porque também não o conseguiria). É essa intensidade e essa agressividade ofensiva que mais o distinguem, porque, e apesar de confirmar o bom critério de decisão no último terço, não tem uma grande variedade de recursos ou movimentos. Diagonais interiores e condução agressiva com o pé direito, são as suas armas. Enquanto for decisivo, deverá manter a titularidade, mas não penso que se possa manter muito tempo nas principais preferências sem essa tal influência decisiva. Enzo Perez, por exemplo, é um jogador bem mais completo.
8- Finalmente, Aimar e Saviola. Costumam ser referidos em conjunto, e essa ligação justifica-se por motivos óbvios. Há, porém, grandes diferenças no que ambos fazem no presente. Particularmente, em termos de intensidade, bem que podiam ser de extremos opostos do planeta. Enquanto Aimar empresta uma disponibilidade e agressividade plenas em todos os momentos do jogo, Saviola parece à margem do que se está a passar em seu redor. Recepções perdidas, maus desempenhos técnicos e, sobretudo, uma passividade tremenda a nível defensivo. Jogou ao lado de Aimar, pressionou nas mesmas zonas, mas o que produziu não tem absolutamente nada a ver. Vale-lhe a sua fantástica capacidade de movimentação, tendo um invulgar instinto para aproveitar os espaços livres no último terço. Vale-lhe, mas, se continuar neste nível de intensidade, poder-lhe-á não ser suficiente para durar muito mais tempo no onze. Digo eu. Quanto a Aimar, é um grande jogador e isso não passará com a idade, mas apenas quando perder rendimento, o que ainda não aconteceu. Pessoalmente, parece-me que se justificaria uma adaptação mais especifica a zonas mais ofensivas. Porque Aimar, e ao contrário do que escrevi sobre Witsel, é um jogador de fase criativa e não tanto de construção, e porque a sua reactividade pode dotar a primeira linha de pressão de um rendimento que Cardozo e Saviola não garantem. Por outro lado, se maior especificidade implicasse maior doseamento de esforço, talvez pudesse durar mais do que os actuais 60 minutos que Jesus lhe dá. É que restringir uma mais valia a 2/3 do jogo é uma perda significativa...