1.5.10

1986: Nem Deus, nem diabo... Maradona!

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É até escusado introduzir. O México 86 não será nunca um mundial igual aos outros devido a ele. Maradona. A História do futebol diz-nos que não chega o talento. São precisos momentos especiais nos grandes palcos para que os maiores craques virem lendas. E, neste contexto, ninguém terá tido um processo de imortalização como Maradona naquele Mundial. Para a posteridade, como se não bastasse um título praticamente “a solo”, fica um jogo em que teve o condão de protagonizar, em menos de 5 minutos, aqueles que foram, provavelmente, os 2 momentos mais memoráveis na História do Jogo. Dir-se-ia que se, naquela tarde de 22 de Junho, Deus e o diabo desceram ao estádio Azteca, então certamente que se cruzaram!

Na verdade, fazendo uma contextualização cronológica do Jogo, o Mundial de 86 representa uma espécie de retrocesso brusco na evolução da importância do colectivo sobre o individual. De repente, parecia que tudo se definia pela qualidade de 1 só jogador. Maradona era o centro do jogo argentino de uma forma que mais nenhum jogador conseguia ser, e – espante-se! – isso parecia fazer dos argentinos imbatíveis. Digamos que no alinhamento do 11 argentino importava Maradona e tudo o resto era excesso de informação.

No que respeita ao jogo, ele foi, como não podia deixar de ser, ditado pela evolução do próprio 10 argentino na partida. Os ingleses entraram visivelmente temerosos e encolhidos. A tal ponto que se pode dizer que a Argentina dominava territorialmente quase sem fazer nada por isso. O que se passou depois foi um processo de descompressão táctica inglesa, com a equipa a alongar-se progressivamente no campo. À medida que o foi fazendo, porém, foi também criando mais e mais espaços entre linhas, mais e mais oportunidades de transição. E, assim, foi-se criando o "ambiente" para Maradona, até à dupla inspiração do capitão argentino. Depois do 2-0, o jogo mudou radicalmente. A Argentina baixou e os ingleses passaram a dedicar-se a um assalto à área contrário, muitas vezes através do seu célebre pontapé longo. Barnes, uma espécie de “Maradona inglês”, criou de forma soberba o 2-1 que Lineker encostou. A mesma jogada, aliás, voltou a ser protagonizada pelos mesmos pouco depois e quase forçou um empate, na sequência de uma perda de bola de... Maradona.

Sobre Maradona, há algo que queria acrescentar. Desde muito cedo na sua carreira se percebeu que estava ali um talento raro. Aliás, a grande diferença entre a Argentina de 82 e 86 era precisamente a percepção de quem era a sua grande referência. Provavelmente o título de 78 e o protagonismo dos seus heróis terá dificultado esta compreensão e isso impediu outro trajecto no mundial de Espanha. Mas o que quero realçar sobre Maradona, individualmente, é algo que raramente é referenciado. Obviamente que a sua visão e técnica foram os ingredientes que o tornaram especial, mas também no aspecto físico Maradona era excepcional. As suas progressões em posse, as suas mudanças de direcção só foram possíveis pela agilidade e capacidade de equilíbrio que possuía. Algo que se foi tornando menos evidente com o evoluir da carreira, mas que fica muito claro quando se vê Maradona nos seus primeiros anos.



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