3.5.10

Porto - Benfica: Diferença de carácter

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Mais do que um jogo, era um duelo. Jogava-se a honra de um lado e a afirmação de um estatuto do outro. E a diferença ter-se-á feito pela compreensão do que estava em causa muito mais do que por aspectos técnico-tácticos. É que se o Porto não se conseguiu superiorizar no fluxo normal do jogo, teve outro carácter na hora de puxar dos galões. Talvez seja mesmo a palavra essencial: carácter.

O mérito do dragão
Nestas coisas do futebol é sempre assim. Só há lugar para um. Assim, no final, todos os outros são maus. É o que está a acontecer com este Porto e com Jesualdo. A verdade é que não só o Porto continua a ser uma equipa muito forte – como frequentemente o faz questão de provar – como o trabalho de Jesualdo não sai minimamente debilitado com a época que está a realizar. Pelo contrário.

O Porto, como disse antes, não foi uma equipa mais forte do que o Benfica enquanto o jogo esperava um momento de definição. Equilibrou as operações, é verdade, mas não evitou uma ligeira superioridade do Benfica, espelhada na qualidade de circulação e na capacidade de recuperação, jogada após jogada. Era, de resto, já normal que não o fosse, tendo em conta a força do adversário e, por outro lado, a “frescura” das sua própria estrutura.

Diria, portanto, que no aspecto colectivo, em termos técnico-tácticos, o Porto esteve bem. E apenas “bem”. Onde esteve soberbo foi no carácter. Na capacidade de esperar pelo momento certo para ganhar vantagem. Na alma com que se reergueu de um momento francamente difícil. Na inspiração com que, finalmente, “matou” um adversário.

Ganhar como o Porto ganhou... não é para todos!

As questões de Jesus
Ninguém pareceu muito preocupado com a derrota... afinal o título é praticamente uma evidência. A verdade é que, na minha opinião, o que se passou no Dragão deveria preocupar muito Jorge Jesus. A qualidade do seu modelo é o grande segredo do sucesso desta equipa, aquele que mais merece ser relevado, mas há algo de estranho neste Benfica. Algo que parece afastar os resultados do verdadeiro potencial que a equipa reflecte no campo. Um sintoma que já aqui havia identificado e que parece ser ponto comum das equipas de Jesus.

Há algo de paradoxal num treinador que explode perante um passe errado de um jogador e que, depois, afirma ter dito aos jogadores ao intervalo que não era obrigatório ganhar aquele jogo, que havia mais 90 minutos. Não que isso explique por si só o insucesso da equipa neste jogo concreto, mas porque há indícios de uma desvalorização estranha de objectivos importantes e que estão perfeitamente ao alcance da equipa.

Se o Benfica é melhor – que é! – e se vê perante um adversário em inferioridade numérica, num jogo decisivo e num campo onde ganhar não seria apenas “mais uma vitória”, porque razão será aceitável perder?! Estes, mais do que qualquer outros, são os jogos em que é preciso ganhar. Porque é nestes jogos que se fazem as grandes equipas.

Questões como deixar Aimar de fora e substituir Saviola numa fase crucial do jogo merecem ser levantadas, mas esse nem me parece ser o ponto essencial da questão. O que sobra a este Benfica em qualidade e potencial falta-lhe em capacidade de superação nos momentos chave. Será (seguramente!) campeão porque foi muito melhor, mas esta incapacidade afasta-o do nível de excelência que estava ao seu alcance.



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