Pressionar alto, com ou sem o “recurso táctico”
Recurso táctico. Pode parecer estranho esta designação mas é essa a potencialidade real da regra do fora de jogo no futebol moderno. É graças a ela que as equipas podem ter como estratégia jogar com a sua última linha defensiva subida, aproximando sectores e defendendo mais longe da sua baliza. Um exemplo evidente da utilização deste recurso é o modelo de jogo de Jorge Jesus. Nesse caso, a equipa sobe em bloco e pode fazê-lo sem esticar a equipa, mantendo a largura. A vulnerabilidade está, como é óbvio, na profundidade, nas costas da defesa.
Apesar de tentar fazer um pressing alto em muitos jogos, o Sporting utiliza muito pouco o recurso do fora de jogo. A solução passa por tornar a equipa mais estreita, não tendo vulnerabilidade na profundidade (ou seja nas costas dos defesas), mas sim em largura, tornando-se complicado sempre que o adversário muda de flanco. Na minha opinião esta é uma solução mais exigente em termos tácticos, embora o Sporting seja um caso de sucesso evidente pela competência com que a interpretou ao longo da era Paulo Bento.
Polga, o "anti fora de jogo"
O lance é muito claro sobre a pouca focalização do Sporting em relação à arma do fora de jogo. Em particular, Polga. Bastaria o central ter evitado recuperar e a jogada ficaria imediatamente inviabilizada. Pelo menos o passe para Jovetic. Polga, pouco inteligentemente, fez exactamente o que convinha à Fiorentina. Tentou recuperar posição, não foi a tempo e, pior do que isso, reabilitou Jovetic. Este não é um lance virgem em Polga, que, claramente, não tem o fora de jogo como solução interiorizada para dela se poder servir quando necessário.
Porque é que o Sporting não utiliza o fora de jogo como arma táctica? A resposta pode estar precisamente em Anderson Polga. É um jogador nuclear para o modelo do Sporting. A sua importância tem a ver, sobretudo, com a qualidade que tem com bola, sendo a referência para o primeiro passe em organização. Ora, para além desta característica, Polga tem outras. Por exemplo, a dificuldade em recuperar defensivamente, sentindo-se altamente desconfortável a jogar com espaço nas suas costas (não é por acaso que o seu pior momento foi com Peseiro). Por isso, para ter Polga nas contas, Paulo Bento teria sempre de ter um modelo que não recorresse à arma do fora de jogo. Compreende-se perfeitamente a opção, bem como a obrigatoriedade de a manter perante as características dos jogadores. Com Carriço, no entanto, começa a sentir-se que Polga poderá deixar de ser tão fundamental, que o “patrão” poderá mudar, e que o espaço nas costas não terá de ser tanto um problema. Não é uma transição simples de fazer e não sei se alguma vez acontecerá ainda com Paulo Bento, mas confesso a curiosidade para ver o que traria...
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