8.5.14

Benfica - Rio Ave: estatística e opinião

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Perdoar-me-á a maioria dos que me lêem, onde certamente haverá mais gente a olhar para o jogo do ponto de vista do Benfica, mas vou começar por abordá-lo da perspectiva oposta. Isto, porque é Nuno Espírito Santo quem tem o desafio inegavelmente mais interessante neste duplo-duelo entre Benfica e Rio Ave. O treinador vilacondense certamente terá passado boa parte dos seus dias, nas últimas semanas, a imaginar a melhor forma de se preparar para este jogo. Parte da sua ideia, parece-me, passou por dar ênfase à protecção do corredor central, nomeadamente à acção de Enzo Perez, já que os seus dois homens mais adiantados se fixavam a sua acção pressionante muito por essa zona.

A verdade é que, e depois de um período inicial, a estratégia falhou por completo e o Benfica acabou até por fazer, muito provavelmente, o jogo mais confortável, entre todos aqueles que realizou frente ao Rio Ave nesta temporada. Na minha perspectiva, isto deveu-se ao comportamento das duas equipas nas respectivas fases de construção. No caso do Benfica, a resposta dada ao abrir Amorim sobre a esquerda e tirar partido das características do médio e da liberdade que o Rio Ave oferecia nessa zona, permitiu à equipa levar constantemente o jogo para o último terço ofensivo, relegando o Rio Ave sistemanticamente para zonas defensivas mais baixas e de onde depois era também mais difícil de sair a partir do momento de transição. No caso do Rio Ave, o Benfica conseguiu sempre fazer um condicionamento muito eficaz da fase de construção, o que impediu que a equipa de Nuno Espírito Santo levasse o jogo para zonas mais adiantadas do terreno. Aqui, o meu destaque vai para a ligação nos corredores laterais, com o Rio Ave a ser muito vulnerável à pressão encarnada, sempre que a bola entrava nos seus laterais, faltando eficácia nos movimentos ofensivos que deveriam oferecer condições para houvesse continuidade a partir desse instante.

Seria fácil para mim criticar a opção de Nuno, conhecendo o seu desfecho final. A verdade, porém, é que penso que a abordagem defensiva até nem foi mal equacionada (ofensivamente, serei mais critico em relação a alguns aspectos). Acabou por não conseguir grande eficácia, é um facto, mas aí creio que terá de se ter em conta o mérito do Benfica na resposta ao problema que lhe foi colocado, sendo na minha óptica também muito relevante o facto de ter actuado Ruben Amorim na posição de primeiro médio, o que acabou por oferecer uma característica importante à primeira linha de construção. Há, aqui, que ter também em conta a preponderância das bolas paradas, já que o Rio Ave sofreu os dois golos por essa via, num jogo em que ironicamente até foi quem conseguiu mais cantos a seu favor. Para o Rio Ave será praticamente impossível igualar o Benfica nos restantes capítulos do jogo, pelo que se o não fizer pelo menos ao nível das bolas paradas, então as suas aspirções de sucesso ficam praticamente aniquiladas.

Mantendo o ponto de vista no interessante desafio táctico que é colocado a Nuno Espírito Santo, fico à espera do segundo round, para ver que alterações promove o treinador à sua estratégia.

Individualidades (Benfica)
Oblak - Mais uma exibição sem mácula, onde se destaca a intervenção na fase inicial do jogo, que impediu o Rio Ave de ganhar vantagem.

Maxi - Bom jogo em praticamente todos os planos, mas também sem lugar a deslumbramentos.

Siqueira - Começou por ter alguns problemas com o protagonismo inicial de Pedro Santos, mas depressa o Rio Ave deixou de ser ameaçador e Siqueira partiu para uma exibição confortável no plano defensivo. Ofensivamente, e dando sequência à boa fase que atravessa, conseguiu ser dos jogadores com maior participação directa nas ocasiões criadas pela equipa, o que para um lateral é um feito assinalável.

Luisão - Mais uma exibição em cheio! Bom critério posicional, nomeadamente definindo bem quando devia cortar a profundidade ou manter a altura da linha defensiva. Dominador nas primeiras bolas aéreas, onde ganhou um sem-número de duelos, nas reposições longas de Ventura. E, finalmente, também preponderante ofensivamente, com mais um golo seu a ficar ligado a um troféu colectivo.

Garay - Não teve o brilhantismo ofensivo de Luisão - ainda que também ele tenha conseguido fazer valer o poder do seu jogo aéreo na área do Rio Ave - mas, a meu ver, com maior amplitude de intervenção do que o central brasileiro. Uma época notável, repito, do argentino, notando-se claramente a sua evolução desde que chegou ao clube.

Ruben Amorim - Esteve, na minha interpretação, ligado à principal ocasião de golo do Rio Ave, demasiado focado na referência individual e desguarnecendo as costas de Enzo Perez, onde ficou livre Tarantini. No entanto, acabou por ser uma peça fulcral na afirmação que a equipa conseguiu impor no jogo, nomeadamente ao colocar-se na meia esquerda e aproveitar o espaço que o Rio Ave oferecia nessa zona para progredir com bola e levar o jogo, sucessivamente, para o último terço ofensivo. Nota ainda para a sua participação no lance do primeiro golo, ganhando o duelo aéreo que coloca a bola nos pés de Rodrigo.

Enzo Perez - O Rio Ave pareceu, estrategicamente, querer bloquear a sua zona de intervenção. Com isto, Enzo não apareceu tanto como primeiro apoio vertical à circulação, mas como a equipa reagiu bem a esse condicionamento táctico, o argentino também acabou por encontrar outras fases do jogo para fazer sentir a sua influência, e acabou mesmo por ser o jogador com mais passes completados no jogo. Muito importante na missão de oferecer equilíbrios à equipa, quer defensivamente quer ofensivamente, teve ainda espaço para ser protagonista em algumas das melhores jogadas da equipa, com destaque para o livre que deu origem ao segundo golo.

Gaitan - Fez um jogo competente, oferecendo um bom sentido táctico, para além da sua habitual mais-valia técnica e criativa. Ainda assim, porém, não foi uma exibição especialmente fulgurante do extremo argentino. Nota para o golo que perdeu e para o facto de ter jogado muito tempo sobre o corredor central, na segunda parte.

Markovic - Foi um jogo pouco inspirado do sérvio, com algumas boas iniciativas, é verdade, mas quase sempre sem ser capaz de as terminar da melhor forma. Assim, acabou por não conseguir estar presente em nenhuma jogada que aproximasse verdadeiramente a equipa do golo, e num jogo de grande presença ofensiva da equipa. Nos outros capítulos, esteve bem, realçando-se o facto de não ter tido problemas com Edimar, normalmente um lateral de grande projecção ofensiva.

Rodrigo - Mais um excelente jogo, com a felicidade e mérito de ter sido um protagonista decisivo na definição do marcador. A sua mobilidade foi sempre um factor desestabilizador para o bloco defensivo do Rio Ave, aparecendo bem entrelinhas e também junto dos corredores laterais. Nem sempre conseguiu dar melhor sequência a essas acções, é verdade, mas no cômputo geral o saldo é indiscutivelmente positivo, sendo o jogador com mais presença nas jogadas que aproximaram a equipa do golo.

Lima - Tal como Rodrigo, ofereceu boa mobilidade ao sector ofensivo, não se fixando junto dos centrais, o que dificultou a missão do Rio Ave. No entanto, e apesar de ter tido até maior volume de jogo, as suas aparições não conseguiram a mesma preponderância do seu companheiro de ataque. Uma tendência que, salvo algumas excepções, foi a regra durante a temporada.

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