21.8.13

Porto: sem danos, mas ficou o aviso

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Segunda vitória em tantos jogos oficiais, desta vez com reviravolta no marcador, e 3 pontos de vantagem sobre o mais directo rival na corrida ao título. Tudo a correr na perfeição para o Porto... Mas estará mesmo?
A vitória no jogo não está obviamente em causa, mas houve vários sinais ao longo da partida que me parecem justificar alguma preocupação. Em particular, destaco dois pontos, ambos relacionados com o jogo ofensivo portista:

1) a dificuldade de utilizar os corredores laterais.
2) a perda de paciência e critério em construção, com o decorrer do tempo.

Relativamente ao primeiro ponto, e não é a primeira vez que me refiro a isto, parece-me importante realçar o aspecto individual, até porque se a dinâmica colectiva é evidentemente fundamental, há também um potencial de rendimento que está absolutamente dependente dos recursos que estão, ou não, disponíveis. No caso do Porto, não foi ainda encontrado um substituto à altura para Hulk e James, e o próprio Varela poderá estar de saída. É por isso natural que os extremos tenham hoje um rendimento relativamente baixo comparativamente ao que aconteceu no passado, sendo responsáveis por um número relativamente reduzido de oportunidades de golo. Iturbe e Kelvin não parecem entrar nas opções, e Licá teve dificuldades gritantes em entrar em jogo, confirmando a ideia de que será uma solução sobretudo para um papel mais vertical. Com Izmailov a ter os problemas que se conhecem, sobra apenas Josué, que curiosamente até jogou grande parte da pré época como médio. É também por este contexto que o caso de Quintero se torna mais urgente. A sua capacidade de desequilíbrio é, nesta altura, uma raridade nas soluções de Paulo Fonseca, e talvez não fosse má ideia testar o colombiano a jogar a partir do corredor direito, potenciando depois as suas incursões pelo corredor central, um pouco à semelhança do que acontecia com James.

Outro ponto evidenciado neste jogo, e que não podia ter sido testado na pré época, foi a questão do critério em construção, e da forma como a equipa reagiria a contextos diferentes. O Vitória definiu uma zona de pressão com inicio na linha média, reduzindo os espaços e impossibilitando o Porto de atrair o bloco contrário através da sua circulação baixa. A questão do relvado pode também explicar os problemas no desempenho técnico, mas a verdade é que o Porto teve muitas dificuldades em dar fluidez à sua circulação, com o Vitória a conseguir várias intercepções dentro do seu bloco. Como se isto não bastasse, a equipa perdeu ainda lucidez e critério, assim que ficou em desvantagem no marcador, descaracterizando a sua habitual circulação paciente e passando a procurar constantes verticalizações no jogo, o que previsivelmente lhe retirou propósito e eficácia (algo que tentei ilustrar no vídeo que acompanha o texto). Como referi acima, não está em causa a justiça do triunfo, até porque há um mundo a separar as duas equipas, mas fico também com a convicção de que, face ao que estava a acontecer, a reviravolta teria sido muito complicada não fosse o momento suicida do Vitória, logo no inicio da segunda parte. Não houve danos, mas ficou o aviso.


Uma nota do lado do Vitória, para o avançado, Ramón Cardozo. Impressionante o trabalho que realizou ao longo do jogo, sendo referência para a construção longa da equipa e conseguindo praticamente sozinho fazer a equipa progredir no terreno, mesmo quando esta já estava reduzida a 10 unidades. Construiu o golo e conquistou também uma série de livres e cantos para a sua equipa. Provavelmente não terá o mesmo rendimento noutro tipo de jogo, mas para esta estratégia pode vir a ser uma arma muito forte para José Mota.

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