9.8.13

Porto: revisão de pré época (aspectos individuais)

ver comentários...
Guarda redes - Não creio que haja espaço para dúvidas ou preocupações no que respeita à baliza. Hélton tem tido um desempenho que me parece impressionante, e sou inclusivamente da opinião de que se trata de um dos factores decisivos para que o Porto tivesse levado a melhor nos últimos dois campeonatos, disputados no "fotofinish" (curiosamente, nos grandes jogos europeus, tem um histórico estranhamente inconsistente). Não incluí os dados relativamente aos guarda redes, na apresentação abaixo, mas Hélton teve pela frente 7 oportunidades de golo contrária, tendo defendido 3 e sofrido apenas 1 (de penalti, por sinal). Fabiano, por seu lado, sofreu 3 e evitou 2, entre as 8 ocasiões que teve pela frente. Sobre Fabiano, nem tenho a mesma base de análise, nem a mesma opinião que tenho sobre Hélton.

Defesas laterais - É uma posição que, à partida, pode ganhar relevância ofensiva nesta época, havendo mais preocupações posicionais por parte dos médios. Ainda não é certo qual a importância real dos laterais para a capacidade de desequilíbrio colectiva, isso irá depender da forma como a equipa venha a evoluir, mas há para já a certeza de que a sua importância não se esgotará na profundidade que forem capazes de oferecer, uma vez que a sua participação começa no envolvimento que têm na fase de construção. Relativamente às soluções existentes, penso que existe bastante qualidade, ainda que sem um grande leque de alternativas. Alex Sandro e Danilo são quem claramente ganha vantagem no arranque de temporada, no entanto os dois ex-santistas têm perfis significativamente diferentes. Alex Sandro mostra-se competente em praticamente todos os aspectos do jogo, dominando o seu corredor com uma naturalidade impressionante (evoluiu de uma forma imprevisível para mim, já que me parecia bastante impulsivo nos tempos do Santos). Mas Alex Sandro não tem a capacidade de Danilo no último terço. O lateral direito é, neste sentido, o oposto do seu homologo do lado contrário. Ou seja, Danilo revela alguma inconsistência nas suas acções defensivas e no envolvimento em posse, mas tem uma capacidade de definição no último terço que faz dele uma arma importante para a equipa. Danilo esteve presente em 6 ocasiões da equipa, apenas superado por Jackson, Varela e Lucho. A outra solução é Fucile, que tem um perfil mais próximo de Alex Sandro, embora sem a mesma qualidade. Mas parece-me uma boa solução, ainda que se o objectivo for dar profundidade ao corredor fará menos sentido que ocupe o lado esquerdo.

Defesas centrais - Há várias soluções para a posição e todas elas deram boa conta de si, sendo difícil escolher, mas muito preocupante a escolha. Isto é, jogue quem jogar o Porto estará mais do que provavelmente bem servido, e Paulo Fonseca pode até decidir em função do que quiser em cada jogo. Talvez a dupla que faça mais sentido seja Otamendi e Mangala, ganhando o Porto sobretudo capacidade de recuperação, o que pode ser importante para quem tem no momento de transição a maior ameaça defensiva. Maicon também justifica confiança, e creio até que poderá facilmente entrar na luta por um lugar durante a época, ficando menos espaço para Abdoulaye e Reyes (que conheço ainda pouco). Com tudo isto, aliás, o mais provável é que não fiquem todos no plantel.

Duplo pivot - A novidade de Paulo Fonseca para o meio campo traz, realmente, uma especificidade diferente ao papel dos médios. Particularmente, a necessidade de dar prioridade à segurança na circulação e ao equilíbrio posicional em posse retira alguma liberdade aos jogadores que desempenham esta função, havendo, na minha opinião, pouca margem para que as diferentes opções se tivessem distinguido umas das outras. Todas cumpriram bem a sua função, mas nenhuma ofereceu à equipa algo de extraordinário em relação às outras. Talvez no futuro isso possa vir a surgir, com o amadurecimento de algumas dinâmicas que nesta altura ainda não se viram. Neste sentido é muito difícil encontrar motivos fortes que justifiquem a escolha de uns em vez de outros, ainda assim parece-me que Fernando e Defour serão os principais candidatos ao lugar. Fernando ganhará vantagem pela sua capacidade de intervenção defensiva, e Defour terá sido aquele que mais dinâmica deu à posição, fruto das suas características individuais. De Herrera, ainda que com muito pouco tempo para grandes conclusões, ficou-me a ideia de uma assinalável capacidade recuperadora e também de uma mobilidade superior à generalidade das alternativas. Josué e Castro também tiveram vários minutos de utilização, cumprindo bem o papel que lhes foi confiado. No caso de Josué, foi também um protagonista nas bolas paradas. Tal como para os centrais, acho difícil que o plantel mantenha tanta gente para a mesma posição.

Médio Ofensivo - Parece-me, sem dúvida, a posição de maior exigência no modelo que Paulo Fonseca quer implementar. Defensivamente, tem de se juntar ao avançado na primeira linha de pressão, mas é importante que faça posteriormente o ajustamento para zonas mais recuadas, em função da jogada. Com bola, cabe-lhe saber movimentar-se no meio do bloco defensivo contrário, onde é mais difícil ter uma boa percepção espacial, e jogar muitas vezes de costas para a baliza, o que representa igualmente um grau de dificuldade acrescido para o desempenho técnico. Não é para todos fazer isso, e o Porto só revelou até agora um jogador capaz de o fazer, dentro destes pressupostos: Lucho Gonzalez. Para este tipo de função, com estas características, não há ainda alternativa no plantel. Mas convém falar de Quintero, claro. Não é preciso um olho de lince para perceber o seu talento, bastava ver uns minutos dos jogos da Colombia em sub 20 para o perceber. Quintero será, nesse aspecto, um caso excepcional. Agora, Quintero não se revelou ainda capaz de ter um bom entendimento táctico da posição... ou pelo menos, é essa a minha análise. Defensivamente, esteve bastante passivo e com pouca intensidade na ocupação dos espaços. Com bola, a sua tendência é baixar constantemente para linhas mais recuadas para procurar assumir a construção, criando com isso redundância com a acção do "duplo pivot", e tendo ainda uma vocação algo excessiva para o drible no corredor central. Parece-me, no entanto, que o seu talento é de facto muito para não ser aproveitado, restando encontrar uma forma de o fazer, seja pelo ajustamento das dinâmicas colectivas às suas características, seja pela sua própria adaptação às exigências colectivas (o que até pode passar por experimentar outro papel).

Extremos - Quando se fala das saídas de Moutinho e James, geralmente tem-se a opinião de que o primeiro fará mais falta. Eu penso o contrário. Não se trata de desvalorizar as capacidades de Moutinho, mas antes de ver na especificidade de James algo mais raro no plantel. Raro e precioso, porque a capacidade de desequilíbrio é fundamental para quem quer ganhar mais jogos do que os outros. Neste sentido, será decisivo, a meu ver, que o Porto consiga encontrar um jogador com a mesma (ou pelo menos próximo disso) capacidade de desequilíbrio no último terço, algo que se esperaria vir dos extremos, mas que ainda não apareceu nesta pré época. Outro problema a resolver nos extremos é encontrar um melhor enquadramento (especificidade) para as suas dinâmicas. Esperar-se-ia, com o posicionamento mais fixo do "duplo pivot", que aparecessem mais movimentos interiores dos extremos, mas isso viu-se ainda muito pouco. A excepção terá sido a experiência com Josué como extremo, mas mesmo essa alternativa não se revelou ainda muito eficaz. Para já, Varela parece o único jogador com lugar garantido, tendo realizado um bom arranque de temporada. Iturbe e Kelvin podem ser outras alternativas, havendo muito talento, mas ainda grandes problemas em relação à consistência que ambos oferecem nas suas exibições. Em particular, os dois parecem ainda excessivamente reféns do sucesso de iniciativas individuais e pouco capazes de alavancar o seu rendimento através do envolvimento colectivo. Licá é outra hipótese, mais vertical, mas tenho dificuldades em vê-lo a ganhar o lugar.

Avançado - Um pouco como no caso do guarda redes, não há muito a dizer sobre esta posição. Jackson é neste momento indiscutível e tem um rendimento fantástico, sendo forte em praticamente todos os aspectos do jogo. Ghilas é a novidade como alternativa, e não tenho ainda grande opinião formada sobre a sua real capacidade. Para já, esteve uns furos abaixo de Jackson, tanto na capacidade de ser um elemento desequilibrador como no envolvimento no jogo colectivo, onde teve bastantes dificuldades nos primeiros jogos. De todo o modo, Ghilas só deverá mesmo surgir como alternativa, e o Porto só terá um problema se tiver mesmo de recorrer à alternativa.


AddThis