19.12.11

Benfica - Rio Ave: opinião e estatística

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- Todos os jogos começam 0-0, mas, diz-se e eu concordo, nenhum parte totalmente desligado do que ficou para trás. Este, particularmente, terá começado em grande medida na mudança táctica que Jesus introduziu a meio da primeira parte do jogo na Madeira. Witsel passou a jogar na ala, Aimar ao meio e Rodrigo como avançado. O Benfica não impressionou, mas os efeitos foram suficientemente positivos para que Jesus mantivesse a ideia até este jogo, alterando alguns protagonistas, sim, mas repetindo a ideia base. Os cinco golos voltam a dar nova força a uma opção que, em boa verdade, recupera a especificidade da filosofia que marcou as duas épocas anteriores do Benfica, tanto no que de bom traz, como nos riscos que pode acarretar. Sobretudo, é interessante observar as diferenças...

- A grande alteração, a meu ver, está na especificidade do 10. Com Aimar mais recuado, o Benfica ganha maior mobilidade na solução de saída pelo corredor central, mais facilmente explode e desequilibra por essa via, mas também se expõe muito mais ao erro e ao risco de transição. A oportunidade dos méritos ofensivos teve reflexo principal na primeira época de Jesus, a ameaça da perda em fase de construção, por outro lado, ficou bem patente no inicio da temporada passada. Não tem tudo a ver com Aimar, é claro, a própria mentalidade de Jesus o potencia, mas é quando puxa o argentino para zonas de construção que o radicalismo deste futebol de "vertigem e velocidade" (recuperando os termos de Villas Boas) mais se proporciona. Não é difícil percepcionar os méritos de Aimar, e a ameaça que representa quando o jogo se aproxima do último terço, e por isso é um jogador tão elogiado e acarinhado por todos. O seu futebol de toques curtos e repentinos é raro e pode ser devastador quando jogo chega "entrelinhas", mas esse perfil de progressão implica também alguns riscos quando é iniciado mais atrás. É que se o Benfica tem uma reacção muito forte à perda quando a bola chega ao último terço, nem o Benfica nem nenhuma equipa se prepara tacticamente para perder a bola em construção, e esse é o risco que passou a correr, quer na Madeira, quer agora frente ao Rio Ave, com o número de perdas de risco a aumentar em paralelo com o número de oportunidades que a equipa construiu.

- Mas não passa apenas pela alteração no meio campo, a explicação da boa capacidade de desequilíbrio da equipa neste jogo. Há dois nomes que importa referir: Saviola e Nolito. O argentino vem fazendo um campeonato muito bom em termos de capacidade de desequilíbrio (já o ano passado o fez, pelo menos na primeira metade), justificando, a meu ver, mais tempo do que aquele que vem tendo. Nolito, é um caso ainda mais radical. O seu futebol não tem perfume algum, como bem atestam os dois golos que marcou. O primeiro, quase que atropelando a defesa e guarda redes adversários até que a bola entrasse na baliza, numa jogada tão pouco ortodoxa que nem o próprio a deve ter imaginado. O segundo, após dominar menos bem, faz uma abordagem em queda que tanto podia servir de remate como de desarme, mas que acaba por surpreender tudo e todos mais uma vez por ser tudo menos esperada. Nolito não acrescenta grande qualidade às dinâmicas de saída em construção, pelo menos quando se compara com outras soluções, e estou convencido de que é por isso que Jesus não lhe tem dado mais minutos, mas o facto é que nenhum jogador é tão eficaz como o espanhol no que respeita à criação de golos e lances de perigo. E não há nada mais valioso do que um jogador que tem a capacidade de aproximar a equipa do golo. Quando observei os jogos de Nolito no Barcelona B deparei-me esta mesma dificuldade: O jogador criava muitos lances, mas num estilo que era difícil de acreditar poder manter-se com o tempo. Talvez Jesus tenha pensado o mesmo, mas a verdade é que Nolito tem prolongado essa capacidade no tempo e isso deveria justificar-lhe mais tempo de jogo do que aquele que teve até agora. Seja como for, quer Saviola quer Nolito têm concorrência de grande qualidade, e a decisão não é fácil para Jesus.

- É impossível não gostar deste futebol de risco, que potencia momentos de fulgor e êxtase nos adeptos e que é capaz de fazer repetir várias goleadas. Mesmo Witsel, penso ficar mais bem enquadrado na ala. Com esta resposta, Jesus dificilmente deixará de repetir a fórmula na segunda metade da época, mas também estou bastante seguro de que regressará à fórmula anterior, com Witsel no meio e Aimar mais à frente, assim se aproximem os jogos perante adversários de maior calibre.

- Uma palavra para o Rio Ave, que teve boas condições para causar uma surpresa na Luz. Estrategicamente abdicou de um jogo de construção e apostou tudo em fazer chegar o jogo de forma directa à frente da defesa do Benfica. A verdade é que o conseguiu, quer pela boa resposta nessa abordagem mais directa, quer pela qualidade de grande parte dos seus jogadores (Yazalde, provavelmente o mais inspirado). As aspirações da equipa de Carlos Brito, porém, ficaram repentinamente reduzidas a pó, com o final avassalador de primeira parte do Benfica. A grande parte da justificação, é claro, vai para o mérito do jogo do Benfica, mas há também que referir que os de Vila do Conde não tiveram grande felicidade nesse período, sendo a desvantagem de 2 golos provavelmente excessiva ao intervalo...
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