3.4.09

Argentina: recordar a outra humilhação (1993)

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A semana ficou e ficará marcada pela escandalosa e totalmente e inesperada derrocada argentina na Bolívia. 6-1 é um resultado histórico e é preciso regressar até ao Mundial de 1958, quando o futebol argentino tinha um poder completamente diferente, para encontrar um registo exactamente igual (derrota 6-1 frente à Checoslovaquia). Não quero discutir sobre o que é pior ou menos mau, mas não posso deixar de aproveitar este momento para recordar uma outra derrota histórica, bem mais recente. 0-5, no Monumental de Buenos Aires, na recepção à Colombia em 1993.

Começando por contextualizar, jogava-se o último jogo da fase de apuramento para o Mundial de 94. Num formato diferente do actual, Colombia e Argentina lideravam o seu grupo e a Argentina tinha 1 ponto de atraso, fruto da derrota averbada na Colombia por 2-1. O primeiro lugar dava acesso direito aos Estados Unidos, mas o segundo obrigava a um desconfortável playoff com a Australia. A Argentina era bi campeã Sul Americana e vice-campeã do mundo e por isso era natural o seu favoritismo para a vitória que lhe garantiria o apuramento imediato.


Na Argentina jogavam entre outros Goycochea, Redondo, Simeone, Batistuta e ainda o substituto Beto Acosta. Maradona estava de fora, prestes a regressar depois da sua longa ausência devido à utilização de Cocaina. Na Colombia havia aquela que terá sido a sua mais fantástica geração de futebolistas. Valderrama era o “mago” incompreendido pelos europeus, mas idolatrado na América do Sul. Rincon o poderoso médio ofensivo que alinhava no Palmeiras. Asprilla uma estrela emergente do também emergente Parma e Adolfo Valencia o mais desconhecido do quarteto, mas prestes a despertar euforia no mercado europeu. A exibição foi, como se percebe, estonteante, com o quarteto em destaque e Asprilla em particular evidência.

O que se seguiu foi desapontante mas, também, em muitos aspectos previsível. A Colombia foi intitulada como uma das mais sérias candidatas ao título mundial, com Pelé a ser o principal entusiasta da ideia. Nos Estados Unidos, porém, a história não podia ser mais trágica. Um fiasco desportivo, com uma eliminação sem honra nem glória na primeira fase e com esse dado repugnante do assassinato do defesa Pablo Escobar, na sequência de um auto golo durante a competição. A nível individual, Rincon foi rumou do Palmeiras para o Parma, via Parmalat (que tinha parcerias estratégicas com vários clubes importantes como Parma, Palmeiras e Benfica, investindo estranhamente em jogadores), passaria depois pelo Real Madrid, mas a sua carreira foi uma decepção. Adolfo “El Tren” Valencia fez as delicias dos jornais portugueses com uma longa novela que o aproximou do Benfica, antes de rumar, enfim, ao Bayern. Seria também de curta duração a sua fama e depressa foi esquecido. Valderrama já não era propriamente novo e, por isso, sobrou Asprilla. “Tino” era seguramente quem tinha mais potencial e confirmou-o com passagens de sucesso no poderoso Parma e, posteriormente, com grande impacto num Newcastle que fez história com Kevin Keegan. Eu diria, no entanto, que para o seu talento verdadeiramente fora de série, Asprilla ficou aquém do que poderia ter feito.

Quanto à Argentina, seguiu-se então o tal playoff e, depois de um empate a 1 na Australia, um auto golo e uma exibição sofrível valeram, finalmente, o lugar nos Estados Unidos, com Maradona de regresso. O resto é conhecido, entusiasmo inicial, novo escândalo de doping de Maradona em pleno Mundial e eliminação por 3-2 nos oitavos de final frente à Roménia, naquele que foi considerado por muitos o melhor jogo da prova.

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