9.1.09

Os efeitos do golpe de teatro de Soares Franco

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“Um novo ciclo só valeria a pena ser enfrentado se fosse um ciclo de modernização e inovação...”

“Não há nenhuma organização que subsista se não inovar, porque até os países morrem... e acabamos de ver o segundo maior banco do mundo morrer”

“É preciso que os sócios acreditem que vale a pena, para construir uma grande equipa, alocar todos os activos do futebol à Sporting SAD”


“tudo me leva a crer que o que o projecto de inovação e modernidade, comigo à frente do Sporting, não iria seguramente passar numa assembleia geral”

“a negociação com os bancos está fechada e vai dar condições de muito melhor competitividade ao Sporting. Agora, está condicionada a que assembleia geral aprove 2 medidas”

“O projecto de inovação e modernidade não tem ver com isto (aprovação das 2 medidas em AG). Tem a ver com a passagem da Academia e do Estádio para a SAD e com por todos os sócios do Universo português a votarem todos as medidas estruturantes e criar uma assembleia delegada para aprovar os assuntos correntes, tal e qual o Barcelona fez com os seus estatutos”

Soares Franco, RTP

Foi a surpresa do dia. Quando se esperava uma entrevista a anunciar a sua recandidatura, Soares Franco protagonizou um verdadeiro golpe de teatro que, em meu entender, terá até feito com que a própria entrevistadora perdesse alguma capacidade de manter os assuntos dentro do que era mais relevante, provavelmente por ter preparado as suas perguntas para um outro cenário.
Deixo alguns pontos de opinião sobre esta decisão:

Restruturação financeira
- O plano de restruturação financeira apresentado é de facto importante e deixará o Sporting em melhores condições para competir em condições mais próximas com os seus competidores. Ainda assim, os problemas de geração de receitas à volta do Universo de sócios e adeptos impedirão sempre que o Sporting consiga os mesmos níveis orçamentais de Porto e Benfica.

- O grande problema da proposta feita por Soares Franco está nos 55 milhões conseguidos pela venda das VMOC’s. Na prática trata-se de uma venda de participação na SAD que gera muito incómodo a alguns sectores de sócios. Esta é, no entanto, uma situação que, à semelhança do que acontece com Benfica e Porto, não compromete o controlo da SAD devido à existência das tais acções de tipo A que protegem o clube, mesmo sendo minoritário.
- A solução das VMOC’s é, pelo que expliquei anteriormente, impopular mas não me parece comprometer em nada os interesses do clube. Será muito difícil encontrar-se outras soluções para abater igual parcela do passivo.
- Apesar das melhorias que redução do passivo possa trazer, e mesmo com a integração do Estádio e Academia na SAD, o Sporting está longe de poder equacionar ter condições financeiras para competir com os melhores da Europa. Trata-se essencialmente de um problema de receitas (fundamentalmente TV) que afecta o futebol português e que impede qualquer clube de sonhar realisticamente com tal cenário. Infelizmente, ninguém parece querer ver...

Consequências políticas
- Este anúncio tem o condão de desarmar completamente a oposição. Ao abdicar da continuidade, Soares Franco afirma claramente ser interessado mas não interesseiro na questão. A sua ideia pode agora apenas ser criticável pela discórdia de orientação e não sob a tese conspirativa de que Soares Franco estaria a preparar algo para interesse próprio e em prejuízo dos interesses futuros do clube.
- Não creio que a aprovação das VMOC’s fosse tão liquida quanto Soares Franco defendeu na entrevista, mas, pelo ponto anterior, agora será mais do que provável.
- Na mesma linha, creio que um nome que se afirme pela continuidade do ideal defendido por Soares Franco tem agora muito mais probabilidade de ser levado em frente, com a aprovação das alterações que o próprio defendeu. Aliás, Soares Franco parece estar ciente dessa possibilidade quando inclui o “comigo à frente do Sporting” como condicionante.
- Não me parece que a decisão do auto-sacrificio de Soares Franco tenha minimamente esse objectivo, mas não excluo a possibilidade de um volte-face, dependendo do efeito que este anúncio tiver.

Plano Desportivo
- Soares Franco pode estar na eminência de conseguir um acordo financeiro importante para o Sporting, mas o seu grande feito é desportivo. Numa fase de aperto financeiro o futebol melhorou substancialmente as suas prestações e conseguiu, finalmente, mostrar que é viável o projecto de compor uma equipa profissional à base da formação.
- O grande mérito de Soares Franco neste plano é ter dado sempre prioridade à estabilidade. De resto, o sucesso tem um rosto que na minha perspectiva é incontornável: Paulo Bento. A saída de Soares Franco pode garantir (pelo que expliquei antes) uma melhoria financeira, mas isso só será sinónimo de melhorias reais no plano desportivo se as restantes variáveis se mantiverem inalteráveis (“ceteris paribus” para os economistas). Estabilidade e Paulo Bento são essas variáveis e a sua manutenção torna-se, com a saída de Soares Franco, uma incógnita.

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