19.9.06

A "pós-rentré" dos 3 grandes

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Porto - A filosofia da transição
No Porto a introdução do 4x3x3 tem sido o rosto mais evidente de um bem mais vasto processo de adaptação a que a equipa tem sido sujeita. Jesualdo quer uma equipa mais consonante com a exigência dos grandes jogos e aposta na implementação da sua filosofia para atingir essa ambição. Os dragões têm apresentado uma formação mais equilibrada no momento da perda de bola e mais atenta às oportunidades oferecidas pelas descompensações posicionais adversárias. São, no entanto, ainda algumas as lacunas do jogo azul-e-branco: (1) a pressão pouco agressiva permite que os adversários tomem conta da bola durante períodos dilatados, conseguindo estes, por vezes, situações de finalização incómodas. (2) As acções ofensivas em ataque organizado não apresentam ainda uma grande eficácia colectiva. Neste último aspecto, Jesualdo Ferreira usufrui do grande talento individual existente na sua fase de criação como forma de contornar as dificuldades de entrosamento colectivo: A inteligência dos movimentos sem bola de Lucho Gonzalez, a irreverência precoce do talento de Anderson nos ¾ de campo e as incursões explosivas que Quaresma protagoniza a partir das alas têm sido as soluções mais evidentes.
Um Porto em velocidade de cruzeiro foi suficiente para um Estrela sem qualidade competitiva e uma Naval que, embora bem estruturada, foi demasiado inocente na forma como se lançou no ataque, tornando-se a presa ideal para os contra-ataques preconizados pelo “Professor”. A defesa do CSKA e aquele poste no Dragão constituem o único espinho da primeira fase da “Era Jesualdo”.

Lance Capital - De uma ponta à outra do campo
Se há um aspecto em que Jesualdo pode estar satisfeito é com a eficácia das transições. 4 dos 5 golos obtidos nos últimos 3 jogos resultaram da rápida e eficaz exploração da descompensação momentânea dos adversários. O mais interessante dos quais terá sido o que originou a abertura do marcador na Figueira:


- Mário Sérgio sobre a esquerda, precipitou-se no passe interior (1).
- Paulo Assunção, de primeira, serve (2) Lucho que com perspicácia deixa passar para Quaresma (3).
- Entretanto, percebendo o momento de transição Cech inicia a cavalgada pelo corredor esquerdo (4)
- O “cigano” faz uso da sua mais valia técnica para, ultrapassando um adversário directo, entrar em diagonal no espaço livre criado na zona central (5).
- Adriano em diagonal da esquerda para o centro disposiciona o central que estava a compensar a zona desocupada por Mário Sérgio (6).
- Cech aproveita o espaço criado para, após recepção do passe de Quaresma, abrir o activo (7).

Benfica - Os Reús e os responsáveis
Está difícil a vida para Fernando Santos. O Benfica tarda em ver-se livre dos sintomas diagnosticados na pré temporada, apresentando nesta altura duas evidências preocupantes: (1) Os princípios de jogo delineados por Fernando Santos – que assentam, entre outros, numa pressão alta que visa recuperações constantes no meio campo adversário – demoram a ser assimilados pela equipa. (2) A “cabeça quente” demonstrada pelos jogadores desde a pré-época é indiciadora de intranquilidade e desfocalização nos objectivos da equipa. Se a origem do segundo ponto dificilmente poderá ser identificada por quem está “de fora”, o primeiro dos problemas enunciados terá certamente origem na qualidade (ou melhor, na falta dela) do trabalho de campo. Fernando Santos é um homem do balneário que entende e se faz entender na linguagem dos jogadores. É, para além disso, alguém que tem visões próprias e definidas sobre o jogo e como deve ser jogado. Há, porém, um aspecto em que o perfil de Fernando Santos não é rico: o conhecimento profundo dos métodos de trabalho de campo. O “engenheiro” precisa, por isso, de uma complementaridade forte nesta área. Bruno – filho de Rodolfo – Moura foi o escolhido para essa tarefa (curiosamente o anterior predilecto de Santos era João Aroso, entretanto “resgatado” por Paulo Bento) e será ele quem divide com Fernando Santos a responsabilidade pela já assumida lentidão de assimilação dos processos.
O Benfica melhorou com o Nacional. O apoio dos sócios e a qualidade extra emprestada pelo futebol de Simão inspiraram os jogadores encarnados. Foram já visíveis várias recuperações no meio campo adversário e alguma da intensidade pretendida pelo “engenheiro”. Há, no entanto, vários aspectos que estão notoriamente por aperfeiçoar, sendo a tranquilidade da vitória o melhor dos cenários para o fazer...

Lance Capital - A traição de Nelson

No muito dissecado “descalabro” do Bessa não faltaram réus. Entre eles terá emergido Luisão, por muitos responsabilizado no segundo golo de Linz. A defesa de Luisão é aqui justamente feita com uma análise rigorosa ao lance:


- O canto do lado direito do ataque do Boavista é primeiramente afastado, mantendo-se a bola na posse do “xadrez”. A organização defensiva do Benfica sai da zona de área, antecipando-se o isolamento de Luisão (1), face à pouca concentração revelada por Nelson (2).
- Enquanto Grzelak trava o duelo com Leo no lado direito (para onde a bola rápidamente circulou), Luisão levanta o braço reclamando com Nelson que o deixou só entre Linz e Kazmirczak (3), enquanto Anderson está a ocupar a valiosa zona do primeiro poste.
- Entretanto, ninguém apoia Leo no duelo com Grzelak (4) que tem tempo e espaço para trabalhar sobre o lateral brasileiro.
- Aquando do cruzamento, percebe-se que a recuperação de Nelson (5) é demasiado tardia para que Luisão se possa aproximar de Linz e impedir o que haveria de suceder (6).

Sporting - De David a Golias em 3 dias
Pouco tempo depois de ter surpreendido o Inter, o Sporting provou do mesmo veneno ao ser batido por um clube bem mais modesto. Os alertas de Paulo Bento encontraram justificação nos acontecimentos desse Sábado à noite – o Paços era merecedor da maior das concentrações. Na realidade e analisando bem os acontecimentos, não se pode dizer que o Sporting tenha estado propriamente mal. Apesar de não ter entrado com a dinâmica e agressividade aconselháveis, o “Leão” foi sempre equilibrado, nunca permitindo que o Paços encontrasse situações de finalização em zona privilegiada. Reagiu (mais uma vez) bem à inferioridade no marcador, criou situações de golo suficientes para a reviravolta, mas não teve a felicidade necessária.
De facto, não encontro na essência da derrota motivos de acrescida preocupação para os sportinguistas. A equipa tem os seus princípios definidos e assimilados, tem dinâmica, agressividade e grande capacidade de concentração colectiva. Há ainda assim algumas limitações perceptíveis na formação de Paulo Bento: (1) A equipa tem entradas “moles” no jogo, demorando a impor os objectivos do seu futebol no jogo, foi assim nos 4 jogos oficiais jogados. (2) Liedson não parece fisicamente a 100% e tarda em “resolver” – a equipa ressente-se, sobretudo numa altura em que a composição do ataque se encontra ainda em definição.

Lance Capital - Sem mão na zona
O polémico lance do golo do Paços resulta do último de uma série de pontapés de canto que o clube da Capital do móvel conseguiu conquistar. Todos eles foram apontados da mesma forma, cortados ao primeiro poste e se os anteriores haviam sido resolvidos tranquilamente, aquele conseguiu passar o “obstáculo” do primeiro poste sobrando para uma zona morta e, por sinal, mortífera! O Sporting defende os cantos com 3 homens na “zona” – 2 no primeiro poste (um encostado e outro mais afastado) e outro à entrada da área – e os restantes na marcação 1x1. A zona do segundo poste é por isso deixada livre estando à mercê de situações como a que aconteceu no golo do Paços. Não pretendo provar que esta forma de defender os cantos é errada, apenas trazer para este espaço um tema actualmente muito discutido por muitos que defendem a colocação de um elemento na protecção exclusiva daquela zona (o Chelsea de Mourinho, por exemplo, aproveita muito esta situação – basta recordar o golo de Gallas no ano passado frente ao Liverpool).


- Nos momentos antecedentes ao canto é possivel ver os dois jogadores que marcam a zona do primeiro poste (1), a marcação individual iniciada à entrada da área (2) e tal zona desguarnecida, onde iria surgir o golo (3).
- O cruzamento parte e há um mau julgamento do jogador que marca a zona da pequena área (Miguel Veloso) que acaba por perder o lance que cai precisamente na sua área (4). Entretanto Polga, fora da zona da bola, tira os olhos de Ronny (5), que ganha posição.
- O pequeno desvio apanha Ronny solto na tal zona desocupada (6).

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