Se o meio campo fosse uma banda desenhada, Xavi seria, sem dúvida, o maior dos super heróis. Aquele que consegue combinar as características de um 10 clássico e de um 10 moderno, numa fusão tão fantástica que mais parece ficção. Quando olhamos para aqueles quadros tácticos que antecedem os jogos, pensamos que vamos ver uma equipa sem um 10. Na verdade, o que o jogo nos mostra é muito mais do que isso. O Barcelona joga com Xavi, um 6 que é um 2x10. 10 clássico e 10 moderno.
10 clássico
O futebol europeu ter-lhe-á um dia dito: “já não há espaço para ti”. Ao 10 clássico não restou uma de duas opções. A primeira foi a metamorfose. Transformar-se noutra coisa que coubesse nos planos do futebol moderno. A segunda, mais comum, foi o exílio. Como os monarcas vencidos pelas revoluções republicanas, o 10 clássico que não se quis adaptar procurou salvação noutras terras e encontra hoje na América do Sul um paradeiro onde ainda pode ser fiel a si próprio. O problema da relação entre o 10 clássico e futebol europeu foi um problema de tempo e espaço. O 10 clássico, como qualquer artista, precisava destes 2 recursos para criar. O futebol europeu, como qualquer coisa moderna, tinha tudo menos espaço e tempo. Um problema sem resolução aparente até aparecer o Barcelona e Xavi. Xavi, tal como o saudoso 10 clássico, vem à primeira fase, chama a bola a si e pensa o jogo ao longo de toda a zona central. Como o conseguiu no impaciente futebol europeu? Bom, a resposta está na eficácia. Eficácia colectiva, na capacidade que o Barça, como equipa, tem para lhe dar espaço onde ele parecia não existir. Eficácia individual, na fabulosa qualidade técnica do próprio jogador. É que, como 10 clássico que também é, Xavi precisa de tempo e espaço para criar. O ponto é que precisa de muito menos do que os outros.
10 moderno
Sem tempo nem espaço para o criativo, o futebol europeu deu mais importância ao seu antigo ajudante. Aquele que jogava ao lado do 10, que trabalhava mais e que também era capaz de ser determinante ofensivamente, ainda que sem essa obsessão. Assim se fez o 10 moderno. Um jogador para todos os momentos do jogo, que se envolve, tenha ou não a equipa a bola, e que se distingue pela capacidade de pensar rápido em todos os momentos e pela procura incessante dos espaços.Ora, Xavi é também tudo isto. Sem bola, tem um papel fundamental na forma como a equipa pressiona, quer em organização, quer em transição. É ele que se aproxima do 9 para retirar tempo e espaço à construção contrária e é ele que prepara a perda de bola, mantendo-se sempre na zona da jogada. Com bola, como qualquer 10 moderno, tem uma qualidade de movimentos que privilegia a procura de liberdade em zonas fundamentais, como o espaço entre linhas e a zona de finalização.