26.4.10

Leiria - Sporting: Os últimos sinais de Carvalhal

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A proximidade do final da época dita a crescente escassez de oportunidades para ver e avaliar o Sporting de Carvalhal. Esta versão do futebol leonino amplificará a sua pouca relevância histórica com o passar do tempo. Uma consequência, não só do pouco tempo que leva o Sporting com uma marca registrada do ainda treinador e, por outro lado, da pouca importância dos desafios presentes. A avaliação concreta de Carvalhal perante a dimensão do desafio de um “grande” fica, mais do que qualquer outra coisa, adiada. Há coisas boas e menos boas no seu “produto” actual, mas o tempo e condições que lhe foram dadas não são suficientes para isolar alguns enviesamentos.

Enfim, talvez o mais interessante nesta fase seja olhar para o jogo de Leiria, até porque não resta nenhum com este interesse no que há por jogar para o Sporting...

Uma espécie de inexperiência
Fica claro para quem viu o jogo que a principal razão para a não-vitória do Sporting reside sobretudo num desperdício próprio. E “desperdício” não quer dizer apenas ineficácia ofensiva. Quer dizer também dificuldade e incapacidade para manter um controlo constante do jogo. Não foi caso único. Frequentemente vimos, na era Carvalhal, o contraste entre períodos de qualidade e domínio, com esta também identificável incapacidade para manter o jogo dentro do ritmo ideal para os interesses da equipa. São características próprias de equipas mais inexperientes, e ficaremos sempre sem saber se Carvalhal as conseguiria erradicar com outro tempo e condições. Poderia ser que não, mas basta pensar nos primeiros meses de Mourinho no Porto para perceber a diferença que pode fazer um bom planeamento.

As duas faces do jogo
É curioso analisar os dois períodos do jogo. Estranhamente, e ao contrário do que se afirma em função da evolução emocional do jogo, a segunda parte não foi mais repartida em muitos aspectos. Na primeira, o Sporting errou mais e terá tido, na maior parte do tempo, menor domínio territorial. O que acontece é que nesse período o posicionamento do Leiria, mais alto, permitiu ao Sporting dividir o jogo no “miolo”, mas ter sempre mais capacidade para aproveitar momentos de desequilíbrio para chegar com perigo às redes contrárias. E fê-lo, de facto, com frequência.

Na segunda parte, por outro lado, teve uma posse de bola mais trabalhada e aparentemente mais esclarecida, mas falhou no controlo do jogo. O Leiria passou a jogar mais baixo, mas a conseguir muito mais espaço em transição. Algo que, creio, foi intencional, até pelas características de Vitor Moreno, a novidade como falso lateral. De repente, o Sporting perdeu o controlo do jogo, permitindo que este se partisse com frequência e vendo, por exemplo, Silas ter mais espaço para aparecer com qualidade. Para que o domínio do Sporting tivesse mais consequência teria de haver maior capacidade e agressividade na reacção à perda de bola. Ganhá-la imediatamente após a perda era fundamental, mas isso muitas vezes não aconteceu.

Estatísticas individuais
Sem que tenha sido um Barcelona, o Sporting conseguiu um grande número de passes no jogo. Sobretudo, lá está, na segunda parte. A posse do bola verde e branca teve alguns traços característicos, como a dependência do jogo rendilhado dos 3 criativos ou a utilização da qualidade de João Pereira sobre a direita. A diferença entre o número de passes de João Pereira e Grimi foi avassaladora na segunda parte, com o ex-Braga a mostrar o porquê de ter sido uma excelente opção no mercado. Outra disparidade esteve entre Carriço e Tonel. O número de intercepções de Carriço foi amplamente superior ao de Tonel, numa diferença que me fez lembrar o caso entre David Luiz e Sidnei que abordei na semana passada. Também aqui, os números reflectem muito em termos qualitativos. Ainda no Sporting, nota para a elevadíssima participação de Moutinho e Pedro Mendes em termos de construção e para a inconstância de Djaló e Veloso. O avançado participou num grande número de desequilíbrios mas acabou como um dos principais responsáveis pela ineficácia ofensiva. Já Veloso foi também desequilibrante, mas esteve demasiado inconsistente na construção, errando em demasia em situações desnecessárias.

No que respeita à União, o principal destaque vai para André Santos. Foi o mais eficaz no passe e interventivo na recuperação. Silas, o criativo da equipa, começou muito mal em termos de eficácia de passe, mas evoluiu muito na segunda parte, tornando-se no jogador chave que normalmente é, e encontrando em Patrick um aliado frequente sobre a esquerda. Na frente, Cassio voltou a confirmar os seus dotes de jogador de área, mas Carlão impressionou noutros aspectos. Em especial, a qualidade de apoio e capacidade para levar a melhor nas bolas divididas. Mais atrás, o destaque negativo vai para Diego Gaucho. Um jogador fisicamente forte, mas que acumulou erros importantes e uma enorme ineficácia em termos de passe. Neste sector, Zé António esteve muito melhor, mas foi Vinicius quem, de forma discreta, mais rendimento terá conseguido, jogando sempre muito próximo da zona central.



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