14.12.07

Sporting: Uma análise simplesmente táctica

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É uma tendência tão natural como, na minha opinião, irracional. Quando se detecta um problema tenta-se encontrar uma causa directa, a peça exacta do puzzle que não encaixa e que, por isso, não permite que o cenário final corresponda ao desejado. Como em tantas outras coisas, em futebol o efeito problemático não surge pela acção de uma só causa. A complexidade é bem maior e, normalmente, as consequências surgem da congregação de uma série de factores – uns mais importantes do que outros, bem entendido – e uma análise feita pelo isolamento das potenciais causas é, forçosamente, uma análise limitada por ignorar a complexidade no seu raciocínio.
Ainda assim, é uma tendência natural e, no caso da já popular “crise” Sportinguista temos observado várias análises simplistas que, dependendo do perfil de quem as faz, se voltam para áreas específicas. Uns, mais dados ao ataque corrosivo e às conspirações de bastidores atiram na direcção de alvos pessoais, pedindo cabeças por pretensa incompetência ou, pior do que isso, falta de seriedade. Outros viram-se para o campo da táctica tentando encontrar aí uma explicação que resolva definitavemente o dilema. Não desfazendo o que escrevi no parágrafo anterior e porque me agrada bem mais estudar o jogo do que a pouca objectividade das novelas de bastidores, é sobre este último prisma que me quero centrar partindo de algumas análises que tenho lido e ouvido.
No inicio era a “táctica”, que é como quem diz o sistema. Durante semanas ouvimos e lemos sobre a necessidade do Sporting encontrar alternativa no 4-2-3-1. Porque é preciso extremos e porque o “losango” não ocupa racionalmente bem os espaços exigindo muito dos jogadores. Ora, como referi na altura, a mudança de “esqueleto” por si só não é solução para nada. Pelo contrário. Mudar de sistema a meio da época torna mais difícil a repetição das rotinas e princípios de jogo que, no caso do Sporting, já levam dois anos de prática sobre o 4-4-2 losango. Seria, no mínimo, um risco e agora parece que todos já o perceberam. Riscado o sistema viraram-se agora para as opções individuais. A mais recente das soluções tem sido a colocação de Moutinho na posição 10, pelo perfil mais vertical do seu jogo, quando comparado com a alternativa Romagnoli. Outra das novas criticas tem sido o primeiro passe de Miguel Veloso, diz-se, demasiado longo para inicio de construção...

Recurso à memória
O mais curioso no caso do Sporting é que ninguém parece ter memória do que já foi este mesmo Sporting (com algumas alterações individuais) deste mesmo treinador e com este mesmo modelo de jogo. O que se viu no final da temporada passada foi um futebol de altíssima qualidade e é pela comparação com esse período que, no meu entender, se deve fazer a análise. Neste contexto convém lembrar que grande parte da melhoria do Sporting da primeira para a segunda parte da temporada passada resultou, precisamente, da entrada de Veloso e Romagnoli no onze tipo do Sporting, pelo que julgo desajustada uma critica que se direccione neste sentido. O problema do Sporting, parece-me, é que em todas as alterações que fez no seu onze base, em relação a 06/07, ficou a perder... vamos a elas:

Baliza
A saída de Ricardo é dos pontos menos focados pelos analistas. No entanto se nos recordarmos do que aconteceu no Dragão, em Roma, em Matosinhos, em Manchester e frente ao Leiria é fácil perceber que têm sido demasiados os erros vindos desta posição específica. Ricardo poderia não ser perfeito, mas duvido que acumulasse tantos erros em tão pouco espaço de tempo.
Lateral esquerda
Será certamente o principal problema individual do Sporting 07/08. Se virmos um vídeo do Sporting 06/07, e tal como escrevi aqui diversas vezes, era fácil verificar como a equipa tendia a orientar o seu jogo para a esquerda. Em 07/08 acontece precisamente o contrário, com Abel a ser protagonista de várias acções ofensivas e com Romagnoli a descair preferencialmente para esse flanco. Naturalmente que há também a importante ausência de Nani mas a verdade é que esta dificuldade de atacar pela esquerda se deve também à falta de qualidade (quer na posse de bola, quer nos tempos de subida) de Ronny. Como se não bastasse, a equipa sente muitas dificuldades, também, a defender sobre esse flanco. Inúmeras vezes assistimos às dobras de Polga sobre o flanco, fruto de um mau posicionamento de Ronny que, depois, também não é lesto a fechar no espaço interior. Convém ainda referir que Marian Had também não se tem mostrado solução minimamente à altura.
Ala esquerda
Nani tinha uma importância grande no ano passado que, por consequência, se estende às lacunas deste ano. O agora “Red Devil” tinha a capacidade de abrir como extremo quando em posse de bola e, defensivamente, ser bastante eficaz tanto no posicionamento zonal como na pressão agressiva que exercia. Tanto Izmailov como Vukcevic me parecem reforços bem conseguidos mas estão longe de substituir no imediato a qualidade que dava Nani. Izmailov tem muita qualidade nos seus movimentos interiores (inclusivamente sem bola) mas não tem a mesma capacidade para dar qualidade ao jogo junto à linha. Aqui há também que referir a menor capacidade no 1x1 do russo, o que torna Romagnoli no único jogador capaz de desequilibrar nesse aspecto no habitual onze leonino. Da reabilitação desta ala esquerda (que passará muito mais por encontrar um lateral que dê maior qualidade às trocas de bola) depende muito a segunda metade da época do Sporting.
Avançado
A mobilidade dos avançados era um dos requisitos para que o modelo funcionasse no seu pleno. Aqui o Sporting poderia ainda ganhar com a presença de Derlei que, com Liedson, dava outra capacidade à primeira linha de pressão, permitindo a subida do restante bloco. A lesão do “Ninja” foi um forte revés. Com Purovic o problema da mobilidade acentuou-se e a equipa sentiu muito essa alteração nos primeiros jogos. Com o montenegrino o Sporting torna-se mais previsível mas pode também contar com uma arma diferente. Para já temos visto, e bem, a equipa a adaptar-se a esta nova realidade, trabalhando menos a bola e recorrendo mais a cruzamentos largos para a área. Não é o ideal para o modelo inicialmente pensado, mas pode até vir a trazer ao ataque leonino outros recursos até agora inexistentes.

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