Na antecipação do jogo havia escrito sobre as transições e o recurso estratégico das equipas para jogar nos erros do adversário. Curiosamente foi o Benfica o mais fiel a esta estratégia, reproduzindo a fórmula utilizada frente ao Milan, com um bloco médio alto a tentar perturbar a fase de construção portista. Como se viu, no entanto, este foi um obstáculo pouco incomodativo para a qualidade apresentada pela posse de bola portista. Mesmo se a bola não entrava com facilidade em Paulo Assunção, o Porto encontrou as suas alternativas, essencialmente graças às movimentações de Lucho Gonzalez, mas também pelos movimentos interiores dos extremos, Quaresma e Tarik, nas costas de Petit e Katsouranis. Tudo isto por um motivo: o Benfica tentou “esticar a manta” abrindo um grande buraco no seu meio. Ou seja, tentou jogar alto, fazendo subir os médios para junto dos da frente, mas ao mesmo tempo manteve o quarteto de trás não muito subido – talvez com o medo de jogar no “risco” do fora de jogo. Resultado, um enorme espaço entre linhas que, para um jogador com a inteligência de Lucho Gonzalez se tornou um paraíso para explorar. A este problema o Benfica juntou uma grande ansiedade no momento da sua transição ofensiva, tentando ser explosivo mas tornando-se demasiado irracional e uma presa fácil para a organizada defesa portista. Aqui destaco um ponto que venho referindo e que tem a ver com o posicionamento de Rui Costa. Lançado para as costas do avançado, o “maestro” não interveio naturalmente no primeiro passe benfiquista e como essa poderia ter sido uma ajuda importante...
Assim, o Porto dominou o primeiro tempo, chegando à vantagem num lance que nasce, precisamente, de uma tentativa precipitada do Benfica sair para a transição ofensiva. Pedro Emanuel recuperou e o resto foi uma demonstração da “fórmula Jesualdo” para as transições ofensivas portistas. Com o lateral – Léo – a cair no erro de se adiantar no ataque, Lucho nem precisou de olhar para soltar em Quaresma que ficou com todo o espaço para desequilibrar. Na segunda parte, o Porto baixou o bloco e o Benfica passou a ter mais espaço para construir e para fazer aparecer Rui Costa. A verdade, no entanto, é que o Porto não foi demasiado importunado no assalto benfiquista do segundo tempo e, se é verdade que o empate podia ter sido conseguido, também é um facto que as oportunidades se repartiram...
Nota para as individualidades:
Pedro Emanuel – Marcou em cima Nuno Gomes e foi um dos melhores do clássico, jogando muitas vezes em antecipação.
Lucho – O melhor em campo. Tal como havia antecipado ameaçava ser o desequilibrador do clássico... e foi. Parece que antecipa para onde a bola vai cair, colocando-se sempre pronto para receber a bola recuperada e lançar a transição. À subtileza do jogo sem bola, junta depois uma precisão e prontidão de passe impressionante. Fantástico!
Quaresma – Lembra-me Jardel, obviamente não pelo estilo, mas pela facilidade com que desequilibra. A assistir ou a marcar ele próprio, Quaresma está quase sempre lá e é por isso que há muito o vejo como o melhor do campeonato.
Nuno Gomes – Estes jogos são também uma prova de eficácia. O Porto foi inegavelmente superior mas Nuno Gomes podia ter mudado o rumo do jogo ainda nem 1 minuto tinha passado. Imperdoável a forma desastrada como finalizou na cara de Hélton. Por sorte embateu em Pedro Emanuel porque nem sei se aquele remate sairia pela linha de fundo!
Rui Costa – Deve ter desesperado no primeiro tempo, tão poucas foram as vezes em que interveio. As equipas precisam de hierarquias de jogo e a do Benfica deveria passar pelos pés de Rui Costa. O sistema e a equipa não o possibilitaram no primeiro tempo. Perdeu o Benfica.