Há dias fiquei estupefacto com um comentador que, com um ar seguro e convicto, apontava a política de contratações como o principal factor diferenciador entre o FC Porto e a restante concorrência. Ainda me certifiquei que não estava a ver o canal memória, não fosse aquele um programa recuperado dos anos 80 e 90 onde, aí sim, o Porto transformava nomes incógnitos em improváveis casos de sucesso na sua equipa principal. Podia trazer para aqui uma análise mais pormenorizada às recentes contratações portistas, mas este parece-me um caso, simplesmente, demasiado evidente... Pergunto, por exemplo, o que não diriam de Carlos Freitas ou Luis Filipe Vieira se Farias tivesse rumado aos seus clubes com o mesmo sucesso que teve nestes primeiros 5 meses no Dragão? O mais triste é que, provavelmente, uma boa parte das pessoas que estava a ouvir aquele “sábio” comentário terá intuitivamente concordado com o que era dito. Digo “intuitivamente” porque é assim que normalmente se reage às análises resultadistas que invariavelmente se repetem ao longo das épocas, muitas vezes sem qualquer critério e entrando em contradição com o que foi dito, num outro momento, quando a tendência de resultados era diferente. Para mim, um verdadeiro atestado de menoridade intelectual que repetidamente é passado ao adepto de futebol.
Vem este desabafo a propósito do referido interesse do FC Porto em Fernando Belluschi. 7,5 (ou, noutros casos 6) milhões de euros é que vem escrito na imprensa, dando a entender que a SAD azul e branca se prepara para atacar mais um valor de créditos firmados no mercado Sul Americano, estando para isso disposta a investir vários milhões. É um modelo de investimento que durante alguns anos fez as contas da SAD acumular prejuízos, mas que com as vendas de Pepe e Anderson parece ter ganho novo fôlego. Se do ponto de vista financeiro este é um modelo arriscado, já no que respeita ao plano desportivo, fica clara a dependência do actual plantel portista neste tipo de contratações. No Dragão não mora hoje nenhum “caso Deco” e Lucho, Lisandro e Quaresma (este um caso diferente já que se tratou do regresso a Portugal de uma jovem promessa) são os nomes de maior preponderância na equipa, todos eles chegados pela “porta grande” à casa portista.
Sobre Belluschi – por quem o FC Porto nega ter feito as tais propostas – já aqui há muito me referi como o melhor jogador a actuar actualmente no campeonato argentino. Um médio inteligente e completo que actua sobre a esquerda mas que prefere as zonas interiores para as suas actuações. Integrar Belluschi no actual FC Porto seria tentar dar à meia esquerda uma qualidade desequilibradora próxima da que se encontra na direita com Lucho Gonzalez. O mesmo é dizer, substituir Raul Meireles, embora com um jogador bem mais ofensivo do que o ex-Boavista. O negócio Belluschi pode, no entanto, ser complicado dado o (mais ainda) milionário interesse do Olimpiacos. Fica o sinal dos milhões que há para gastar!