- O repto era reagir “à Porto”. Sobre esta curiosa afirmação de Camacho, vem-me à memória a expressão de Artur Jorge, aquando da sua passagem pela Luz, que dizia que o Benfica tinha de “jogar à Porto”. Nessa altura a imprensa e adeptos não acharam muita graça à tirada do treinador que foi bastante criticado. Interessante a forma como evoluíram as mentalidades...
- Sobre o jogo, esperava-se uma deslocação difícil. Pela qualidade do Shaktar mas também pelas condições adversas que o Benfica encontrou. Na realidade, talvez este até tenha sido um bom timing para ir à Ucrânia. Não pelo frio, obviamente, mas pelo momento negativo do adversário. O Shaktar, depois de um inicio fulgurante de temporada, mergulhou num período negativo, marcado pela indisciplina (particularmente da estrela Nery Castillo) e pela invulgar fase negativa no campeonato – com 2 derrotas e 1 empate nos últimos 5 jogos.
- O Benfica sentiu a vertigem do jogo Ucraniano. Dificeis de suster, pela forma numerosa como se lançam na frente e capacidade para atacar de toda e qualquer maneira. Desde jogadas mais trabalhadas a bolas bombeadas para as imediações da área, os Ucranianos tentam tudo, tornando difícil controlar defensivamente as partidas contra este tipo de jogo. O segredo está no aproveitamento da forma invulgarmente displicente como defendem (não melhor amostra do que o impensável primeiro golo oferecido a Cardozo), e foi precisamente assim que o Benfica construiu o seu resultado.
- É curiosa e estranha esta anarquia do futebol Ucraniano – já experimentada pelo Sporting esta temporada – e que ganha maiores dimensões em casa, já que fora as equipas parecem um pouco mais sensibilizadas para a concentração defensiva. Digo curiosa e estranha porque o futebol Ucraniano foi durante muitos anos marcado pela escola de Valery Lobanovsky (treinador do Dinamo Kiev e da Selecção), conhecido pela forma rígida e quase mecânica como instruía as suas equipas.
- Ainda assim o Benfica teve de sofrer muito no jogo. A equipa manteve, no entanto, um bom nível psicológico após o revés sofrido no último fim de semana. Nota para, claro está, Cardozo que parece merecer bem mais a confiança de Camacho do que Nuno Gomes. Referência ainda para um regresso que pode ser importante de Nelson (vamos ver como evolui defensivamente este ano) e para algum descontrolo de David Luiz nas suas acções defensivas. O jovem central tem potencial reconhecido mas precisa de evoluir em diversas áreas do jogo. À forma imprudentemente destemida como vem efectuando as suas marcações dentro da área, ontem juntou alguma agressividade exagerada e perigosa numa altura em que, tendo amarelo, poderia comprometer a equipa.
- Finalmente, uma reflexão... 7 pontos são uma desvantagem importante mas nunca decisiva a tão grande distância do final do campeonato. Tendo em conta a segunda metade do campeonato portista em 06/07, o Benfica pode bem acalentar esperanças que a história se repita. Para isso, claro está, o Benfica tem de estar no seu melhor durante essa fase. Neste aspecto, parece-me que a Uefa (onde se espera que o Benfica passe algumas eliminatórias) pode ser um bom trunfo... para os portistas!