Nos últimos dias, talvez pelo menor interesse dos desequilibrados confrontos da Taça de Portugal, assistimos a alguns episódios que animaram o fenómeno futebolístico, mas fora das quatro linhas. Pergunto-me se estas novelas farão para sempre parte do nosso futebol, ou se algum dia as vamos conseguir erradicar? Infelizmente a resposta mais provável que encontro aponta para que estes jogos de bastidores façam parte do fenómeno, constituindo-se eles próprios como um factor de entretenimento para a maioria dos adeptos. Aguentemos!
- O primeiro caso aconteceu com o lançamento do livro de José Veiga. Como se não bastasse a época natalícia, Veiga veio para a televisão tentar divulgar a sua “obra” com criticas oportunistas e perfeitamente fora de tempo. É fácil encontrar vários ditados que se ajustem à situação e, sinceramente, apenas me espantaria se Veiga saísse da Luz de forma pacífica. Os episódios do seu passado falam por si e o Veiga que agora se mostra não é mais nem menos do que aquele que um dia chegou à Luz pela mão de Vieira. De todo modo, dispensavamos mais um aproveitamento da dimensão popular do futebol (e, neste caso, do Benfica em particular) para fazer dinheiro à custa de polémicas desnecessárias.
- Seguiu-se Carlos Martins, numa entrevista que só pelo seu “timing” é lamentável. Aliás, o conceder da entrevista nesta altura é apenas mais um exemplo que comprova a ingenuidade do jogador, bem patente nos episódios pelo mesmo relatados na referida entrevista. Carlos Martins não fica, em nada, beneficiado com o acontecimento, criando alguns anti corpos dentro de um clube que, não só o formou, como ainda detém 40% dos seus direitos desportivos. Igualmente, em ano de Europeu e com as dificuldades conhecidas de Scolari em encontrar alternativa a Deco, Martins nunca deveria reavivar os seus problemas no plano extra desportivo e, sobretudo, envolver os episódios das suas convocatórias na polémica.
- Finalmente, e ainda em Alvalade, a contestação da Juve Leo no jogo como Louletano. Não há nada de errado em grupos de adeptos manifestarem a sua opinião pela ausência parcial ou total dos jogos. O que não é, de forma nenhuma, legítimo é que esses mesmos sócios (mesmo que sejam parte de uma claque que faz, inequivocamente, parte da história do Sporting) queira sobrepor-se aos estatutos e ordem democrática do clube, tentando destituir membros ou direcções inteiras legitimamente eleitas em assembleia geral. Esse é o objectivo deste movimento que parece ser capaz de perturbar até a própria equipa de futebol (e, por consequência, os seus resultados) para conseguir os seus objectivos. É um cenário que já se repetiu em todos os clubes mas que no Sporting teve, no passado, consequências directas em decisões tomadas, abrindo um precedente altamente perigoso. Precisamente sobre um desses incidentes, relembro a época de 2000/2001. Em Alvalade preparava-se a substituição de Inácio por Mourinho. Um desfecho aparentemente ingrato para Inácio, mas que hoje ninguém levantaria sequer ponta de contestação. Face à revolta de alguns sócios (precisamente com a mesma origem destes), a operação sofreu um revés e Mourinho prosseguiu o seu caminho vitorioso mas por outras paragens. A ironia de tudo isto reside no facto de uma das pessoas que estava por trás dessa decisão visionária ser precisamente um dos mais responsabilizados pelos insucessos leoninos: Carlos Freitas.