A visita do Sporting ao Olímpico de Roma traz alguns motivos de interesse para além da própria importância da partida. A Roma de Spalletti é uma das formações mais atractivas do futebol europeu. Com bola a equipa parece nem querer saber da hipótese de a perder, preferindo concentrar-se em dar expressão criativa e numérica às suas jogadas ofensivas. As consequências possíveis, naturalmente, são duas: espectáculo ofensivo ou colapso defensivo (veja-se o 4-4 do último fim de semana).
Do outro lado está o pragmatismo e filosofia oposta de Paulo Bento. Raramente se vê o Sporting ser apanhado em contra pé, e isso não é obra do acaso. Bento é um defensor da visão que a defesa vem antes do ataque e o equilíbrio táctico da equipa é uma imagem de marca do seu Sporting. Reflexo fiel desta filosofia pode ser encontrado no que aconteceu frente a Inter e Bayern no ano transacto: 4 jogos, só 2 golos sofridos, mas... apenas 1 marcado...
Se a questão fosse meramente filosófica, não teria dificuldades em defender a tese de que Bento levaria vantagem. No futebol, no entanto, temos a felicidade de contar com o factor humano e, assim, há que contar com as individualidades. Indiscutivelmente, neste plano, a vantagem é Romana e grandes jogadores esperam o Sporting no Olímpico. Spalletti monta um 4-2-3-1 muito móvel que conta com as subidas quase permanentes dos dois laterais. O lateral esquerdo Tonetto, de resto, ilustra pelas suas movimentações aquela que é a mentalidade da equipa, desequilibrando constantemente com as subidas pelo flanco mas sendo frequentemente apanhado fora de posição na hora de defender, parecendo muitas vezes mais um médio do que um defesa lateral. No meio campo estarão as maiores dores de cabeça dos Romanos com as ausências do patrão Aquilani e do inteligente Perrota – actua normalmente nas costas de Totti. A Roma tem ainda Giuly (ainda não totalmente adaptado), De Rossi (responsável por manter o equilíbrio possível com tanta gente a atacar), Taddei (médio direito) ou o fantástico Mancini (actua como médio esquerdo). Mas falar da Roma é falar de Totti. A fidelidade e qualidade do “Capitano” torna-o na figura mais popular da capital italiana, mas compreender Totti nem sempre é fácil. A inegável genialidade contrasta com a anarquia do seu futebol – em campo Totti faz o que quer, sendo capaz de passar um jogo sem produzir absolutamente nada, para depois desequilibrar a partida num só lance. Muitos discutem ainda se a permanência do jogador em Roma se deve à sua fidelidade ou a um espírito mais comodista de quem não está no futebol para ganhar coisas. Quando lhe perguntaram como é Totti, aquando da sua passagem pela Roma, a resposta de Capello foi tão simples quanto ilustrativa do carácter especial deste jogador no mundo do futebol: “Totti é.. Totti!”.
Sobre a partida, uma nota mais... Se é verdade que o futebol transalpino já não tem a mesma mentalidade defensiva de outros tempos, mantém algumas características de “obsessão táctica” que sempre o definiram. Se Spalletti é italino, a Roma vai saber bem como actua o Sporting e poderá perfeitamente surpreender com um ajuste táctico de última hora...