A história de Adu todos conhecem. Ganês, rumou aos 8 anos com a sua família para o “sonho americano” e, anos mais tarde, o seu talento foi descoberto pelo mundo e pelos “media” que depressa se encarregaram de o comparar ao “Rei” Pelé, que se tornou assim na projecção dourada do jovem prodígio. O que muitos parecem esquecer nestes momentos são os exemplos falhados do passado e, neste contexto, há um nome que se destaca dos demais como exemplo da ameaça que existe para quem tem sobre si tamanhas expectativas: Nii Lamptey.
Decorria o ano de 1989 quando na Escócia se jogava o mundial de sub 16 (estava presente a “geração de ouro” do futebol luso, eliminada na meia final pela equipa da casa). Na selecção do Gana destacava-se Nii Lamptey, um prodígio de 14 anos. As tentativas do governo Ganês em impedir a saída do jovem atrasaram a sua chegada à Europa, mas Lamptey estava determinado e, aos 14 anos, protagonizou uma aventura digna de uma película de Hollywood. À revelia de todos (inclusive os próprios pais), Lamptey conseguiu fugir até à fronteira da Nigéria, chegando depois a acordo para rumar ao Anderlecht. As tentativas do Gana para impedir a saída do jogador terminaram, como sempre, com um acordo financeiro entre as partes e Lamptey pode finalmente dar seguimento à sua promissora carreira. Seguiu-se o Mundial de sub 17 em 1991 onde Lamptey se sagrou melhor jogador da prova (batendo Del Piero e Veron, entre outros), e os jogos Olímpicos de 1992 em Barcelona, onde ajudou o Gana a alcançar a medalha de Bronze. Lamptey era, sem dúvida, uma das maiores promessas do futebol mundial sendo conhecido como o futuro Pelé.
O aparecimento de Lamptey na primeira equipa do Anderlecht não tardou, tornando-se no mais jovem a actuar no campeonato Belga e encantando com os golos e o seu talento. Lamptey rumou alguns quilómetros rumo a Eindhoven, onde continuou a dar nas vistas com a camisola do PSV e apenas 19 anos. Lamptey integrou depois a sensacional equipa do Gana que chegou à final do Mundial de Sub 20 na Australia em 1993. Um ano mais tarde, porém, Lamptey deu aquele que seria o primeiro passo atrás na sua carreira, rumando à Premier League e ao Aston Villa. O seu impacto em Inglaterra foi péssimo e em 1996 Lamptey estava espantosamente entre a segunda equipa do Coventry City. Seguiram-se o Veneza, o Santa Fé (Argentina), o Ankaragucu (Turquia) e até uma passagem frustrante pelo Leiria (98-99). Lamptey tornou-se um saltimbanco do futebol europeu, não se conseguindo impor em nenhum lado, até que rumou ao Shandong Luneng da China (2001) onde conseguiu, finalmente, recuperar alguma felicidade como futebolista. Uma passagem pela Arábia Saudita antecedeu o retorno ao futebol Africano, com uma paragem pelo seu país Natal antes de rumar ao popular Jomo Cosmos da África do Sul onde milita actualmente aos 32 anos.
A dramática história de Nii Lamptey não pode ser concluída sem uma referência à perda dos seus dois filhos que faleceram, em momentos diferentes e em idades muito jovens, numa saga catastrófica que envolve também as inevitáveis relações com agentes interesseiros que se aproveitaram deste que foi um dia o “novo Pelé”.