O estatuto recente do Nacional transformou as deslocações à Choupana num teste difícil e muitas vezes visto como potencialmente determinante nas contas do título. Naturalmente que com o atraso pontual não se poderia retirar importancia ao resultado desta deslocação, mas tendo em conta a actual fase de mudança no futebol da Luz, este era um embate com curiosidades próprias de pré época, interessando ver como a filosofia de Camacho estava a ser aplicada.
Tacticamente as coisas mantêm-se. 4-4-2 com dois alas, e uma equipa que se procura equilibrar mais em campo, baixando mais o bloco do que acontecia com Fernando Santos. Do outro lado, o Nacional – que, na minha opinião, continua a ser equipa com potencial para andar na primeira metade da tabela, mas que apresenta actualmente um futebol “abaixo do par” – contrapôs com um 4-4-2, mas com losango a meio campo. Se olharmos ao desenho táctico de ambos os esquemas, o losango parece ganhar vantagem na batalha do miolo, mas tudo isso se torna menos evidente quando as linhas jogam próximas, e foi isso que o Benfica fez para não perder a tal batalha. Na verdade, o que se viu na Choupana foi um futebol encaixado a meio campo, sem nenhuma das equipas a apresentar entrosamento e dinamica ofensivas que pudessem desbloquear o esquema adversário, tornando o jogo pouco interessante para os ditos apreciadores do futebol-espectáculo. No primeiro tempo apenas 3 lances de desequilíbrio, 2 para o Benfica – um deles resultou em golo – e 1 para o Nacional, sendo que nenhum deles resultou do mérito do futebol ofensivo das equipas. Foram antes erros circunstancias aproveitados pelos ataques, ficando o Benfica com a felicidade de ter aproveitado um deles e ganho uma vantagem crucial para a partida. No segundo tempo, pouco melhor se viu, no entanto o jogo foi um pouco mais esticado pelo Nacional que acabou por sofrer com isso. Mais uma vez o Benfica não foi brilhante ofensivamente e, em vez de erro adversário, conseguiu o segundo golo através da inspiração de um do patrão, Rui Costa. O jogo ficou aí decidido com o Nacional incapaz de responder.
O Benfica de Camacho está ainda no começo e a construir-se de trás para a frente. Não é um acaso que tenha tido partidas com um número mais baixo de oportunidades de golo (quer suas, quer do adversário) do que vinha sendo normal. O modelo está identificado (já escrevi sobre ele) e embora ofensivamente a equipa vá melhorar, não se devem esperar nem permissividades defensivas, nem o futebol ofensivo do tempo de Santos. O Espanhol parece nesta altura estar apenas à procura do onze com o qual vai sistematizar os princípios que pretende. Sobre o onze apresentado ficam algumas notas:
Katsouranis – O grego é um jogador de grande valia e com um esquema de apenas 2 médios centro fica a questão sobre qual o papel de Katsouranis no Benfica quando regressarem os centrais. Um eventual adiantamento de Rui Costa pode abrir o espaço para este inteligente médio.
Di Maria – Aparece como a alternativa mais forte para as alas. Vê-se que é jovem pela energia e impulso com que joga, com e sem bola. Di Maria pode vir a ser uma importante arma para as transições mas também já se viu que as descidas junto à linha não são o seu forte preferindo movimentos interiores.
Pereira – Demasiado discreto e pouco participativo para que se apresente como uma alternativa forte à direita. Sem grandes alternativas até agora apresentadas, a ala direita será o principal problema no onze de Camacho.
Nuno Gomes e Cardozo – Com os princípios de jogo que pretende implementar, Camacho deve desesperar por um ataque mais agressivo e veloz. Tanto Nuno Gomes como Cardozo têm qualidades que podem ser bastante úteis mas são jogadores para serem servidos mais próximo da área. Se no campeonato não será tão critico, na Champions este poderá ser um handicap importante.