No futebol, como em muitas áreas, os tempos são marcados por tendências, por mestres e seus seguidores. Se lerem qualquer livro ou artigo sobre a evolução táctica do jogo vão certamente deparar-se com nomes eternamente ligados a novas ideias que, sob a forma de pequenas revoluções, fizeram evoluir a forma como se vê e se entende o jogo. No futebol português, sem dúvida, há um nome que marca a tendência desde há uns anos a esta parte, continuando, apesar da distância, a influenciar a forma como se vê o futebol: José Mourinho.
Vem toda esta conversa a propósito de uma tendência já aqui abordada sobre o perfil de jogo do Chelsea actual. É que, ao contrário do que é apanágio nos treinadores latinos, Mourinho molda uma equipa que tem no estilo directo uma arma privilegiada de atacar. O "Special One" é, como se sabe, um treinador que tem no equilíbrio defensivo uma prioridade, encontrando nesta forma de atacar uma solução que lhe permite ser perigoso sem, no entanto, utilizar muita gente nos processos ofensivos, mantendo a equipa sempre organizada defensivamente. Naturalmente, para que se consiga ter sucesso neste tipo de jogo é preciso ter jogadores com as devidas características, que, no caso, são os atributos físicos e o culto da abordagem às primeiras e segundas bolas. Neste particular torna-se vital o papel exercido pelo denominado “target man” que, no Chelsea, é sublimemente desempenhado por Drogba.
Ora, curiosamente ou não, a verdade é que os 3 grandes se reforçaram com avançados de estatura superior a 1,90m (Edgar, Purovic e Cardozo) e fortes no jogo aéreo, indiciando que 07/08 poderá revelar, em Portugal, pelo menos uma primeira tentativa de praticar um futebol um pouco mais pragmático e vertical. A verificar-se a absorção desta tendência, creio que poderíamos ter, a curto prazo, vantagens ao nível do comportamento nas competições europeias, e a mais longo prazo, uma formação mais completa do jogador português, com benefícios nomeadamente ao nível dos ponta-de-lança.
FC Porto – Creio que será no Porto onde esta tendência poderá ser menos visível. Afinal, Edgar é um reforço aparentemente para um segundo plano e o próprio Jesualdo será, na minha opinião, o treinador que menos propensão terá para integrar o estilo directo nos seus princípios de jogo (tem a ver com a particularidade do papel de Quaresma no modelo e, talvez, com o facto do “Professor” ser o mais velho dos treinadores em causa).
Sporting – Esta será, não tenho duvidas, uma inovação no modelo de Paulo Bento. Foi, aliás, o próprio treinador a denunciar esse objectivo quando explicou que queria um avançado que pudesse permitir algumas abordagens não experimentadas até aqui. A questão que me fica é se este será um recurso utilizado de forma ‘Standard’ ou apenas como mera alternativa – para a definição desta questão vai, naturalmente, depender o rendimento de Purovic. De qualquer modo creio que Bento terá muito a ganhar se conseguir integrar esta inovação no seu modelo, já que o Sporting privilegia muito o equilíbrio defensivo, tendo muitas vezes dificuldades na fase ofensiva onde raramente consegue ser eficaz em transição. Nota para a eventual facilidade de jogadores como Vukcevic ou Farnerud para um jogo de abordagem às segundas bolas, provavelmente contrastando com o perfil mais de jogo curto de Romagnoli.
Benfica – Em termos de investimento foi na Luz que se apostou mais no avançado possante. Cardozo será uma presença certa no onze e, como já aqui o referi, esse facto obrigará os encarnados a alterar os seus processos ofensivos. O Benfica de 06/07 foi uma equipa que ofensivamente, se revelou dinâmica, móvel e com muita gente a atacar. No Benfica a questão que fica é qual será o papel para Cardozo, como mero finalizador ou como parte integrante da fase de criação, servindo de “pivot” para os que vêm de trás. Jogadores como Léo e Nélson poderão ressentir-se em termos de protagonismo, mas, por exemplo, os movimentos verticais de Katsouranis poderiam ser mais vezes recompensados...