21.2.14

Liga Europa, Benfica e Porto

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- Será a Liga Europa uma competição secundária? Para quem, como eu, cresceu de ouvido colado à rádio a cada quarta-feira europeia, esta será sempre uma ideia difícil de encaixar. Esse era nem mais, nem menos do que o climax de qualquer temporada futebolística, e era para aí que se canalizavam os mais ambiciosos sonhos de qualquer adepto, independentemente da competição em causa. Mas, na vida as coisas mudam, e no futebol têm de facto mudado muito com o passar dos anos. Talvez não faça sentido, do ponto de vista lógico, que se dê prioridade a uma competição interna - campeonato - cujo troféu já enche, às dezenas, os museus dos principais clubes nacionais, em detrimento de uma prova de muito maior prestígio global e que apenas por um par de vezes foi conquistada por clubes nacionais. Mas, e volto a repetir esta ideia, o futebol não se explica pelo lado racional, e todos sabemos a importância emocional que tem a organização da festa final do nosso campeonato. A verdade, neste sentido, é que a Liga Europa é mesmo uma competição secundária para muitos clubes europeus - particularmente aqueles que disputam as principais ligas - e também para os portugueses vem-no sendo cada vez mais.

- Uma coisa é o que se diz na conferência de imprensa - e todos dizem o mesmo, que "todos os jogos são para ganhar" - outra, bem diferente, é o que depois resulta nas opções, práticas, dos treinadores. É aí que, claramente, Jorge Jesus e Paulo Fonseca se distinguem. E, vendo bem, percebe-se porquê. Jesus, mais do que nunca, quererá saber pouco ou nada desta competição, estando bem presente na memória o trauma negativo da época anterior, onde a presença na primeira final europeia do clube, ao fim de mais de 20 anos, não chegou para, emocionalmente, compensar os 2 pontos perdidos internamente. Já Paulo Fonseca terá outra perspectiva. O campeonato é o mais importante, sem dúvida, mas já não depende dele, e não será com uma colecção de taças internas que o treinador sairá por cima no final da época. A única maneira de compensar minimamente uma eventual perda na corrida para o título será através de um feito - improvável, mas perfeitamente possível - na final de Turim. E por aqui se explicam, na minha leitura, as prioridades de um e de outro na composição dos respectivos onzes iniciais, sem que tal tivesse evitado, porém, a ironia do contraste entre os dois desfechos.

- Em Salónica, o Benfica arrancou uma vitória ao velho estilo italiano dos anos 90. Não pelo 'catenaccio', que foi mais relembrado na estratégia grega, mas pela forma como geriu o jogo de forma aparentemente tranquila, confiante na sua superioridade, e marcando praticamente na primeira ocasião que teve para o fazer. Parece simples: ir à Grécia, levar uma equipa de rotação, ganhar, fazer as malas e regressar. Parece, mas tal só é possível pela forma como o modelo táctico está assimilado por todos os jogadores do plantel. Outra coisa curiosa é o facto do Benfica ser, agora, uma fortaleza defensiva aos olhos de adeptos e comunicação social, quando há bem pouco tempo todos apontavam as fragilidades defensivas como o principal defeito da equipa. Mistérios...

- Mais curioso ainda, o que se passou no Dragão. O empate, note-se, é mesmo penalizador para o Porto. Não que o Eintracht não tivesse justificado marcar, mas porque foi preciso uma enorme dose de eficácia para que pudesse chegar ao empate. Por muito que o fado nos possa parecer anunciado, são coisas que acontecem a todos. Mas há 3 coisas surpreendentes que me merecem um comentário especial. Primeiro, claro, o "coelho" que Quaresma tirou da cartola. No fim das contas, serão estes rasgos, e a frequência com venham a acontecer, a definir a utilidade do seu contributo, porque em praticamente tudo o resto, já se sabe com o que (não) se pode contar relativamente ao 7 portista. Depois, o caricato segundo golo do alemão: um auto-golo não é assim tão incomum, agora um auto-golo na sequência de um desvio de um outro jogador da própria equipa, confesso que já tenho alguma dificuldade em recordar algo igual. Finalmente, as declarações - não menos caricatas - de Paulo Fonseca. As "gaffes" acontecem a todos, e não serei certamente eu a enfatizar a importância que elas, na realidade, não têm. No entanto, é provável que no caso de Paulo Fonseca elas possam reflectir a insegurança do treinador em relação ao actual momento da equipa e à sua própria posição, em particular. Já o tinha escrito, parece-me que o principal pecado do treinador nesta sua passagem pelo Porto pode ter sido a forma como se deixou afectar pelo ruído mediático em seu redor, e estes sinais podem ter a ver com essa vulnerabilidade.

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