31.1.14

5 jogadas (Bilbao - Atlético, Man City e Bayern)

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Atl.Bilbao - Atl.Madrid - Um grande jogo, na segunda mão dos quartos-de-final da Taça do Rei, entre aquelas que serão, provavelmente, as duas melhores equipas do futebol espanhol da actualidade, descontados os "gigantes" Barça e Real. É claro que há alguma diferença entre Athletic e Atlético, mas jogando-se no novo San Mamés e com várias ausências relevantes do lado madrileno, estava criado um grande teste à equipa de Simeone. Mais um! É certo que o resultado não sugere grandes complicações para uma equipa que já levava da primeira mão uma vantagem de um golo, mas a história do jogo tem para contar várias complicações criadas pelos bascos à habitual segurança defensiva do Atlético. Esse mérito do Atl.Bilbao tem por base a intensidade com encarou o jogo, mas teve também, do ponto de vista táctico, algumas nuances que me parecem ter contribuído para uma intranquilidade acrescida, relativamente ao que é costume na equipa de Simeone. Em particular, o posicionamento dos laterais, quase sempre bastante profundos, criou problemas de ajustamento posicional da linha média. A verdade é que o esforço do Bilbao acabou por ser inglório, em parte pelo mérito defensivo do seu opositor, mas também pela capacidade madrilena de aproveitar as situações ofensivas que o jogo lhe ofereceu, seja no capítulo das bolas paradas (onde é, repetidamente, muito forte), quer no aproveitamento das costas e do risco posicional que estava inerente à postura basca no jogo. Com maior foco no campeonato, diria que o Athletic será o mais forte candidato ao 4º lugar no campeonato. Já relativamente ao Atlético, continuo a não vislumbrar limites para as possibilidades nesta temporada. Não é favorito a nada, mas é candidato... a tudo!

Sobre as duas jogadas do vídeo, no primeiro lance começo por sublinhar o pressing alto do Atlético de Madrid. Aqui reside mais um dos méritos do comportamento táctico da equipa de Simeone, que é a capacidade de identificar muito correctamente a postura que deve adoptar em termos de presença pressionante. Como sabemos, não tem relutância em baixar muito o bloco, fazendo-o com grande competência e frequência, mas não raras vezes potencia igualmente o erro adversário em zonas bastante altas. Nesses casos, o Atlético forma uma espécie de 4-1-3-2, "partindo" o posicionamento dos seus dois médios, com um deles a adoptar uma postura mais pressionante e o outro permanecendo mais perto da linha defensiva. Na sequência do lance, Diego Costa acaba por, mais uma vez, demonstrar a sua apetência para explorar a profundidade, aproveitando o posicionamento exageradamente alto da linha defensiva, que acaba por se deixar apanhar numa situação em que a distância para o portador da bola é demasiado curta e não lhe permite reagir minimamente ao lance.
Na segunda jogada, está evidenciado o efeito da projecção dos laterais do Atl.Bilbao, durante o jogo. Neste caso a construção da jogada acaba por potenciar ainda mais a dificuldade dos alas do Atl.Madrid em fazer um ajustamento posicional atempado, acabando por não haver controlo sobre o 'overlap' de Balenziaga. Nota ainda para a qualidade do cruzamento, que retira a bola do primeiro poste e da acção de Courtois, e para o tempo de salto de Aduriz, que fazendo-se primeiro à bola, inviabiliza a acção de Godin.

Tottenham - Man City -  Um jogo que supostamente seria equilibrado, mas que acabou com um cenário repetido para as duas equipas: goleada! E sem surpresa, porque a qualidade que ambas mostraram foi, de facto, muito díspar. Aqui, importa mais falar do Man City, que vem revelando níveis de confiança muito elevados, conseguindo ser uma das formações mais dominadoras do futebol europeu da actualidade, pelo seu potencial técnico. A sua capacidade de circulação foi, de resto, a grande chave do sucesso neste jogo, já que o bloco defensivo do Tottenham acabou sempre por se deixar envolver pela movimentação, com bola, da equipa de Pellegrini, acabando assim desposicionada e à mercê da grande valia individual dos avançados contrários. Foi, de resto, um jogo completamente falhado em termos estratégicos por parte dos Spurs, que não só foram incapazes de controlar os espaços essenciais, defensivamente, como também não tiraram partido algum da tentativa de usar Adebayor como referência frontal para a sua construção ofensiva. O caso deste jogo, e do que sucedeu ao Tottenham, é um exemplo para a generalidade das equipas da Premier League, que perante o City actual se confrontam com a quase fatalidade de terem de passar muito tempo sem bola. Se não definirem bem as suas prioridades posicionais, nomeadamente ao nível de referências prioritárias, acabam por não só não ter bola, como se verem expostos os seus espaços essenciais. O City, pelo invulgar potencial técnico que apresenta, é, sem dúvida, um dos grandes pontos de interesse para o restante da temporada do futebol europeu. De imediato, teremos um desafio interessante frente ao Chelsea - uma das equipa que não deverá discutir a posse de bola, mas que será potencialmente muito forte numa estratégia de contra-ataque - e, mais tarde, o interesse de ver duas das equipas mais dominadoras do futebol mundial, City e Barça.

Quanto aos dois lances que escolhi para o vídeo, em ambos é notória a forma como o Tottenham sentiu dificuldades em controlar a movimentação dos jogadores do City, perante a circulação da bola. O primeiro golo da equipa de Pellegrini é simplesmente notável, com a bola a circular entre vários jogadores, com poucos toques, e percorrendo uma área muito grande do terreno. O destaque, claro, vai para o movimento de David Silva, mas também será importante notar a forma como a equipa do Tottenham permite que se abram tantos espaços entre os seus jogadores. O mesmo problema no segundo caso, sendo criada uma zona de 4x3 no corredor central e com os médios dos Spurs a focarem-se excessivamente nas referências individuais, o que perante uma situação de inferioridade numérica é sempre desaconselhável, mas que no caso tem a agravante desse posicionamento implicar a abertura do espaço entre si.

Estugarda - Bayern - Uma pequena nota sobre este jogo em que, sem Robben e Ribery (entre outros, mas sobretudo estes), o Bayern sentiu muitas dificuldades para vencer, conseguindo-o apenas nos minutos finais, através de uma fantástica finalização de Thiago Alcantara. Mas a nota principal, aqui, vai mesmo para os problemas que o Bayern sentiu em ser consequente nas suas acções ofensivas durante grande parte do jogo, acabando por consegui-lo após as alterações de Guardiola, o que nos leva até ao outro foco de interesse. Guardiola colocou, em simultâneo, duas referências ofensivas (Pizarro e Mandzukic), passando a actuar apenas com dois médios (Lahm e Alcantara). Esta maior presença física não determinou um jogo mais directo, mas acabou por tirar partido do acréscimo de presença ofensiva, sendo que a circulação na linha média não perdeu grande eficácia pela qualidade de Lahm e Alcantara. Um figurino, já agora, bastante parecido com o de Jesus no Benfica, com um médio mais baixo (Lahm) e apenas outro à sua frente (Alcantara), a quem se exigia uma boa capacidade de transporte de bola. O Bayern venceu e Guardiola terá até tirado notas positivas dos últimos 20 minutos, mas ficou também a ideia de que sem os seus principais desequilibradores, o potencial da equipa pode ser bastante afectado.

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