29.12.10

As 2 faces de Jaime Valdés

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Não é muito difícil perceber a sua qualidade técnica. No entanto, apreciar-se a estética do seu futebol é uma coisa, outra, bem mais relevante, é atestar-se da utilidade do mesmo. Nesse particular, confesso, não fui um grande entusiasta de Jaime Valdés. Não só nos primeiros jogos de leão ao peito, mas nos outros, que observei enquanto jogador da Atalanta. O perfume do seu futebol estava lá, mas sempre demasiado isolado do jogo e da própria equipa para que pudesse, realmente, influenciar o destino dos acontecimentos. E assim foi, sempre, até à lesão de Matias Fernandez. O "remendo" Valdés, escolhido para tapar o buraco da posição 10, acabou por se revelar na grande aquisição que o outro Valdés, aquele que jogava amarrado à ala, nunca mostrara ser. É bem possível que a lesão de Matías Fernandez tenha sido a melhor notícia da sua carreira.

Porquê da diferença?Como explicar a diferença de rendimento? Bom, terá a ver com o enquadramento colectivo, mas sobretudo com as características do próprio jogador. Quando chegou, classifiquei Valdés de "driblador nato", pela sua facilidade de sair da marcação em drible curto. O problema de Valdés é que este recurso não é um fim em si mesmo. Ou seja, dá-lhe tempo e espaço para criar uma situação de passe ou de cruzamento, mas essa vantagem de pouco lhe servia na ala. Porquê? Porque, primeiro, Valdés não tem uma grande capacidade de cruzamento ou de remate e, depois, porque a própria equipa cria poucos apoios no corredor para poder retirar proveitos colectivos desta característica individual.

Ao aparecer no meio, Valdés passou a poder aplicar a sua capacidade técnica em zonas muito mais próximas da baliza, tornando cada drible curto num acontecimento muito mais gravoso para a defensiva contrária. Mas não é só. Para se jogar em posições centrais, não basta habilidade: é preciso cultura de movimentos. E é aqui que surge a aptidão escondida de Valdés. O seu critério de movimentação tem sido muito bom, oscilando a sua presença no centro, na ala ou em profundidade. Valdés não é um 10 de construção - como Matías, por exemplo - mas tem-se revelado um jogador muito mais determinante no último terço.

Mais uma solução de qualidade

O rendimento de Valdés nesta posição tem sido de tal forma elevado que é até irrealista esperar a manutenção dos mesmos níveis de desempenho. Ainda assim, diria que dificilmente Valdés deixará de ser - com alguma distância - a melhor solução para o lugar e, igualmente, uma mais valia para a equipa. Valdés aparece nesta fase como mais uma solução individual de elevado rendimento, numa equipa de quem, muito se diz e escreve, não ter qualidade individual para lutar pelo título. Esta é uma ideia que não partilho, em absoluto. Não digo que o Sporting tenha melhores recursos individuais do que Benfica e Porto, mas tem-nos suficientes para exigir bem mais do seu rendimento colectivo. Tem, por exemplo, um plantel muito melhor do que anos anteriores. É só uma opinião...



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