- Começando pelo Sporting, e pela percepção de que terá superado as expectativas. A observação “superado a expectativas” é correcta. O ponto que quero deixar, porém, tem a ver com as "expectativas" e forma emotiva como elas são formuladas. Ou seja, é comum em clássicos exagerar-se nas diferenças que se estimam entre rivais. Um "grande" - neste caso, o Sporting - estando bem ou mal, tem sempre um nível muito mais elevado que a média da Liga. Faz sentido esperar-se a superioridade de uma das partes, mas é irrealista ter-se em mente um desequilíbrio constante no balanceamento do jogo. É também por este constante desajustamento das expectativas que tantas vezes os clássicos surpreendem.
- O que fez Couceiro? Manteve a estrutura, até o onze, mas mudou alguns detalhes relevantes para a abordagem feita pelo Sporting. A saber, o posicionamento em organização defensiva, com um bloco mais expectante e baixo e uma maior protecção dos corredores, aproximando, posicionalmente, extremos de laterais. Matias ficava com Postiga, algo isolados no pressing mais alto, que geralmente tentou apenas orientar a saída de bola contrária. Depois, com bola, todas as energias depositadas em ataques rápidos nascidos em situações de transição. Em ataque posicional e posse, o menor risco possível. Muita prudência, no fundo.
- O Benfica, foi o habitual, voltando a evidenciar os comportamentos que aqui descrevi nos últimos jogos, nomeadamente a opção pelos corredores laterais para a saída de bola. Tal como contra o Marítimo, a equipa sentiu algumas dificuldades em sair das situações criadas nas ala. A bola entrava sempre no extremo e raramente encontrava o apoio interior do avançado. Daí, a maior dificuldade de progressão e de impor maior domínio em grande parte do jogo. Porque a postura e concentração táctica - nomeadamente na protecção dos corredores - do Sporting nunca se alteraram.
- O que definiu o jogo? Bom, para além das bolas paradas na primeira parte, claramente o último quarto de hora. Foi aí que o Benfica forçou, ou que, noutra perspectiva, o Sporting se encolheu. O aspecto decisivo nesse período foram as bolas divididas e o posicionamento para as segundas bolas. O Benfica ganhou praticamente todas e forçou ataques rápidos consecutivos que colocaram, como nunca, a retaguarda leonina sob constante sobressalto. Volto a reforçar ideia, porque dificilmente alguém a repetirá como factor essencial nessa etapa final: o posicionamento para as sucessivas segundas bolas ganhas pelo Benfica, foi o que desencadeou as sucessivas aproximações encarnadas à baliza de Patrício, na recta final.
- O jogo foi, sem dúvida, equilibrado durante grande parte do tempo. A melhor qualidade do Benfica, porém, ficou clara em vários pormenores. Pormenores colectivos e não individuais, de onde invariavelmente se tenta partir para explicar toda e qualquer diferença entre estas equipas. A saber: (1) Saída no momento transição, com o Benfica a conseguir ser muito mais rápido e esclarecido a tirar a bola de pressão e a desdobrar-se em ataques rápidos de elevada presença ofensiva (coisa que o Sporting nunca fez, atacando sempre com pouca gente). (2) posicionamento, já abordado, para primeiras e segundas bolas, quer em situações de área, quer na sequência de pontapés longos. Enquanto que Cardozo procura tocar para uma segunda bola, Postiga parece sempre querer conseguir a missão quase impossível de ficar com a bola dominada. (3) Posse e ataque posicional. O Benfica tem os seus defeitos neste momento, mas tem também a sua força e identidade. O Sporting, não. Não tem, nem identidade, nem qualidade para poder sequer atrever-se a confiar na sua posse num jogo como este.
- No meio de tantas vantagens colectivas, o Benfica continua a repetir perdas em zona de construção. Mesmo protegendo melhor o corredor central e Javi através do seu recuo deste para junto dos centrais, as perdas continuam a acontecer...