31.3.11

Selecção: notas individuais da preparação

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Laterais - Provavelmente como nunca, a Selecção está carregada de boas soluções para as laterais. A situação tem, na minha opinião, muito que ver com uma aposta em características de maior agressividade, maior reactividade e profundidade. Características que dão outra vida ao corredor. O que ganha a equipa com este perfil? Qualidade técnica, profundidade e presença em transição. O que perde? Essencialmente, alguma dificuldade posicional de jogadores normalmente adaptados à função. Isso, porém, não chega para que se peça outro perfil, especialmente num modelo que faz do pressing e da reactividade as suas traves mestras no capítulo defensivo. E as soluções, como referi, são óptimas e em quantidade: Coentrão, Duda, João Pereira, Bosingwa, Sílvio, Nelson, etc...

Centrais - Outro sector que, com laterais e extremos, poucas Selecções no mundo conseguem rivalizar. São tantas as escolhas, que o mais importante é haver algum cuidado com os ajustes individuais de cada solução. Isto porque, se é possível jogar com várias duplas de enorme qualidade, é preciso ter em atenção às diferenças de características de alguns jogadores. Por exemplo, entre Pepe e Bruno Alves - duas excelentes opções - há algumas diferenças na forma de abordar o posicionamento e o jogo em antecipação. O mais importante, por isso, é garantir a coerência colectiva, independentemente das opções escolhidas em cada momento.

Médios - Aqui surge o primeiro problema, mas talvez seja melhor começar por abordar a característica colectiva desta "era Paulo Bento". Como sempre, pede-se qualidade técnica, quer na circulação, quer na ligação com a zona de finalização. A grande característica, porém, é (e de novo!) a reactividade, a intensidade e lucidez posicional. Para interpretar este modelo, é preciso reagir rápido, agressivo e bem, em cada momento. Aí, há dois jogadores que estão a dar muito a esta equipa: Meireles e Moutinho. Meireles, porque tem uma excelente noção posicional e uma orientação decisional muito vertical. É uma espécie de libero da linha média e da primeira zona de pressão e a equipa ganha imenso com a sua presença nesse papel, porque invariavelmente lê e decide bem onde tem de estar, quando tem de estar. Depois Moutinho, com algumas diferenças em relação a Meireles: mais seguro em posse e menos vertical. Mas, com idêntica intensidade, reactividade e cultura posicional. Sobra um jogador, e Paulo Bento tem tentado introduzir uma característica mais criativa e mais virada para o último passe. Martins ou, agora, Micael. O problema destas soluções é a tal intensidade sem bola de que a equipa tanto depende. Não há muito melhores alternativas. Ou se opta por este perfil, ou se tenta algo diferente, com opções de menor orientação criativa, mas mais "nervo" e intensidade. Entre todas, há um nome que entendo ter enorme potencial, mas que precisa de ser testado em relação à sua evolução no capítulo da segurança em posse: Manuel Fernandes.

Extremos - O problema existe sempre que faltar Ronaldo ou Nani. Não é um problema de falta de qualidade, mas, antes de desnível. Um problema que vem da qualidade excepcional de Ronaldo e Nani. É que Danny, Varela ou Quaresma são óptimas opções, apenas não atingem o patamar dos outros dois. Entre as opções, a que mais me agrada é Danny. Ainda que tenha um perfil diferente dos outros, mais móvel e menos forte em situações de corredor. Ainda nestas opções, um caso interessante é Quaresma. Um talento puro e facilmente detectável, mas cujo rendimento frequentemente é confundido com a exuberância estética do seu jogo.

Avançados - O outro problema. Nenhuma das soluções para já testadas (Almeida e Postiga) está ao nível da restante equipa. São boas soluções, sim, mas não do nível da restante equipa, na minha opinião. Entre os dois, em termos defensivos não há grandes diferenças (fora o jogo aéreo nas bolas paradas, evidentemente). Em termos ofensivos, há, a meu ver, algum exagero em algumas avaliações e comparações entre os dois. Nem Hugo Almeida é um jogador muito mais forte do que Postiga na finalização, nem Postiga faz tanta diferença no jogo exterior, como se diz. Almeida é sobretudo uma mais valia nas primeiras bolas, onde é muito forte como "pivot" (desde logo, uma vantagem pouco contemplada, mas importante, no jogo exterior). De resto, na área, tira, evidentemente, partido da sua estatura, mas não tem movimentos muito fortes na resposta a cruzamentos. Falta-lhe, até, alguma cultura nesse aspecto, porque um jogador com a sua capacidade física deveria ser mais fortes a fugir nas costas dos centrais e em movimentos ao segundo poste, coisa que não se vê muito em Hugo Almeida. Quanto a Postiga, é, de facto, um jogador bastante forte tecnicamente, mas tem algumas dificuldades no choque e perante marcações mais físicas, o que lhe faz perder capacidade em muitas situações de jogo exterior. A zona onde é mais forte, a meu ver, é nos movimentos sobre os corredores, situação que Portugal pode tirar partido pela complementaridade que Ronaldo oferece na zona de finalização. Nesta equação, é claro, falta Liedson. Para já fora das contas de Paulo Bento, não me são sugeridas grandes dúvidas de que seria a mais valia que poderia representar. Não no jogo em apoio, mas na capacidade de pressão e na dificuldade acrescida que oferece à marcação, quer fora, quer dentro da área. Seria interessante que fosse experimentado antes do Europeu...
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