23.12.10

Setúbal - Sporting: Análise e números

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O rebentar de uma “bolha”. Ao analisar este jogo não pude deixar de me lembrar da filosofia de Georges Soros sobre a reflexividade nos mercados financeiros. É que se, à partida, o valor das equipas em nada ficaria influenciado pelo resultado do último jogo, a verdade é que o seu desempenho foi claramente condicionado pelo efeito que esse acontecimento teve nos jogadores de ambas as equipas. De um lado, um Vitória iludido e com uma imagem sobrevalorizada de si próprio. Do outro, um Sporting consciente de que só com esforço máximo poderia sair vencedor. Como o valor potencial – e ao contrário do que até chegou a ser sugerido – não é comparável, o resultado foi um desnível acentuado e uma das mais fáceis vitórias do Sporting na temporada.

Notas colectivas
Um dado que mais do que provavelmente terá escapado à maioria é que este foi o jogo da Liga em que o Sporting completou menos passes e aquele em que menor sequência percentual deu às suas posses de bola. Como se explica? Na verdade, parece-me muito simples. Tendo mais capacidade de recuperação (muito por culpa do Vitória) e possibilidade de sair em ataque rápido, o Sporting ganhou verticalidade e objectividade, algo que lhe faltou na maioria dos jogos. A gestão da posse e da bola é um meio e não um fim do jogo. Ou seja, a sua qualidade mede-se não por uma comparação quantitativa mas pela utilidade da sua consequência.

No Sporting, há que falar do regresso a uma estrutura já utilizada numa fase anterior. Como sempre, far-se-á uma ligação umbilical entre a mudança de sistema e o sucesso, mas, como sempre também, sou completamente contrário a essa ideia. Primeiro, porque não é um sistema ou uma estrutura que, por si só, define qualidade. Depois, porque o próprio Sporting não tem especial qualidade colectiva dentro desta versão.

Dito isto, importa também referir que, sem grande qualidade colectiva, talvez seja esta uma das fórmulas que mais ajuda a atenuar as dificuldades colectivas da equipa. Não tanto pelo sistema, mas mais pelas unidades que foram escolhidas. Liedson e João Pereira dão uma capacidade de trabalho incomparavelmente maior à equipa, garantindo muito mais recuperação e intensidade em todos os momentos (ajudando a disfarçar o problema do "pressing"). Valdes tem um nível de rendimento radicalmente díspar jogando a ala ou numa posição mais livre. A qualidade e intensidade dos médios não obriga à utilização de 3 jogadores nessa zona. Seja como for, o ideal seria, e continua a ser, que Paulo Sérgio estabilize numa estrutura e que a tente fazer evoluir, corrigindo defeitos e potenciando virtudes. Enquanto isso não acontecer, não haverá qualquer hipótese de melhorias significativas. Digo eu...

Notas individuais
Abel – É pena não ser um jogador com mais capacidade no plano físico e técnico, porque, de resto, entende muito bem o jogo. Tanto a nível ofensivo como defensivo, interpreta e antecipa muito bem o seu tempo de abordagem nas acções e isso valeu-lhe, por exemplo, um jogo muito interventivo ao longo do corredor.

Evaldo – É um pouco a antítese de Abel. Tem aptidões físicas e técnicas muito mais fortes, mas não consegue ser um jogador dominador na sua zona porque não antecipa devidamente os lances. É uma tendência que se repete há muito: Evaldo é um jogador válido porque é regular e consistente (algo que o Sporting não tinha há muito nesta posição), mas está muito longe de ser uma mais valia.

Carriço – Voltou a fazer um jogo excelente, provando que está numa fase ascendente de forma. Apesar de nunca ter cometido os mesmos erros que os seus companheiros de sector, digo para ele o mesmo que para os outros: numa equipa melhor organizada defensivamente, o seu valor seria muito mais reconhecido.

Maniche – A renovação, o bilhete de identidade e, até, a aparência física, trazem-lhe muitas antipatias. O facto é que Maniche continua a ter um rendimento excepcional no Sporting. Por exemplo, André Santos, que tem merecido muito mais elogios não tem, nem de perto, um rendimento semelhante. E isto não é nenhuma critica a André Santos.

Valdes – Não fez um jogo tão bom como noutras ocasiões em que jogou na mesma posição, mas voltou a estar muito melhor do que quando joga na ala. Isto, ainda que tenha perdido muito fulgor na segunda parte. Neste momento, e a jogar nesta posição, é uma mais valia incontornável para Paulo Sérgio.

Djalo – É um jogador estranho, Yannick. Tantas vezes aparenta fragilidades técnicas e, de repente, consegue golos de notável execução. Foi o caso do primeiro que marcou, e está longe de ser exemplo raro. Não consigo explicar o fenómeno, mas sei que fora os golos o seu rendimento não foi dos melhores.

Liedson – Volto a reforçar a importância que tem no jogo da equipa, sobretudo quando não o prendem à frente. Em Setúbal não fez golos e nem sequer andou lá muito perto, mas foi um elemento altamente relevante pelo trabalho que desempenhou em todas as zonas do campo. Quem joga na sua posição está, normalmente, dependente do jogo que a si chega e pouca produtividade consegue para além do que se passa na sua zona. Liedson não é assim e seria útil para Paulo Sérgio perceber a mais valia que isso representa.

Zeca – Voltei a acompanhá-lo de forma detalhada, tal como na segunda parte no Dragão. Não percebo como não é titular indiscutível desta equipa. São poucos minutos de análise, mas julgo não me vir a enganar se disser que tem qualidade mais do que suficiente para jogar no top 5 do futebol português. Nível de “grande”? Não posso jurar com tão pouco tempo, mas é bem capaz...



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