14.12.10

O meio campo portista (Moutinho, Belluschi e Micael)

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Há algum tempo que me venho referindo às qualidades e especificidades dos médios portistas – sobretudo Moutinho e Belluschi – e creio que, de facto, há lugar para uma análise comparativa mais alargada. Não só ao perfil destes 2, mas também ao do outro concorrente: Ruben Micael. São, antes de mais, 3 opções de qualidade, sendo até de lamentar que só 2 dos 3 possam jogar com mais regularidade. Mais curioso, porém, é verificar que Villas Boas tem, para além de qualidade, alguma diversidade nas soluções que lhe são oferecidas por estes 3 elementos.

Belluschi – Conheço-o desde os tempos do River, mas só há pouco tempo me apercebi de algumas das suas qualidades. Belluschi, está fácil de ver, é um jogador fortíssimo na definição no último terço. Mesmo genial, em vários momentos. O que Belluschi tem escondido é uma capacidade de trabalho fora do vulgar. Agressividade e reactividade fantásticas que fazem dele um elemento valioso no “pressing” e um improvável recuperador de bolas. Aliás, não tendo o mesmo sentido táctico no que respeita aos equilíbrios posicionais, Belluschi é mesmo substancialmente mais eficiente no trabalho sem bola do que o próprio Moutinho. O que não diz mal do português, mas bem do argentino.

O ponto fraco de Belluschi está no critério com bola em zona de construção. Nem sempre revela a concentração devida e muitas vezes força em demasia a jogada vertical, acabando por retirar segurança e continuidade à posse. É um problema que tem sido atenuado pelo trabalho colectivo, mas que emerge sobretudo nos jogos de maior carga emocional, onde a displicência também aumenta.

Moutinho – Já tenho falado muito do que entendo ser o seu perfil e os dados estatísticos ajudam, a meu ver, a explicar essa opinião. Ou seja, Moutinho é um jogador de consistência absoluta, de grande qualidade técnica, com grande atitude e lucidez táctica, mas também sem uma característica que o torne um notável desequilibrador ou um feroz recuperador. A virtude mais excepcional de Moutinho, porém, será mesmo a fiabilidade que oferece à equipa e a quem a comanda. É que quando Moutinho entra em campo, seja com o melhor ou pior dos adversários, o seu rendimento é garantido. Com rendimento elevado e sem oscilações só espantaria se abdicassem dele.

Ruben Micael – Micael será aquele que em condições menos favoráveis parte para esta análise porque, obviamente, o tempo de observação é muito menor. Ainda assim, há dados que não enganam. A virtude de Micael é a visão. Raramente lhe vemos uma opção errada e frequentemente parece antecipar o melhor destino que deve dar à jogada, seja coma bola nos pés ou em movimentos sem bola. Por isso tem uma sequência de posse tão elevada e por isso, creio, seria também um jogador mais desequilibrador caso tivesse jogado mais tempo.

O outro lado de Micael, aquele onde inegavelmente perde para Moutinho e Belluschi, está na capacidade de trabalho. A sua agressividade não é minimamente semelhante à dos seus 2 companheiros e Ruben não consegue, nem de perto, os mesmos níveis de eficiência de Moutinho e Belluschi em termos de trabalho defensivo.



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